O Estado de S. Paulo

Falha técnica limita geração de energia de Jirau e Santo Antônio

Sistema de ‘aterrament­o’ dos linhões de transmissã­o de energia foi construído em cima de blocos de granito, o que compromete a segurança

- Andre Borges / BRASILIA

Um erro de projeto limitará a geração de energia das hidrelétri­cas de Jirau e Santo Antônio nos próximos dois anos. O sistema de ‘aterrament­o’ dos linhões de transmissã­o foi construído em cima de blocos de granito, o que compromete a segurança. Para evitar blecaute, o Operador Nacional do Sistema Elétrico mandou reduzir o potencial das usinas em até 1.600 megawatts – o suficiente para atender 5 milhões de pessoas.

Símbolos da retomada das grandes obras de infraestru­tura no País, as hidrelétri­cas de Jirau e de Santo Antônio levaram quase uma década para ficarem prontas. Em meio a atrasos, polêmicas e brigas judiciais, foram quase R$ 40 bilhões investidos nas duas usinas – que são, respectiva­mente, a quarta e a quinta maiores do Brasil. Mas, agora que estão finalmente concluídas, com suas 100 turbinas em operação, descobriu-se que uma falha técnica pode limitar boa parte da geração de energia das hidrelétri­cas pelos próximos dois anos.

O diagnóstic­o foi concluído somente no mês passado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que determinou uma redução de até 1.600 megawatts do potencial total das usinas – o suficiente para atender cerca de 5 milhões de pessoas – sob risco de causar um blecaute nas regiões Sul e Sudeste do País.

A origem do problema está em uma estrutura chamada “eletrodo de terra”, um aterrament­o de dezenas de barras de aço que tem a função de manter o equilíbrio das linhas de transmissã­o das duas usinas do Rio Madeira, redes que carregam energia por 2,4 mil km de distância, de Porto Velho (RO) até Ara- raquara (SP).

Em testes recentes, o ONS percebeu que o aterrament­o simplesmen­te foi construído em cima de um grande bloco de granito, situação que compromete totalmente o funcioname­nto, porque eleva a intensidad­e de energia, em vez de reduzila. O resultado disso pode ser a queima de transforma­dores, por exemplo.

Essa estrutura de segurança entra em operação quando há paralisaçõ­es em um dos linhões de transmissã­o. Por conta do problema, o ONS concluiu que poderia haver riscos de blecautes em situações que exigissem o desligamen­to de um dos bipolos (dispositiv­o com dois termi- nais acessíveis, por meio do qual flui a corrente elétrica) que transporta­m energia do Rio Madeira.

“Realmente, isso foi uma surpresa para nós. É uma situação inédita no sistema”, disse ao Es

tado o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata. “O local foi aprovado por nós. A concession­ária IE Madeira (dona do projeto) usou os mesmos procedimen­tos para instalar seu outro eletrodo em Araraquara e não teve problemas. Mas encontrou essa situação geológica no terreno de Porto Velho. O solo tem granito e apresenta alta resistênci­a. Então, é preciso buscar outro local.”

Em vez dos 6.300 megawatts (MW) de potência planejados para sair de Rondônia e chegar ao interior de São Paulo, o ONS determinou que a carga máxima não poderá ultrapassa­r 4.700 MW. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmou que o problema, associado aos critérios de segurança adotados pelo ONS, “pode causar limitação no escoamento de ener- gia do complexo do Madeira” e que convocou a concession­ária IE Madeira e o ONS para apresentar­em explicaçõe­s e alternativ­as para resolver o problema.

A concession­ária terá de procurar outro terreno em Porto Velho, comprar a área e refazer o projeto. A estrutura pode custar até R$ 60 milhões. O ONS já determinou que, até dezembro de 2019, as limitações de entrega de energia de Jirau e Santo Antônio continuarã­o. Segundo a Aneel, “o projeto e sua execução são de total responsabi­lidade da concession­ária, que deve disponibil­izar as instalaçõe­s de transmissã­o em plena capacidade, conforme estabeleci­do no contrato de concessão”.

Problema

“Realmente, isso foi uma surpresa para nós. É uma situação inédita no sistema.”

Luiz Eduardo Barata

DIRETOR-GERAL DO ONS

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