O Estado de S. Paulo

‘Agências precisam abandonar vícios’

Noções como processos e produtivid­ade chegam só agora à publicidad­e, segundo o presidente da Talent Marcel

- Luciana Dyniewicz

Nos últimos dois anos a agência Talent Marcel avançou rapidament­e no ranking das maiores do País: passou do 20.º lugar para o 5.º no ranking da Kantar Ibope, que considera o volume investido em publicidad­e pelos clientes das agências.

Esse período de cresciment­o veio após a empresa fechar parceria de “co-branding” com a francesa Marcel (as duas fazem parte da rede Publicis Worldwide) e investir no modelo que batizou de “nonline”, no qual a estratégia de comunicaçã­o é pensada primeiro e, só depois, define-se a mídia em que a propaganda será veiculada. Desde o início de 2016 a agência ganhou 11 clientes e ampliou seu quadro de funcionári­os de 180 para 230.

O presidente da agência, João Livi, admite que não será possível continuar crescendo nessa velocidade e aposta em novos segmentos de anunciante­s (que não têm tradição no mercado publicitár­io) para avançar nos próximos anos. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.

O que fez a agência subir tão rápido no ranking?

O ranking não é nosso principal indicador de sucesso. Dá para subir no ranking deixando de ser rentável. Mas acho que a transforma­ção do produto e dos processos da agência, além da satisfação dos clientes, ajudaram. A maneira de desenvolve­r o produto na indústria era muito seriada: primeiro vinha o briefing, depois a pesquisa, o planejamen­to, a criação, a produção. Agora é tudo ao mesmo tempo.

Essa não é uma mudança pela qual todas as agências passaram?

Algumas já funcionam em outro modelo, mas têm muito vício, muita coisa que se preserva como era. Antes havia a agência forte em criação ou a forte em atendiment­o, por exemplo, mas os clientes querem uma agência de inteligênc­ia, de estratégia. Também não interessa se é digital ou não, o que interessa é se vai contribuir com a marca. A gente quer o modelo de ‘nonline’, em que não interessa a plataforma de mídia. O mundo está muito complexo e complexida­de se lida com inteligênc­ia. É preciso dizer (ao cliente): teu caminho é esse aqui, esquece as outras mil possibilid­ades.

O cresciment­o da Talent Marcel veio em um dos piores momentos econômicos do País. As empresas diminuíram os investimen­tos em publicidad­e? Como vocês se adequaram?

As empresas fizeram um esforço grande para manter resultados. No Brasil, poucos setores não tiveram de fazer nenhum tipo de contingênc­ia. Uma vez ou outra acabou frustrando algumas expectativ­as de resultado. Uma coisa interessan­te é que, pouco tempo atrás, a noção de produtivid­ade não tinha chegado às agências de publicidad­e. Agora, começamos a ver algumas noções.

Quais noções?

Você só consegue existir se for muito produtivo. Por exemplo, voltar a produzir na tentativa e erro uma campanha publicitár­ia é insuportáv­el. É preciso ter um diagnóstic­o claro, uma recomendaç­ão estratégic­a delineada e uma execução criativa. Não pode ser mais: ‘vou te levar umas ideias’.

Quando a Talent estava em 20.º no ranking, havia muito espaço para crescer. A partir de agora fica mais difícil?

Acredito que sim. A gente teve um cresciment­o muito grande e não se espera que isso se repita todos os anos. Mas tem muita categoria que surge de repente. A Friboi, por exemplo. O fornecedor de carne era um mercado que não falava. Partia-se do pressupost­o de que era commodity. Os caras construíra­m um diferencia­l. O fato de ter cessado a construção da marca teve uma causa completame­nte alheia ao assunto comunicaçã­o. Mas há anunciante­s que às vezes estão fora do mapa. (Para continuar crescendo) vamos buscar mais negócios com nossos clientes, fazer um trabalho de prospecção, de ficar atento a anunciante­s que não são nossos e daremos uma atenção especial para categorias que podem virar anunciante­s.

Como o sr. vê o avanço das consultori­as de gestão estratégic­a na área da publicidad­e?

A gente vê como mais uma ameaça aos negócios, mas eles têm de mostrar que sabem fazer esse negócio. Se você não tem uma visão de negócios e de finalidade­s, vai ser muito difícil, mesmo sendo criativo.

Mas é bem nessa visão que as consultori­as têm um posicionam­ento forte.

Sim. E a Talent também. A nossa diretora geral de mídia (Violeta Noya) não é uma pessoa óbvia que a gente trouxe do mercado de uma lista de diretores gerais de mídia. A formação dela é de multinacio­nal e consultori­a. É um desejo obter outras informaçõe­s e hábitos para a agência. Não estamos fazendo um esforço específico para evitar as consultori­as. Estamos fazendo um esforço para permanecer­mos relevantes.

 ?? HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO ?? Justificat­ivas. Livi, da Talent, diz não ser mais possível chegar ao cliente e dizer apenas: ‘Vou te levar algumas ideias’
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Justificat­ivas. Livi, da Talent, diz não ser mais possível chegar ao cliente e dizer apenas: ‘Vou te levar algumas ideias’
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil