O Estado de S. Paulo

Vitória dá força a Macri para fazer reformas

- JOHN POMFRET / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO É JORNALISTA

Com 107 cadeiras na Câmara e 24 no Senado, o presidente argentino deve dar prioridade para a reforma tributária e para projeto de responsabi­lidade fiscal que limita o aumento dos gastos públicos à inflação, informa Luciana Dyniewicz, enviada a Buenos Aires.

Conheça a versão internacio­nal de “adultos na sala” do presidente Donald Trump: Shinzo Abe. No domingo, o primeiro-ministro japonês e seu Partido Liberal Democrata, no poder, registrara­m uma grande vitória eleitoral em eleições antecipada­s convocadas por ele. As perspectiv­as foram reforçadas quando a popular governador­a de Tóquio, Yuriko Koike, anunciou anteriorme­nte que havia decidido não disputar com Abe o cargo de primeiro-ministro.

A manutenção da grande maioria de dois terços na Câmara Baixa do Parlamento do Japão dá a Abe a oportunida­de de reescrever a Constituiç­ão, que, imposta ao país em 1947 pelos Estados Unidos, fez o Japão compromete­r-se em renunciar totalmente à guerra. Agora, Abe quer mudar a Carta para permitir que as forças de autodefesa do Japão combatam ao lado de seus aliados, como os Estados Unidos. Em um sinal que revela o quanto as coi- sas mudaram na Ásia, durante décadas o governo dos Estados Unidos esteve indeciso quanto ao fato de o Japão revisar sua Constituiç­ão. Não mais.

Desde a eleição de Trump, Abe cortejou o presidente americano, um acentuado contraste com os líderes europeus que marcaram pontos políticos ao se distanciar­em do governo dos EUA. Abe assumiu um grande risco político quando viajou para a Trump Tower antes da posse, para se reunir com o presidente eleito. Lembremono­s do momento em que Abe e o presidente que saía, Barack Obama, concluíram visitas paralelas – a Hiroshima, em maio de 2016, e a Pearl Harbor, em dezembro de 2016 –, ambas repletas de simbolismo político.

Após a visita à Trump Tower, Abe retornou aos Estados Unidos em fevereiro para uma cúpula com Trump em Mar-a-Lago, durante a qual o premiê e o resto de sua equipe, diante do caos geral do lado americano, providenci­aram equipes para as reuniões, estabelece­ram a agenda e organizara­m uma coletiva de imprensa.

No meio da cúpula, a Coréia do Norte lançou um míssil e Trump e Abe foram fotografad­os discutindo o caso sob a luz das velas na sala de jantar lotada no clube de Trump. Desde en- tão, os dois falaram por telefone diversas vezes.

Duas coisas parecem estar conduzindo o relacionam­ento de Abe com o presidente americano. A primeira é que o Japão, confrontad­o com uma China em expansão e uma Coreia do Norte beligerant­e – a agência de notícias estatal recentemen­te chamou Abe de “uma galinha sem cabeça” –, ainda precisa dos Estados Unidos como aliado e parceiro comercial. Durante a campanha eleitoral, o Japão ficou assustado com o ataque de Trump contra as alianças dos EUA na Ásia e sua sugestão de que talvez o Japão e a Coreia do Sul deveriam tornar-se potências nucleares e defender-se. Em vez de criticar ou dar as costas ao presidente, Abe o abraçou mais forte. Sua diplomacia valeu a pena quando os dois lados emitiram um comunicado conjunto no qual o governo Trump novamente se compromete­u a defender as Ilhas Senkaku, que também são reivindica­das pela China.

Abe também não desistiu da Parceria Transpacíf­ica (TPP), acordo comercial envolvendo 12 nações na região da Ásia-Pacífico que foi negociado pelo governo Obama, mas que Trump rejeitou assim que assumiu o cargo. “Abe passou muito tempo nesse carrinho de golfe em Mar-a-Lago dizendo a Trump porque o TPP era importante”, disse Sheila Smith, especialis­ta em política japonesa no Council on Foreign Relations. O governo de Abe continuou a discutir a possibilid­ade de promulgar um TPP sem os Estados Unidos, na esperança de que os Washington eventualme­nte decidissem aderir ao pacto.

Um segundo motivo para a resoluta diplomacia de Abe é que, como líder, ele parece ter amadurecid­o. O avô de Abe, Nobusuke Kishi, foi preso por três anos como suspeito de crimes de guerra após a 2.ª Guerra, e Abe escreveu que ele entrou na política e adotou as causas conservado­ras em parte para limpar o nome de sua família. As tentativas de Abe de lutar com o passado dominaram seu primeiro mandato como primeiro ministro do Japão, em 2006. Mas ele não se saiu bem e, citando razões de saúde, renunciou depois de um ano no cargo.

Abe voltou ao poder em dezembro de 2012, disciplina­do por seu fracasso e menos focado em tentar expurgar a culpa japonesa pela 2.ª Guerra. “Vejo alguém que aprendeu com duras experiênci­as e contratemp­os pessoais”, disse Smith.

Abe também descobriu que o Japão não deveria colocar todas as fichas nos EUA. Trump está longe de ser o único líder já submetido à versão de Abe de uma “ofensiva de charme”. Ele realizou uma cúpula com o russo Vladimir Putin. Tem boas relações com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Tentou consertar a relação com o chinês Xi Jinping, apesar da relutância da China em participar.

Desde 2012, Abe viajou para mais de 50 países, vendendo energia nuclear no Oriente Médio, transporta­ndo trilhos de alta velocidade para a Índia e oferecendo investimen­to japonês ao Sudeste Asiático. Durante décadas, sucessivos presidente­s dos EUA insistiram com seus pares no Japão para emergir da sombra dos americanos e assumir mais responsabi­lidade por sua defesa, pelas relações exteriores e por outras questões importante­s em todo o mundo. Agora, estimulado pela imprevisib­ilidade do governo Trump, Abe parece estar acatando o conselho americano.

Desde a eleição nos EUA, Shinzo Abe tem apostado na aproximaçã­o com Trump, ao contrário dos líderes europeus

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