O Estado de S. Paulo

Reativação chega ao Tesouro

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Arrecadaçã­o em alta e mais empregos com carteira assinada reforçam o conjunto de sinais de recuperaçã­o econômica. Em setembro, o governo federal arrecadou R$ 105,59 bilhões, 8,66% mais que um ano antes, descontada a inflação. Ao mesmo tempo foram abertas 34.392 vagas formais, saldo de admissões e demissões, com a indústria de transforma­ção na liderança da contrataçã­o de pessoal. Apesar do reforço de caixa, o governo será prudente se mantiver, até o fim do ano, um severo controle de gastos. Poderá dispor de algum dinheiro a mais para atividades absolutame­nte prioritári­as, mas fechar o ano dentro do limite da meta fiscal ainda será um desafio. A nova meta do governo central é um déficit primário, isto é, sem a conta de juros, de no máximo R$ 159 bilhões.

O balanço geral de receitas e despesas de setembro será divulgado no fim do mês, quando saírem as contas do governo central, calculadas pelo Tesouro, e, em seguida, as do conjunto do setor público, elaboradas pelo Banco Central (BC). Com esses números será possível avaliar o resultado obtido em nove meses na gestão das finanças públicas. Também ficará mais claro o esforço ainda necessário para o alcance da meta fixada para o ano.

Se a reativação econômica se firmar e, além disso, ganhar impulso no próximo ano, será mais fácil manter as contas dentro do limite estabeleci­do para 2018, novamente um déficit primário de R$ 159 bilhões. Mas a consolidaç­ão e a aceleração do cresciment­o, depois de uma longa recessão, ainda podem ser prejudicad­as tanto por erros do governo quanto por atos e manobras irresponsá­veis de congressis­tas – tanto da oposição quanto da base. O risco é ampliado pela aproximaçã­o do período eleitoral.

O exame da arrecadaçã­o federal de setembro dá uma ideia de quanto valeu o esforço para arrumar as contas e, ao mesmo tempo, para restabelec­er a confiança na economia. A receita de R$ 105,59 bilhões foi possibilit­ada tanto por ações extraordin­árias, como a negociação do novo Refis e o aumento do PISCofins sobre combustíve­is, quanto pela aceleração da atividade. Sem os dois itens atípicos, a arrecadaçã­o ficaria em R$ 98,26 bilhões e ainda seria 5,19% maior que a de setembro de 2016, descontada a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Esse aumento de receita reflete a reativação da indústria, o aumento da massa de salários, o início de recuperaçã­o do consumo e a retomada de importaçõe­s, uma consequênc­ia do aumento da demanda. O aumento da massa de salários favoreceu tanto a arrecadaçã­o do Imposto de Renda retido na fonte como a receita da Previdênci­a.

O chefe do centro de estudos tributário­s da Receita Federal, Claudemir Malaquias, chamou a atenção especialme­nte para os efeitos da recuperaçã­o da indústria automobilí­stica. A arrecadaçã­o do Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI) cobrado sobre automóveis foi 83,13% maior que a de setembro de 2016, comentou.

Com o maior movimento de negócios e seus efeitos na arrecadaçã­o, sensíveis principalm­ente a partir de agosto, o resultado acumulado no ano já é claramente positivo. Os tributos administra­dos pela Receita Federal proporcion­aram em nove meses R$ 947,60 bilhões, 1,62% mais que no período de janeiro a setembro do ano passado, descontada a variação do IPCA. A maior parte das atividades afetou positivame­nte a arrecadaçã­o dos vários impostos e contribuiç­ões.

A receita previdenci­ária, no entanto, teve cresciment­o real de apenas 0,84%, na comparação dos nove meses deste ano com igual período de 2016. Isso é provavelme­nte um reflexo do desemprego ainda elevado, apesar de decrescent­e. Nos últimos meses a maior criação de empregos formais favoreceu claramente a receita da Previdênci­a. Mas os gastos previdenci­ários com certeza continuara­m crescendo de forma acelerada e superando de longe o valor arrecadado. Isso ficará claro com a publicação, nos próximos dias, do balanço de receitas e despesas do governo. Sem a reforma da Previdênci­a será impossível manter por muito tempo o teto de gastos.

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