Sem professores
Educação a distância ganha espaço no País e atrai alunos mais velhos, com perfil autodidata e que não sentem falta de estar em uma sala de aula
Quando se fala em educação a distância (EAD) pode-se pensar em algo que surgiu recentemente, com o advento da internet e a facilidade de comunicação que as novas tecnologias trouxeram. Mas na verdade se trata de uma ideia mais do que centenária. O primeiro registro é de 1728, em Boston, nos Estados Unidos. No Brasil, chegou em 1904.
Com o rádio e depois a televisão, o País ofereceu o que havia de mais moderno na modalidade, ainda não para graduação. Mas, atualmente na era da internet, ainda não usa todo o potencial da EAD, como ocorre nos Estados Unidos e em países da Europa e da Ásia, conforme aponta o presidente da Associação Brasileira de Educação a
Distância (Abed),
Fredric Litto. “Felizmente tem uma nova leva de gerentes no Ministério da Educação que estão flexibilizando as regras antigas”, diz. “Daqui a pouco não vai mais se falar em presencial e a distância, vai ser tudo educação”, afirma o presidente da Abed.
Uma maior abertura deve beneficiar ainda mais estudantes. De acordo com o coordenador do curso Licenciatura em Pedagogia do Senac, Caio Augusto Carvalho Alves, o perfil do aluno de educação a distância é variado, mas há muitas pessoas mais velhas, que já trabalham e que percebem a importância de ter uma graduação. Sem tempo ou sem a proximidade de uma faculdade, optam pela modalidade EAD.
“Os alunos que ingressam na educação a distância têm a vantagem de flexibilizar o tempo de aprendizado, que é algo muito discutido na educação hoje, já que cada aluno tem seu tempo para aprender”, afirma o coordenador do curso do Senac. “EAD é algo que beneficia justamente o aluno que precisa estudar em horários alternativos.”
É o caso de Joyce Poplavski, de 32 anos. Policial militar, já formada em Direito, hoje ela faz o curso de educação a distância em Pedagogia da Universidade Anhembi-Morumbi. “É bem completo e eu consigo um resultado bastante satisfatório devido à minha facilidade em cumprir prazos”, conta. “A única coisa que eu sinto falta, talvez, seja de ter colegas. Uma sala de faculdade acaba muitas vezes virando uma família”, brinca a estudante.
Já Élida Dolores Miranda Santos, de 25 anos, que também faz Pedagogia a distância pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, não sente nem mesmo falta de contato mais próximo com um professor. “Às vezes tenho mais dificuldade com a ferramenta, mas todas as vezes em que mandei e-mail para o professor, fui respondida. Não sinto falta do contato direto”, afirma.
Se EAD é tão frágil, tão classe secundária como argumentam, eu pergunto por que (as universidades
de) Harvard, Oxford, Cambridge, todas têm cursos a distância? Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância
“Educação a distância não serve para tudo, tem seus defeitos. Para cursos de Saúde, em que se tem de colocar a mão na massa, por exemplo. Mesmo alguns alunos. Alguns deles precisam do professor fisicamente. O bom candidato para o EAD é autodidata”, explica o presidente da Abed.
Resistência. Litto considera que certos cursos a distância já são até mesmo superiores aos cursos presenciais. Para ele, uma boa aula com um professor fisicamente presente depende do “humor” do docente, a capacidade que, naquele dia, ele vai ter para envolver a classe no conteúdo apresentado. Já em um ambiente virtual, essa variável não existe. “EAD não é feita por um único professor. Às vezes temos mais de 20 pessoas criando as aulas. Tem equipe de vídeo, avaliação de gráficos. A inspiração da EAD está embutida dentro do curso”, defende o presidente da Abed.
A resistência, na visão dele, acontece mais por causa de um certo “protecionismo” do que por falhas na educação a distância: “Querem dar aula do jeito que sempre fizeram. Olham para o passado, não para o futuro.” /Gustavo Zucchi, especial para o Estado