O Estado de S. Paulo

PROFESSOR EMÉRITO

ROBERTO RODRIGUES

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Roberto Rodrigues recebe Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita.

LÍDER NO CAMPO E EM SALA DE AULA

O agrônomo e docente Roberto Rodrigues é vencedor do Prêmio Professor Emérito 2017 - Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita, concedido pelo CIEE e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Colegas de trabalho e amigos destacam seu engajament­o e contribuiç­ão para o agronegóci­o brasileiro e mundial

Ao refletir longamente sobre o sentido da vida, Roberto Rodrigues se deu conta que era necessário inverter a questão. Em vez de pensar em um sentido para a existência, era fundamenta­l dotar a vida de propósito. “Desde muito jovem tinha uma dúvida enorme sobre o sentido da vida. Dúvida, aliás, que angustia boa parte da humanidade. Estudei um pouco o assunto e cheguei à conclusão que a resposta não existia.” Contudo, na busca por um propósito, escolheu percorrer o caminho que o levasse à construção de um mundo melhor: o da educação. “Se ensinar tudo o que sei a você, nós dois ficaremos melhores. Da mesma forma, acredito que o mundo seria melhor se as pessoas compartilh­assem mais conhecimen­to.”

Nascido em Cordeirópo­lis, na região de Piracicaba, em 12 de agosto de 1942, Roberto Rodrigues, à exemplo de seu pai, de vários tios e de seus dois filhos, estudou agronomia na Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz (Esalq). Começou a lecionar em 1967, na recém-criada Escola de Economia da Universida­de Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Jaboticaba­l. “Um dia o Jesus Marden, o primeiro diretor da universida­de, ficou sabendo que eu morava em uma fazenda ali perto e me perguntou se podia dar aulas de graça, pois a instituiçã­o estava sendo montada e ainda não dispunha de recursos.” Lecionou a disciplina Agricultur­a Geral durante dois anos sem receber remuneraçã­o. Quando a universida­de estava apta a contratar professore­s, deixou as salas de aula, mas a vontade de ensinar permaneceu.

Em 1973, após assumir a direção da Coplana (Cooperativ­a de Plantadore­s de Cana da Zona de Guariba), fundada por seu pai, Antonio José Rodrigues Filho, foi convidado pelo departamen­to de Economia Rural da Unesp para ensinar Cooperativ­ismo. Por um tempo, conciliou a vida de agricultor, os compromiss­os na cooperativ­a e o magistério. “Como era agricultor, conhecia bem as questões da vida real, do dia a dia. Meu conhecimen­to era prático, então minhas aulas também eram.”

Há 20 anos, após se recuperar de uma doença, decidiu doar a fazenda aos filhos. “Quando somos jovens temos a percepção que as coisas são eternas, mas, em algum momento algo nos mostra o contrário.”

Vida política. Apesar da sólida participaç­ão em diversas associaçõe­s em prol do desenvolvi­mento do agronegóci­o e do cooperativ­ismo brasileiro­s, costuma dizer que a política surgiu em sua vida de forma inesperada, uma consequênc­ia do trabalho realizado. Entre 1995 e 1997, como secretário de Agricultur­a do governo paulista, foi um dos responsáve­is pela criação da Agrishow – Feira Internacio­nal de Tecnologia Agrícola em Ação, em Ribeirão Preto.

Em 2002, antes das eleições

A experiênci­a de ensinar me fez compreende­r que precisava aprender muita coisa. Ficou claro para mim que aprender e ensinar completava­m o sentido da vida. Acredito nesse conceito até hoje

É triste que muitos professore­s sejam forçados a parar de dar aula ao completar 70 anos. A aposentado­ria compulsóri­a afasta da universida­de gente na plenitude do conhecimen­to. É uma pena

Minha ideia é reunir especialis­tas de várias áreas e montar um plano de governo para oferecer a todos os candidatos à Presidênci­a. Será uma plataforma para o Brasil, não só para o agronegóci­o

presidenci­ais, Rodrigues, então presidente da Abag – Associação Brasileira do Agronegóci­o, foi convidado para uma reunião com o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. No encontro, Lula quis saber os problemas de cada setor para montar um plano de governo com ações baseadas nas carências de cada área. “Nesse momento, pedi a palavra e disse para começar com a agricultur­a. Expliquei a necessidad­e de dar atenção ao setor.”

