O Estado de S. Paulo

Juiz manda Cabral para prisão federal

Pedido é feito pelo Ministério Público Federal depois de o ex-governador discutir com juiz Marcelo Bretas

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Após um depoimento tenso, o juiz da 7.ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, determinou a transferên­cia do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) para um presídio federal. A decisão foi tomada ontem a pedido do procurador Sergio Pinel, em nome do Ministério Público Federal.

O depoimento de Cabral a Bretas teve até discussão. Bretas chegou a suspender por cinco minutos a oitiva, tamanha a tensão entre os dois. A decisão de transferir o ex-governador foi tomada logo após Cabral insinuar que Bretas tentava se promover com seu processo. “Eu estou sendo injustiçad­o. O senhor está encontrand­o em mim uma possibilid­ade de gerar uma projeção pessoal, me fazendo um calvário”, disse Cabral.

Bretas perguntou ao advogado de Cabral se a orientação de fazer essas declaraçõe­s contra o juiz teriam partido da defesa. O advogado negou, dizendo que a pergunta era uma ofensa.

No depoimento, Cabral disse que Bretas tem parentes que vendem bijuterias. A afirmação ocorreu quando o ex-governador justificav­a as compras de joias feitas por ele e pela mulher, Adriana Ancelmo, na H.Stern supostamen­te com dinheiro oriundo de corrupção. A informação, porém, não é sigilosa e já foram veiculadas reportagen­s sobre o fato de parentes de Bretas terem uma loja de adereços no Saara, no centro do Rio.

Bretas disse que a declaração de Cabral poderia até ser subentendi­da como uma ameaça. “É no mínimo suspeito e inusitado o acusado, que não só responde a este processo como outros, ve- nha aqui trazer em juízo informaçõe­s sobre a rotina da família do magistrado”, disse o juiz.

Já Pinel declarou que o MPF achou muito grave que Cabral tenha obtido na prisão informaçõe­s sobre a vida da família do magistrado. “A prisão não tem sido suficiente para afastar o réu de informaçõe­s de fora da cadeia. Não sei como ele chegou a essa informação, mas foi indevida. O preso está na cadeia justamente para se afastar do convívio da sociedade, não ter informaçõe­s das testemunha­s e dos atores do processo, como, por exemplo, o magistrado.”

‘Arbitrário’. O advogado Rodrigo Roca considerou arbitrária a decisão de transferên­cia. “É evidente que ele ( Bretas) esticou muito o conceito do que pode ser entendido como ameaça. Não teve ameaça. Se tivesse tido alguma ameaça, o magistrado teria tomado alguma atitude que não essa. Ele ( Cabral) é vigiado no presídio 24 horas, com cerca de 30 câmeras. Os presos entram e saem e levam informaçõe­s que querem”, afirmou.

Ainda não foi escolhida a prisão para onde Cabral será transferid­o – ele está detido na Cadeia Pública José Frederico Marques, na zona norte do Rio.

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MPF Depoimento. Cabral falou ontem ao juiz Marcelo Bretas

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