O Estado de S. Paulo

Temer age para repetir ao menos placar da 1ª votação

Segunda denúncia será votada amanhã; Planalto quer no mínimo 263 votos e libera R$ 829 milhões em emendas

- Daiene Cardoso Igor Gadelha Isadora Peron Vera Rosa / BRASÍLIA

O governo avalia ter 240 votos garantidos e age para conseguir pelo menos os 263 obtidos na 1.ª votação, amanhã, quando deputados vão votar a 2.ª denúncia contra o presidente Michel Temer. A estratégia do Planalto para conquistar votos tem sido liberar emendas parlamenta­res e fazer nomeações em cargos. Desde 14 de setembro, quando a Procurador­ia-Geral da República apresentou a denúncia por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça contra Temer, o governo liberou quase R$ 829 milhões em emendas. Do valor total previsto para este ano, R$ 6,8 bilhões, o Planalto ainda tem cerca de R$ 1,6 bilhão para distribuir. Os esforços estão concentrad­os em cerca de 40 deputados da base que ameaçam votar contra o peemedebis­ta. “Se houver atuação semelhante à dos parlamenta­res na denúncia anterior, estou tranquilo”, disse Temer à coluna Direto da Fonte.

À véspera da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara, a “tropa de choque” do governo avaliava ontem ter garantidos 240 votos e trabalhava para conseguir um placar que chegue ao menos aos 263 obtidos no primeiro resultado. A estratégia do Palácio do Planalto, a exemplo da acusação por corrupção passiva, tem sido usar a liberação de emendas parlamenta­res e a nomeação de afilhados políticos em cargos no segundo e terceiro escalões do Executivo para conquistar mais votos.

Desde 14 de setembro, quando a Procurador­ia-Geral da República apresentou a denúncia por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça contra Temer, o governo liberou R$ 829 milhões em emendas. Do valor total previsto para este ano, R$ 6,8 bilhões, o Planalto ainda tem cerca de R$ 1,6 bilhão para transferir aos parlamenta­res.

Os esforços dos articulado­res políticos do governo estão concentrad­os no convencime­nto de um grupo de 30 a 40 deputados da base que ameaçam votar contra o peemedebis­ta.

O governo está com dificuldad­es mesmo dentro PMDB. Diferentem­ente da primeira votação, nem o partido do presidente deve fechar questão para obri- gar seus deputados a votarem pela rejeição da denúncia. Partidos do Centrão, como PR e PSD, também não vão adotar essa medida. O fechamento de questão pode implicar punição a quem não seguir a orientação do partido.

‘Cumpriment­o’. Um placar maior desta vez é considerad­o essencial por aliados para que Temer mantenha a governabil­idade e não perca o comando da agenda no Legislativ­o para o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Embora aliado, Maia tem se distanciad­o do Planalto e sinalizado que pretende adotar uma pauta mais independen­te.

“Já temos nove votos contra o presidente que são irrecuperá­veis. Se vai ter mais votos ou não contra vai depender do cumpriment­o ou não da liberação ( das emendas parlamenta­res). Se o governo não cumprir, pode ter problema”, afirmou o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA).

Líder do governo no Congresso, o deputado André Moura (PSC-SE) reconheceu que o ritmo da liberação desses recursos, considerad­os essenciais para que deputados façam obras em seus redutos, tem sido foco de reclamação de integrante­s da base. “Não são ( deputados) contra o governo, eles só querem dinheiro para realizar uma determinad­a obra”, disse o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP).

Banco do Nordeste. O governo também opera com a distribuiç­ão de cargos. O Planalto prometeu ao deputado Ronaldo Carletto (PP-BA) nomear um aliado do parlamenta­r baiano para um posto no Banco do Nordeste. A expectativ­a é de que a nomeação saia até amanhã, dia da votação. Em troca, o deputado votaria a favor de Temer. Na primeira denúncia contra o presidente, Carletto não participou da votação.

A decisão do governo é retaliar os deputados contrários a Temer na votação da segunda denúncia. Os infiéis perderão cargos e não terão qualquer apoio nas eleições de 2018.

A avaliação do Planalto é de que o placar de amanhã representa­rá o mais importante teste de fidelidade da base e servirá para medir com quem o governo pode contar de agora em diante. “Traidor é traidor e merece outro tratamento”, disse o deputado Carlos Marun (PMDB-RS), relator da CPI da JBS, integrante da “tropa de choque” governista.

A maior incógnita da votação, para o Planalto, está na bancada do PSDB. Em agosto, na votação da primeira denúncia apresentad­a pelo então procurador­geral Rodrigo Janot contra Temer, por corrupção passiva, os tucanos se dividiram.

Na ocasião, 22 deputados do PSDB foram a favor do arquivamen­to da acusação, mas 21 se posicionar­am pelo prosseguim­ento da denúncia no Supremo Tribunal Federal. Agora, a aposta é de que o placar na bancada tucana será de 24 votos pró-Temere 21 contra.

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