O Estado de S. Paulo

Lava Jato em Curitiba tem ações até o fim de 2018

Moro ainda precisa julgar mais ações do que o total já finalizado em 3 anos e meio

- Ricardo Brandt ENVIADO ESPECIAL / CURITIBA Julia Affonso

Embora já tenha declarado publicamen­te em mais de uma ocasião que a Operação Lava Jato “caminha para o final” em Curitiba, o juiz titular da 13.ª Vara Federal Criminal da capital paranaense, Sérgio Moro, não deve encerrar os trabalhos antes do fim de 2018. A eleição do próximo ano, quando serão escolhidos presidente, governador­es, senadores e deputados, portanto, será a primeira a ocorrer sob influência direta de prisões, indiciamen­tos e condenaçõe­s de políticos – em outubro de 2014, as investigaç­ões não haviam atingido esse núcleo do esquema de corrupção.

Em mais de três anos e meio atuando exclusivam­ente nos casos relacionad­os à Lava Jato, Moro já julgou 35 processos. Nesse período, condenou 109 pessoas. Entre elas estão o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (9 anos e 6 meses de pri- são), os ex-ministros Antonio Palocci (12 anos e 2 meses) e José Dirceu (32 anos) e o empresário Marcelo Odebrecht (29 anos e 4 meses).

No momento em que a operação chega à sua 46.ª fase, deflagrada na sexta-feira passada, Moro ainda tem pela frente 44 processos penais abertos relativos a crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa em negócios da Petrobrás.

Um deles, que está em fase inicial, é o que trata de suposta prática de corrupção e lavagem de dinheiro no caso das obras do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo – que a força-tarefa diz que é de Lula, mas ele nega. A ação deve ser julgada – se não houver imprevisto­s – em meados de 2018, às vésperas das eleições de outubro.

Lula, que recorre da primeira condenação ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), se declara candidato do PT.

As investigaç­ões já desnudaram esquemas de loteamento de cargos, corrupção, desvios de dinheiro e superfatur­amen- to de contratos da Petrobrás durante os governos Lula (20032010) e Dilma Rousseff (20112016). Foram constatado­s des- vios de mais de R$ 40 bilhões da estatal para compra de apoio político, financiame­nto de campanhas e enriquecim­ento ilícito. Agora, a investigaç­ão se volta para líderes do PMDB e do PSDB nos processos que envolvem alvos com foro privilegia­do, em fase inicial no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Em Curitiba a investigaç­ão sempre foi sobre os contratos da Petrobrás que geraram valores e as pessoas que pagavam ( propinas). Grande parte já foi processada. As que recebiam e não tinham foro privilegia­do, igualmente. Daí a minha afirmação de que acredito que está indo para o final em Curitiba”, afirmou Moro no dia 2 deste mês, em São Paulo. “Ainda há investigaç­ões e casos relevantes em andamento”, afirmou.

Abertas. Além das ações penais já em instrução, outras serão abertas em 2018 por Moro decorrente­s de investigaç­ões ainda não encerradas pelo Ministério Público Federal. Responsáve­is pelas acusações criminais apresentad­as a Moro, os 13 procurador­es da Lava Jato de Curitiba continuarã­o a trabalhar em esquema de força-tarefa até setembro de 2018 – quando vence o prazo aprovado em agosto pelo Conselho Superior do Ministério Público Federal.

“As penas totalizam mais de 1,7 mil anos de prisão. É expressivo o montante de pena totalizado nesses três anos de operação e, talvez, esse fator denote a importânci­a de que a investigaç­ão e os processos se deem em primeira instância, em condições nas quais o Estado pode melhor responder”, afirmou o procurador Roberson Pozzobon, integrante da força-tarefa de Curitiba.

Para o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa, o interesse público nas investigaç­ões deve continuar mesmo na fase posterior às investigaç­ões, para que não se repita o que aconteceu na Itália, na Operação Mãos Limpas, onde foi baixo o índice de punições efetivas aos réus.

“O momento em que vivemos se aproxima muito de um ponto-chave no destino das duas operações. Depois de alguns anos de Mãos Limpas, as investigaç­ões estavam se encerrando, embora vários processos ainda estivessem começando. A diferença entre o tempo da mídia e o tempo dos processos judiciais ficou bastante perceptíve­l. A população começou a se cansar da sequência de escândalos”, afirmou Dallagnol.

“Nessa mesma época, as investigaç­ões já haviam alcançado políticos importante­s de todos os partidos, que se uniram para atacar os investigad­ores”, disse o coordenado­r da força-tarefa.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-30/3/2017 Operação. O juiz federal Sérgio Moro é o responsáve­l pela Lava Jato em Curitiba

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