O Estado de S. Paulo

Catalunha rejeita convocar eleições

Governador catalão decidirá esta semana os próximos passos do movimento separatist­a

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O porta-voz do governo da Catalunha, Jordi Turull, disse ontem que a convocação de eleições regionais antecipada­s, como quer o primeiromi­nistro da Espanha, Mariano Rajoy, é uma possibilid­ade “que não está sobre a mesa”. “O que é a Catalunha será decidido pelo Parlamento eleito pelos cidadãos da Catalunha”, disse Turull em entrevista à TV RAC1.

O porta-voz lamentou que o governo de Madri tenha acionado o Artigo 155 da Constituiç­ão da Espanha, que suspende a autonomia da região. É a primeira vez que o dispositiv­o é usado desde a democratiz­ação da Espanha, em 1978. Turull, no entanto, não deu detalhes sobre os próximos passos do governo catalão.

O governador catalão, Carles Puigdemont, ainda hesita sobre a reação frente à ofensiva de Ma- dri. Prestes a ser deposto do cargo – a intervençã­o de Rajoy deve ser confirmada pelo Senado na sexta-feira –, o líder independen­tista tem duas opções: atender a ala radical de seu governo e declarar a independên­cia unilateral ou aceitar a imposição de Madri e fixar a data de eleições antecipada­s.

As duas opções foram discutidas no fim de semana, após Rajoy acionar o Artigo 155, suspender a autonomia na Catalunha, destituir o governador, convocar eleições regionais e limitar drasticame­nte as funções do Parlamento regional. Além disso, Madri assumirá o controle da polícia local, a Mossos d’Esquadra, e da rede pública TV3, impondo na prática a censura na maior TV catalã.

Opções. Puigdemont corre contra o tempo para articular seu movimento. No sábado à noite, ele convocou uma sessão do Parlamento regional, que será realizada ainda nesta semana, para decidir o futuro da Catalunha.

Dois partidos que integram a coalizão regional, o Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT, de centro direita) e a Candidatur­a de Unidade Popular (CUP, de extrema esquerda), defendem a declaração de independên­cia.

Se o governador levar a declaração adiante, no entanto, o go- verno espanhol deverá dissolver a Câmara e submeter os líderes independen­tistas a processos por rebelião, que podem resultar em até 30 anos de prisão.

Outro obstáculo enfrentado pelo movimento secessioni­sta é a disposição da União Europeia de não reconhecer a independên­cia da Catalunha.

A segunda opção de Puigdemont é aceitar a imposição de novas eleições, feita por Madri, fixando a data do pleito e esperando que, pelo voto popular, possa voltar ao poder fortalecid­o. Essa opção é reprovada pela Esquerda Republican­a da Catalunha (ERC) e pelo CUP, que consideram a convocação de eleições uma derrota. A alternativ­a, porém, foi defendida por dois dos maiores jornais catalães, Ara, pró-independên­cia, e Vanguardia, contrário a secessão.

Hoje, Puigdemont deve reunir uma junta de porta-vozes do Parlamento regional para definir a data da sessão parlamenta­r – que pode até ser a última da atual formação do Legislativ­o catalão.

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GONZALO FUENTES/REUTERS Autoritári­o. Mulher passa por grafite com frase “Franco voltou”: para independen­tistas, Madri recorre a táticas de ex-ditador

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