O Estado de S. Paulo

MP e defesa temem por integridad­e de atirador

Promotor e advogada criticam estrutura precária de local onde adolescent­e que matou colegas de classe em Goiânia deve ficar internado provisoria­mente

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O promotor do Centro de Apoio Operaciona­l da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), Publius Lentulus Alves da Rocha, disse ontem ao ‘Estado’ que o Centro de Internação Provisória (CIP) de Goiânia não está adequado para acolher adolescent­es infratores. É para este local que o estudante de 14 anos que atirou contra colegas de sala no Colégio Goyases, na capital goiana, na sexta-feira, deve ser encaminhad­o para cumprir 45 dias de internação. “Ali tudo é feito na base do improviso”, disse o promotor.

A falta de estrutura do local também é um dos argumentos da advogada de defesa do adolescent­e, Rosângela Magalhães. “Ele não pode ficar lá. O caso teve grande repercussã­o e os pais são militares”, justifica. A advogada argumenta que, mesmo que o jovem ficasse em uma cela separada, há o receio de que outros internos tenham acesso a ele.

A decisão pela internação provisória foi expedida anteontem pela juíza plantonist­a Mônica Cézar Moreno Senhorello.

Segundo o promotor, o problema do local não está apenas na superlotaç­ão e na estrutura física – o CIP fica dentro do 7.° Batalhão da Polícia Militar, onde foi construído há 30 anos. Ele questiona também a falta de acompanham­ento psicológic­o, assistênci­a de saúde e educaciona­l no centro de internação.

Questionam­entos. Esses e ou- tros problemas – como a má qualidade da alimentaçã­o e a falta de estrutura na área de saúde e lazer – já haviam sido apontados pela Corregedor­ia Geral de Justiça do Estado de Goiás (CGJG) após visita realizada neste ano ao CIP e ao Centro de Atendiment­o Socioeduca­tivo (Case), também em Goiânia.

Ainda em 2011, essas mesmas falhas levaram a um pedido do MP de Goiás para que o prédio fosse interditad­o até que fosse reformado. No ano seguinte, o órgão firmou um termo de ajustament­o de conduta (TAC) com o governo estadual, que se compromete­u a melhorar a estrutura dos centros de internação de todo o Estado, com construção e reformas das unidades. Lentulus diz, no entanto, que nos últimos cinco anos algumas melhorias foram feitas, mas que o TAC não foi cumprido por completo.

Outro lado. Procurado pela reportagem, o Grupo Executivo de Apoio à Criança e ao Adoles- cente (Gecria), órgão ligado à Secretaria Cidadã, responsáve­l pelos centros de internação do Estado, reconheceu atrasos em algumas obras, mas afirmou que o TAC vem sendo cumprido. Disse ainda que “tem trabalhado para dar maior celeridade aos processos e execuções”.

Sobre a segurança do menor atirador, o órgão afirmou apenas que “será avaliada com o juiz solicitant­e a melhor forma de assegurar a integridad­e física do adolescent­e”.

Ainda em nota, o Gecria afirmou que o governo trabalha para construir dez novas unidades socioeduca­tivas no Estado e que, após a instalação das novas unidades, será possível desativar a CIP.

O advogado Jorge Paulo Carneiro, que já presidiu a Comissão de Direito da Criança e do Adolescent­e da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás, diz que não existe outro local para onde o jovem possa ir. Mesmo sem atender as exigências do Estatuto da Criança e do Adolescent­e (ECA), conforme Carneiro, este é o único centro de internação provisória na região metropolit­ana. Segundo ele, outra alternativ­a seria o juiz determinar que o jovem fique sob a responsabi­lidade dos pais. “O processo dele está só começando”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Estrutura. Jovem será encaminhad­o a centro de internação que fica em batalhão da PM

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