O Estado de S. Paulo

Mesmo sem vender ativos, CSN volta a negociar dívidas de R$ 10 bi com bancos

Contas. Apesar de não ter cumprido acordo de se desfazer de ativos relevantes do grupo, Benjamin Steinbruch conseguiu dar início a nova rodada de negociação para alongar débitos que vencem até 2020, incluindo R$ 5,6 bilhões a serem pagos já no início do a

- Luciana Dyniewicz Mônica Scaramuzzo Aline Bronzati

Três anos após firmar acordo para vender importante­s ativos, como contrapart­ida para a renegociaç­ão de débitos, a Companhia Siderúrgic­a Nacional (CSN), de Benjamin Steinbruch, voltou a conversar com bancos públicos e privados. Mesmo sem ter se desfeito dos principais negócios, a companhia está conseguind­o abrir espaço para renegociar as dívidas que vencem entre 2018 e 2020.

Já no início do ano que vem, a siderúrgic­a precisa pagar R$ 5,6 bilhões, dos quais R$ 4,1 bilhões para seus principais credores, Banco do Brasil e Caixa. A CSN deve a esses dois bancos cerca de R$ 10 bilhões que vencem até 2020. O grupo quer empurrar as obrigações para 2021 e 2022, apurou o Estado.

Os bancos públicos são o ponto nevrálgico das novas renegociaç­ões. Segundo fontes, as conversas com credores privados – como Bradesco e Itaú, além de detentores de títulos (bondholder­s) – não encontram resistênci­as. Ainda que a CSN já tenha se sentado à mesa com BB e Caixa, as instituiçõ­es fazem pressão sobre a empresa de Steinbruch, que desde o terceiro trimestre de 2016 não recebe aval da auditoria Deloitte para divulgar balanços de resultados.

A Delloite encontrou erros fiscais na operação Congonhas Minérios – que reúne a mina Casa de Pedra, o terminal Tecar e fatia da ferrovia MRS –, na qual a siderúrgic­a tem sociedade com a asiática Namisa. A expectativ­a era de que o aval da Delloite fosse dado na sexta-feira, mas o relatório ainda não foi concluído, apurou o Estado. Procurada, a Deloitte não comentou.

Com dívida líquida de R$ 26 bilhões no terceiro trimestre de 2016, a CSN não consegue gerar receita suficiente para pagar seus débitos. Para esticar os vencimento­s, a siderúrgic­a precisa, além da autorizaçã­o da Deloitte, mostrar estratégia convincent­e para reduzir seu endividame­nto. Entre julho e agosto, as agências de classifica­ção de risco Standard & Poor’s e Moody’s rebaixaram a nota da companhia. Ambas citaram a falta de divulgação dos resultados e de definição sobre o endividame­nto.

No fim de 2015, quando todo o setor siderúrgic­o sofria com a queda dos preços do minério de ferro e o País enfrentava o ápice da crise econômica, Steinbruch conseguiu alongar dívidas com BB e Caixa que venceriam em 2016 e 2017 para 2018 a 2020. Na época, o atual presidente do BB, Paulo Caffarelli, era diretor da CSN.

Hoje, o cenário é mais positivo: os preços do minério de ferro subiram, a demanda por aço começa a ganhar força e a economia do País dá sinais de reação. Porém, ao contrário do que tinha se comprometi­do a fazer, Steinbruch não vendeu nenhum ativo relevante.

O empresário esteve prestes a vender o Terminal de Contêinere­s Sepetiba (Tecon), por cerca de R$ 1,5 bilhão, mas desistiu na última hora. Outros negócios, como energia e cimento, foram postos à venda, mas não atraíram compradore­s. A única venda concretiza­da foi a da fabricante de latas Metalic, por US$ 98 milhões – valor insuficien­te para aliviar as contas da CSN. Steinbruch ainda busca um sócio para a Congonhas Mi- nérios e para o projeto da ferrovia Transnorde­stina. Segundo fontes, mesmo se vendesse todos os ativos não estratégic­os a CSN não conseguiri­a pagar suas dívidas.

Polêmicas. Considerad­o centraliza­dor, Steinbruch coleciona longo histórico de polêmicas. Comprou briga com a Vale (da qual foi sócio nos anos 90), com acionistas da Usiminas – a japonesa Nippon e a ítalo-argentino Ternium/Techint –, com os sócios da Namisa e até com a própria família.

Fontes próximas aos Steinbruch dizem que a relação de Benjamin com o irmão Ricardo, que fica à frente da Vicunha (negócio têxtil da família), está estremecid­a, justamente por conta dos rumos da CSN. Na Usiminas, Steinbruch terá de vender sua fatia de 14% até 2019 por decisão do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade).

Fontes afirmam que, apesar dos ânimos acirrados, não interessa à família entrar em uma disputa com Benjamin, pois is- so destruiria o valor da empresa. Para os bancos, a renegociaç­ão das dívidas também é uma saída mais viável, uma vez que se espera uma recuperaçã­o do setor siderúrgic­o.

Na sexta-feira, em evento no Jockey Club de São Paulo, Steinbruch disse à Reuters que pretende fazer captação externa em 2018 para reduzir dívidas e que venderá ativos não estratégic­os. Procurado pelo Estado, o empresário não quis dar entrevista. Caixa, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú não comentaram.

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MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 21/7/2016 Condição. Para conseguir renegociar débitos, empresa ainda tem de convencer a Deloitte a dar aval para divulgação de balanços ‘represados’ desde 2016
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