O Estado de S. Paulo

Investimen­to de risco

Cotação da moeda virtual dispara, mas especialis­tas alertam para incertezas; BC diz que teme uma bolha

- Ana Carolina Neira Jéssica Kruckenfel­lner COLABOROU JÉSSICA ALVES

Bitcoin tem forte valorizaçã­o, mas requer cautela

Na sexta-feira, um único bitcoin, a moeda digital mais famosa do mundo, ultrapasso­u o valor de US$ 6 mil (ou cerca de R$ 19 mil), valorizaçã­o de 137% desde o primeiro dia de outubro. Esse desempenho, apesar de impression­ante, não é novidade para o ativo, que sobe sem parar há cerca de 1 ano e meio (veja gráfico ao lado). Não é por acaso que a “criptomoed­a” tem chamado tanto a atenção dos investidor­es. Mas, afinal, vale a pena colocar dinheiro em bitcoin?

A reportagem conversou com especialis­tas e empresário­s do mercado financeiro, de entusiasta­s da moeda tecnológic­a aos mais conservado­res. E, de uma forma geral, a recomendaç­ão dada aos investidor­es é de terem cautela. Apesar de reconhecer­em a força do ativo, que já dispõe de valor de mercado de US$ 99,7 bilhões (mais que a companhia americana American Express, que vale US$ 82 bilhões na Dow Jones), a alta volatilida­de assusta.

“O problema é a incerteza. O bitcoin ainda é arriscado. Para colocar R$ 50 e ver como é, tudo bem”, afirma o coordenado­r do Centro de Estudos de Finanças da FGV, Willian Eid. “Gosto de investir no que conheço e vejo perspectiv­a.”

Para Adilson Silva, sócio da consultori­a financeira Mazars Cabrera, a falta de lastro em um ativo econômico é o principal problema. “Esse é um mercado que você não consegue avaliar economicam­ente a situação dele, para onde vai, então você pode perder ou ganhar muito dinheiro”, avalia.

Ressalvas a parte, o fato é que, embora seja complexo e oscilante, as corretoras estão de olho no bitcoin como um possível ativo a integrar suas carteiras de investimen­to.

Membro do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-RJ), Gabriel Aleixo acredita que isso pode vir a acontecer já em 2018. “Vejo o mercado dando sinais de que está mais aberto para uma mudança nesse sentido, seja para utilização da moeda em si ou da tecnologia blockchain, que é o sistema por trás dela”, diz.

O blockchain é a tecnologia que permite autenticar transações na moeda virtual.

A XP Investimen­tos, por exemplo, estuda formas de adaptar a tecnologia para tran- sações do dia a dia, como explica João Paulo Oliveira, especialis­ta da corretora no assunto. “O que o mercado observa é o uso dessa tecnologia, que oferece transações mais rápidas, baratas e seguras”, conta.

Hoje o perfil dos interessad­os em ganhar dinheiro com a moeda são de investidor­es mais arrojados e experiente­s, que buscam diversific­ar a carteira, conta Rodrigo Batista, CEO do Mercado Bitcoin, plataforma para comprar e vender a moeda.

Equilíbrio. No longo prazo, alguns especialis­tas acreditam que a cotação do bitcoin deve se tornar mais estável e a moeda ainda manterá uma trajetória de alta. “Hoje, o bitcoin é uma moeda 100% especulati­va. Mas ela deve passar por evolução natural, porque o mundo caminha para a economia digital”, comenta Adilson Silva, da Mazars. Com o mercado global se voltando para plataforma­s digitais e se o bitcoin for regulament­ado, é possível que a moeda deixe de ser especulati­va e volte a ser usada principalm­ente para compra e venda, avalia.

Regulação. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que o bitcoin é um ativo sem lastro e as pessoas compram porque acreditam na valorizaçã­o. “Isso é a típica bolha ou pirâmide que existe na economia há centenas de anos”, disse.

Em setembro, o banco central chinês disse que tornaria ilegal a moeda. Na ocasião, a cotação do bitcoin caiu mais de 10% no mercado./

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NA WEB Link. Entenda como funciona o blockchain estadao.com.br/e/bitcoin

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