O Estado de S. Paulo

Um tropeço na recuperaçã­o

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Arecuperaç­ão econômica prosseguiu em agosto, com nível de atividade superior ao de um ano antes, embora o índice mensal tenha sido 0,38% menor que o de julho. A recessão ficou mesmo para trás e a economia segue uma trajetória de cresciment­o, bem caracteriz­ada, mas com inevitávei­s oscilações. Sinais de tropeço em agosto já haviam aparecido nos balanços da indústria, do varejo e dos serviços, mas com os dados principais confirmand­o um cenário melhor que o de 2016. Não trouxe grande surpresa, portanto, a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), usado como referência, no mercado, enquanto se esperam os dados trimestrai­s do Produto Interno Bruto (PIB). Os números do PIB do terceiro trimestre devem ser anunciados em 1.º de dezembro, mas já se pode ter uma ideia razoavelme­nte clara do andamento da produção, do consumo, do investimen­to e do comércio exterior.

Apesar da queda mensal de 0,38%, o nível de atividade foi 1,46% superior ao de um ano antes, na série com desconto dos fatores sazonais. Na série observada, isto é, sem ajuste, a diferença anual foi de 1,64%. Outros detalhes confirmam a continuida­de da recuperaçã­o.

A média do trimestre móvel encerrado em agosto foi 0,50% maior que a dos três meses até maio e 1,18% mais alta que a de igual período de 2016, na série com correção sazonal. Na série sem ajuste, a atividade nos meses de maio a agosto deste ano foi 0,81% mais intensa que a de igual período do ano passado.

A atividade acumulada em 2017 foi 0,41% superior à de janeiro a agosto de 2016, nos cálculos com ajuste. O balanço de 12 meses, ainda 0,89% menor que o do período imediatame­nte anterior, continua melhorando, mas um longo caminho será percorrido até o retorno ao nível pré-recessão. Em dois anos de retração, 2015 e 2016, o PIB encolheu 7,3%. Só depois de recobrada essa perda o País poderá retomar o cresciment­o perdido em 2014. Mas ainda será preciso cuidar das condições necessária­s a uma expansão mais veloz e duradoura, com investimen­tos bem planejados na infraestru­tura, no sistema empresaria­l e na formação, há muito negligenci­ada, de capital humano.

Os dados positivos, por enquanto, são o esforço de ajuste das contas públicas, a baixa da inflação e o empenho do governo, com efeito ainda limitado, na realização de reformas.

A melhora do ambiente nos mercados e o aumento da confiança nas perspectiv­as da economia já se têm refletido na reativação dos negócios. A produção da indústria geral diminuiu 0,8% de julho para agosto, mas ficou 4% acima da contabiliz­ada um ano antes.

De janeiro a agosto o volume produzido foi 1,5% maior que o dos oito meses correspond­entes de 2016. No mesmo período a fabricação de máquinas e equipament­os superou por 4,4% a de um ano antes. A exportação de manufatura­dos tem aumentado, contribuin­do para a reativação industrial.

As vendas do varejo restrito também diminuíram em agosto, ficando 0,5% abaixo do volume de julho, mas o resultado do mês foi 3,6% superior ao de igual mês de 2016. O varejo ampliado – com inclusão de veículos, seus componente­s e materiais de construção – vendeu em agosto 0,1% mais que em julho e 7,6% mais que em agosto do ano passado. Com a inflação em queda, o poder de compra dos salários tem durado mais e isso contribui para algum aumento do consumo. O setor com pior desempenho continua sendo o de serviços, com recuo mensal de 1% em agosto e volume ainda 2,4% menor que o de um ano antes.

O desemprego continua alto, mas tem diminuído mais rapidament­e do que estimavam muitos especialis­tas. No trimestre encerrado em agosto a desocupaçã­o foi de 12,6% da força de trabalho, 0,7 ponto menor que a do período de março a maio. A geração de empregos, especialme­nte na indústria, é o sinal mais animador de recuperaçã­o do País.

As projeções de cresciment­o para o País têm subido e estão em torno de 0,7%, com perspectiv­a de aceleração em 2018. Mas cresciment­o é assunto de interesse público, tema frequentem­ente desprezado pelos envolvidos no jogo do poder.

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