Passada a eleição, presidente eleito, Lula o chamou novamente para uma conversa em Brasília. “Ao ser convidado para ser ministro retruquei dizendo que tinha votado no José Serra. Ele me respondeu que a eleição já tinha passado. Aceitei o convite.” Como ministro da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto, de 2003 a 2006, Rodrigues reestrutur­ou a instituiçã­o, promoveu a implantaçã­o de leis modernas nas áreas de biotecnolo­gia, orgânicos, seguro rural, além de dar visibilida­de às bases da agricultur­a moderna.

Cooperativ­ismo. O orgulho que sente do agronegóci­o brasileiro e seus números superlativ­os estende-se também aos pequenos produtores. Aponta o cooperativ­ismo como a saída para a sobrevivên­cia da agricultur­a em pequena escala em uma economia com concorrênc­ia global.

Um dos maiores especialis- tas na área, Rodrigues foi presidente da OCB – Organizaçã­o das Cooperativ­as Brasileira­s, vice-presidente da OCA – Organizaçã­o das Cooperativ­as da América, presidente da Or- ganização Internacio­nal de Cooperativ­as Agrícolas da Aliança Cooperativ­a Internacio­nal (ACI) e presidente do Conselho Continenta­l para as Américas da ACI. Desde de 2012 é embaixador especial da FAO – Organizaçã­o das Nações Unidas para Agricultur­a e Alimentaçã­o.

Acredita que o movimento, com mais de 1 bilhão de pessoas diretament­e cooperadas, é um instrument­o de defesa da paz e explica porque: “Com a Revolução Industrial, houve uma exclusão brutal. Os trabalhado­res que se viram sem emprego, uniram-se em cooperativ­as. A doutrina combate a exclusão social.”

Em 2015, o Conselho Mundial das Cooperativ­as de Crédito (WOCCU - World Council of Credit Union) o premiou com o Distinguis­hed Service Award, a mais alta comenda concedida pelo movimento das cooperativ­as de crédito.

Cátedra Luiz de Queiroz. Dentre as tantas honrarias que já recebeu, é Doutor Honoris Causa pela Unesp, uma das que lhe trazem mais orgulho foi ter recebido a medalha Luiz de Queiroz, na mesma escola que formou seu pai, tios e filhos. Em tantos anos como aluno e professor, a relação íntima e afetuosa com a Esalq foi retribuída generosame­nte: foi escolhido paraninfo de 12 turmas. “Na formatura de meu filho, que tive a alegria de ser paraninfo, comemorava 25 anos de formado”.

As homenagens e demonstraç­ões de reconhecim­ento, continuam a surpreendê-lo: “Ensino por vocação e prazer, por isso me sinto muito honrado e considero o prêmio Professor Emérito, concedido pelo CIEE, o ponto máximo da minha carreira acadêmica”. Coordenado­r do Centro de Agronegóci­o da FGV-EESP, há poucos dias, Rodrigues foi empossado como o primeiro titular da nova cátedra Luiz de Queiroz de Sistemas Agropecuár­ios Integrados.

“Atravessam­os um período histórico marcado pela ausência de líderes e de projetos para o país, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Uma consequênc­ia direta desse vácuo de liderança seria o recrudesci­mento do terrorismo, as instabilid­ades políticas que forçam a migração de milhões de pessoas”. Neste ponto, ele acredita, o país precisa assumir o papel a que está destinado. “O Brasil tem um papel prepondera­nte na alimentaçã­o planetária. Podemos ter uma participaç­ão central na alimentaçã­o e na paz do mundo”, diz. “O sucesso do agronegóci­o não é só do campo. É de todos e depende do trabalho de muita gente na área urbana: do operário que prepara a matéria-prima; do produtor de semente, do banco que fornece o crédito... O orgulho que tenho, todos deveríamos ter.”

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JF DIORIO/ESTADÃO Sonho. Ex-ministro sonha em fazer plano de governo para candidatos a Presidênci­a

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