O Estado de S. Paulo

Para Moro, futuro da Lava Jato depende da sociedade

Pesquisa Ipsos revela que 94% defendem continuaçã­o da operação, mas 40% acham que acabará em pizza

- Gilberto Amendola

O sucesso da Operação Lava Jato dependerá da reação da sociedade daqui para frente. É o que acredita o juiz federal Sérgio Moro. Para ele, as causas da corrupção não foram enfrentada­s pelas lideranças políticas e permanece o loteamento de cargos públicos, que está na origem dos crimes na Petrobrás. “Se houver con- tínua pressão da opinião pública, imagina-se que até mesmo nossas lideranças políticas emperradas terão de adotar uma postura reformista. Mas é frustrante ver como isso é demorado.” O magistrado estará amanhã no Fórum Estadão

Mãos Limpas e Lava Jato. Pesquisa Ipsos Pulso Brasil sobre o futuro da opera- ção mostra que 94% dos brasileiro­s acham que “as investigaç­ões deveriam continuar até o fim, custe o que custar”. Mas, nos últimos três meses, subiu de 19% para 33% a parcela dos que acreditam que a classe política acabará com a Lava Jato e para 40% ela terminará em pizza.

A esperança na Lava Jato continua, mas a percepção de que a classe política vai conseguir pôr um ponto final nas investigaç­ões cresce a cada dia. É o que mostra a mais recente pesquisa Pulso Brasil, do instituto Ipsos, sobre o futuro da maior operação anticorrup­ção já deflagrada no País. “A pesquisa mostra que o anseio por justiça continua sendo melhor representa­do pela Lava Jato, mas, ao mesmo tempo, indica que a população não está indiferent­e ao poder de reação do mundo político aos seus desdobrame­ntos”, disse o diretor da Ipsos Public Affairs, Danilo Cersosimo.

Entre os entrevista­dos, 94% disseram que “a Lava Jato deveria continuar com as investigaç­ões até o fim, custe o que custar”. Ao mesmo tempo, de julho para setembro, cresceu de 19% para 33% o índice dos que acreditam que “a classe política vai acabar com a Lava Jato”.

Além disso, a pesquisa apontou em setembro que, para 76% dos entrevista­dos, a operação “vai fortalecer a democracia no Brasil”. Embora a crença no poder transforma­dor da Lava Jato ainda seja significat­iva, ela já foi maior. Em maio, 86% se diziam confiantes na contribuiç­ão da operação para o amadurecim­ento da democracia no País.

Ainda segundo o levantamen­to, 71% concordam que a Lava Jato pode transforma­r o Brasil em um País sério. Mais da metade dos entrevista­dos (56%) acreditam que a operação está investigan­do todos os partidos – mas 40% já sentem o cheiro de “pizza” saindo do forno.

Para o cientista político Vitor Oliveira, da consultori­a política Pulso Público, o desejo quase que unânime de que a operação “continue até o fim, custe o que custar”, remonta aos primeiros dias do movimento pró-impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff. “Esse desejo ainda é resquício daquilo que parecia ser um dos poucos consensos na sociedade: a importânci­a da Lava Jato. A operação sempre esteve acima das instituiçõ­es que ela investigou e investiga. Por isso, ainda guarda esse prestígio entre a população.”

Apesar do “prestígio”, Oliveira se concentrou no dado que aponta a percepção popular de um contra-ataque político em relação aos desdobrame­ntos das investigaç­ões. “A ideia de que a Lava Jato não vai atingir os políticos começa a crescer quando a operação esbarra no foro privilegia­do, quando esbarra em nosso próprio sistema e na lentidão dos julgamento­s.”

“É evidente que a tramitação no Supremo Tribunal Federal é diferente do que acontece em Curitiba, com o juiz Sérgio Moro (que conduz a Lava Jato na primeira instância). Às vezes, isso causa confusão na população, que acaba entendendo que a própria Lava Jato estaria fraquejand­o na hora de condenar os políticos”, afirmou Oliveira.

Lula. Já para o cientista político e professor do Mackenzie Rodrigo Augusto Prando, a percep- ção de que o mundo político pode frear a Lava Jato pode ser ilustrada com o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Veja o caso do ex-presidente. Embora condenado em primeira instância, ele continua livre e fazendo campanha pelo Brasil contra a própria Lava Jato. Isso é muito forte. A Lava Jato colocou empreiteir­os na cadeia, mas não conseguiu que Lula se tornasse um indivíduo como outro qualquer e fosse preso.”

Prando ainda citou outros fatores para que o receio de que a Lava Jato termine esmagada pela política cresça. “Além do Lula, o excesso de ativismo do Judiciário também trouxe desgastes à operação. Também podemos colocar nesse pacote as ações do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. A forma como a delação dos irmãos Batista da JBS foi tratada serviu para o desprestíg­io da investigaç­ão”, afirmou.

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), disse que os resultados da pesquisa mostram que a Lava Jato se prolongou demais. “Apesar da duração da operação, a população ainda não viu uma melhora do quadro político – e até alguns apoiadores ferrenhos da Lava Jato já foram pegos em casos de corrupção”, afirmou. “Então, começa a arrefecer a sensação de que a Lava Jato pode acabar com os abusos da classe política. Ao contrário, aumenta a sensação de que a classe política é quem vai triunfar.”

A pesquisa ouviu 1.200 pessoas entre 1.º e 12 de setembro. “É provável que as próximas pesquisas ainda mostrem um cresciment­o desse receio de que a classe política acabe com a Lava Jato. Fatores como a recusa em aceitar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e a vitória do senador Aécio Neves no Senado podem aumentar a desconfian­ça da população”, disse Cersosimo.

“A ideia de que a Lava Jato não vai atingir os políticos cresce quando a operação esbarra no foro privilegia­do.” Vitor Oliveira

CIENTISTA POLÍTICO

“A Lava Jato colocou empreiteir­os na cadeia, mas não conseguiu que Lula se tornasse um indivíduo como outro qualquer.” Rodrigo Augusto Prando

CIENTISTA POLÍTICO

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MARCIO FERNANDES/ESTADÃO - 4/3/2016 ‘Impune’. Apesar de condenado, Lula está fora da cadeia, diz professor
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FONTE: IPSOS PUBLIC AFFAIRS INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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