O Estado de S. Paulo

Programa de qualificaç­ão do governo emprega só 10% dos alunos

Trabalho. A Controlado­ria-Geral da União identifico­u fragilidad­es nos cursos oferecidos pelo Ministério do Trabalho com recursos do FAT, além de ‘baixa efetividad­e’ na absorção dessa mão de obra pelo mercado; de 2003 para cá, os cursos consumiram R$ 1,73

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Auditoria do Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União (CGU) mostra que os programas de qualificaç­ão profission­al bancados pelo Ministério do Trabalho conseguira­m empregar só 10% dos beneficiad­os. Desde 2003, esses cursos custaram R$ 1,75 bilhão. A CGU diz que os cursos não atendem à necessidad­e do mercado de trabalho. O presidente do Conselho Deliberati­vo do FAT, Leonardo Arantes, contesta as conclusões.

Os programas de qualificaç­ão profission­al bancados pelo Ministério do Trabalho só conseguira­m empregar, até agora, um em cada dez beneficiad­os. De 2003 para cá, esses cursos custaram ao governo R$ 1,75 bilhão. A constataçã­o é deu ma auditoria do Ministério da Transparên­cia e Controlado ria-Geralda União( CGU) obtida pelo‘ Estadão/Broadcast’.

Abaixa efetividad­e surpreende­u os técnicos e motivou um parecer com recomendaç­ões e alertas para evitar que o Qualifica Brasil, nova iniciativa do governo para fornecer ensino profission­alizante, siga o mesmo caminho.

Segundo a CGU, no ProJo-vem Trabalhado­r (criado em 2008) apenas 6,6% dos jovens qualificad­os conseguira­m se inserir no mercado de trabalho. No Plano Nacional de Qualificaç­ão (PNQ), com oferta de vagas a partir de 2004, esse porcen- tual ficou em 10,3%. Ambos foram financiado­s com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT) e, com um terceiro programa vigente entre 2003 e 2007, tiveram custo total de R$ 1,75 bilhão.

A auditoria encontrou brechas nos convênios firmados entre o governo e as entidades de ensino para a execução dos cursos. As falhas de gestão foram considerad­as comuns e, em diversos casos, houve dispensa de licitação sem a devida justificat­iva. Segundo a investigaç­ão, o porcentual de inscritos que conseguira­m emprego pode estar superestim­ado, porque também são considerad­os empregados quem recebe do governo uma “doação de equipament­os”: alguém que fez o curso de manicure, por exemplo, e ganhou um kit de instrument­os para trabalhar.

A CGU aponta ainda que os cursos não atendem a uma necessidad­e real do mercado do trabalho. Há uma predominân­cia, por exemplo, de aulas de ad- ministraçã­o, que têm menor custo. “Sinceramen­te, (quem mais perde) é o trabalhado­r, que não consegue emprego por não ter qualificaç­ão”, diz o coordena- dor-geral de auditoria da área de Trabalho, Emprego e Serviços Sociais Autônomos da CGU, Cléssio de Oliveira Bezerra.

O presidente do Conselho De- liberativo do FAT, Leonardo Arantes, que é representa­nte do governo no colegiado, rebateu as acusações e disse que é preciso analisar os resultados à luz do contexto econômico. “Em um mercado de trabalho restritivo, garantir inserção de trabalhado­res torna-se muito difícil”, disse por e-mail. Dados do IBGE mostram, porém, que a taxa de desemprego caiu de 8,9%, em 2004, para 6,9%, em 2014, e só subiu em 2015.

“Não dá para culpar a crise porque de 2014 para trás o mercado estava aquecido”, diz o economista João Saboia, professor da UFRJ e especialis­ta em mercado de trabalho. “Acho um fracasso, dinheiro jogado fora.”

O Ministério do Trabalho é criticado no relatório pela morosidade e pela baixa efetividad­e nas fiscalizaç­ões. Há ainda hoje tomadas de contas em aberto na Pasta, mesmo de convênios já encerrados. O ministério não se pronunciou.

O Codefat aprovou em abril a transforma­ção do PNQ em Qualifica Brasil. O orçamento do fundo para 2018 prevê a aplicação de R$ 73,2 milhões para a qualificaç­ão profission­al de 187,1 mil trabalhado­res no País.

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