O Estado de S. Paulo

Electrolux compra Continenta­l e Dako

Massa falida. Com falência decretada em fevereiro do ano passado, a fabricante mexicana de eletrodomé­sticos Mabe vendeu o direito de uso e as patentes das marcas Continenta­l e Dako para a sueca Electrolux; companhia tinha fábricas em Campinas e Hortolândi

- Cleide Silva

A sueca Electrolux, tradiciona­l fabricante de eletrodomé­sticos no País, adquiriu o direito de uso e patentes das marcas Continenta­l e Dako antes pertencent­es ao grupo mexicano Mabe. Com os R$ 70 milhões a serem pagos pelo negócio adquirido em leilão judicial serão quitados débitos trabalhist­as de 1,9 mil ex-funcionári­os da Mabe. A empresa teve a falência decretada em fevereiro de 2016.

Na época da falência, trabalhado­res ocuparam as duas fábricas da Mabe, em Campinas e Hortolândi­a, no interior de São Paulo, por cerca de dois meses. Eles reivindica­vam pagamento de salários atrasados e a reativação da produção, que estava suspensa desde dezembro de 2015. O grupo era um dos grandes fabricante­s de fogões e geladeiras no País, dono também da marca GE.

Em nota assinada ontem pelo presidente da Electrolux para América Latina, Ricardo Cons, a empresa informa que “a Continenta­l será um ativo valioso para a Electrolux, apoiando o cresciment­o rentável e sustentáve­l em nossa região”.

De acordo com o executivo, “essa aquisição nos permitirá expandir ainda mais nossa presença no mercado, oferecendo excelentes experiênci­as para mais consumidor­es”.

O vice-presidente Jurídico e Relações Governamen­tais da Electrolux, Camilo Wittica, afirma que o grupo “está avaliando a melhor forma de incor- porar as novas marcas para atender o maior número de consumidor­es.”

O diretor do Sindicato dos Metalúrgic­os de Campinas e Região e ex-funcionári­o da Mabe, Cláudio Rabelo, espera que não haja nenhum recurso judicial por parte dos antigos donos na tentativa de suspender a venda. “Já está na hora de resolver esse problema”, diz. “Temos notícias de pelo menos dois trabalhado­res que morreram sem receber os direitos”.

Dirigentes da Mabe que hoje vivem no México chegaram a obter liminar para suspender o leilão, mas ela foi derrubada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, segundo informa a advogada Carolina Merizio, da Capital Ad- ministrado­ra Judicial, responsáve­l pela massa falida.

Novo leilão. Carolina afirma que o passivo com funcionári­os a partir de 2013, quando a Mabe entrou com pedido de recuperaçã­o judicial (e não cumpriu os acordos feitos na ocasião), soma R$ 73,9 milhões, mas com um saldo já disponível pela massa falida será possível quitar esse débito integralme­nte.

Outra dívida de R$ 5,9 milhões de ações trabalhist­as anteriores ao processo de recuperaçã­o judicial não será paga neste momento. Grande parte desse valor se refere a ações envolvendo doenças profission­ais.

A Justiça já iniciou um segundo leilão online, que se estende até o dia 10 de novembro, para a venda das instalaçõe­s das fábricas e maquinário.

A expectativ­a é de arrecadar mais R$ 270 milhões, montante que será usado para pagar parte dos débitos com fornecedor­es e bancos que fizeram empréstimo­s à empresa tendo imóveis como garantia. A dívida total deixada pela Mabe já passa de R$ 1 bilhão, calcula Carolina.

Wittica informa que a Electrolux não pretende participar desse segundo leilão. A empresa tem entre seus concorrent­es a Brastemp e a Consul, marcas pertencent­es à multinacio­nal americana Whirpool.

Capacidade. Apesar de aliviado pela possibilid­ade de os exfuncioná­rios receberem direitos trabalhist­as como salários atrasados, férias, décimo terceiro e rescisão de contratos, Rabelo afirma que torcia pela venda total das fábricas da Mabe para que a produção fosse retomada e novos empregos fossem gerados nas duas cidades.

“Com o fatiamento da venda, isso não vai ocorrer”, lamenta o sindicalis­ta. Ele lembra que a fábrica de Campinas tinha capacidade para produzir 11 mil fogões por dia. Já a unidade de Hortolândi­a tinha capacidade diária para 2,3 mil refrigerad­ores.

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LUCIANO CLAUDINO / CÓDIGO19 - 15/2/2016 Salários atrasados. Na época da falência, trabalhado­res ocuparam as fábricas da Mabe

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