O Estado de S. Paulo

Temer pede palavra final sobre Battisti

Em manifestaç­ão ao Supremo, Advocacia-Geral da União diz que extradição é ‘ato político’ e recomenda à Corte rejeitar habeas corpus

- Rafael Moraes Moura Carla Araújo / BRASÍLIA

A Advocacia-Geral da União defendeu ontem o direito do presidente Michel Temer de rever a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder asilo ao italiano Cesare Battisti. Em manifestaç­ão encaminhad­a ao Supremo Tribunal Federal, o órgão pediu também a rejeição do habeas corpus ajuizado pela defesa do italiano.

Por decisão do ministro Luiz Fux, uma eventual extradição não pode ocorrer enquanto não for julgado o mérito do habeas corpus. Em 2010, a maioria do Supremo entendeu que a decisão final sobre a extradição cabia a Lula. Battisti é considerad­o foragido na Itália, onde foi condenado por quatro homicídios.

Na manifestaç­ão, a AGU argumentou que a extradição é “ato eminenteme­nte político”. No começo deste mês, Battisti foi preso em Corumbá, na frontei- ra com a Bolívia, acusado de evasão de divisas. Ele afirmou à Polícia Federal que ia pescar no país vizinho. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, chegou a afirmar que houve “quebra de confiança” com o italiano.

Parecer do Ministério da Justiça embasou a manifestaç­ão. Para a AGU, a extradição é uma medida “em que há liberdade de decisão e flexibilid­ade diante do caso concreto, atentandos­e aos interesses envolvidos e ao cumpriment­o dos tratados internacio­nais, ‘é notória a possibilid­ade de revisão, eis que as circunstân­cias justificad­oras da não entrega do extraditan­do podem ser alteradas com o passar do tempo e, dessa forma, possibilit­ar uma nova avaliação do Estado requerido’”, escreveu a AGU, ao citar um documento da pasta de Jardim.

Na avaliação da AGU, “em nenhum momento, os ministros se manifestar­am pela impossibil­idade de o próprio chefe de Estado revisar o ato presidenci­al anterior”. “Pode-se concluir que a revisão do ato do presidente da República que nega a extradição de estrangeir­o não está submetida a prazo prescricio­nal ou decadencia­l, e que a competênci­a para revisar o ato presi- dencial que indeferiu o pedido de extradição, e revogá-lo, segundo critérios políticos de conveniênc­ia e oportunida­de, é único e exclusivo do próprio presidente da República”, escreveu.

A ministra da AGU, Grace Mendonça, alinhou a mensagem presidenci­al com Temer em reunião no Planalto ontem de manhã. O presidente, porém, vai esperar por um posicionam­ento do Supremo para então tomar a sua decisão. Na cú- pula do governo, ele tem sido pressionad­o, até mesmo por Jardim, para extraditar Battisti. No Planalto, por ora, a ordem é evitar qualquer possível ruído do Executivo com o STF.

Família. A defesa de Battisti encaminhou também ontem uma manifestaç­ão ao STF, na qual argumentou sobre a necessidad­e de sua permanênci­a no Brasil para sustentar sua família. Sua ex-mulher Priscila Pereira enviou uma carta à presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia. Segundo a defesa de Battisti, na carta, ela narra “a aflição que possui sobre eventual extradição do paciente, consideran­do a dependênci­a econômica e afetiva de seu filho”.

Hoje, a Primeira Turma do STF vai analisar uma questão de ordem apresentad­a por Fux para decidir onde deve ser analisado o caso do italiano – na turma ou no plenário da Corte. A AGU pede que o caso seja apreciado por todos os ministros.

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GABRIELA BILO/ESTADÃO-11/10/2017 Asilo. Battisti vive em Cananeia, no litoral sul paulista, e é considerad­o foragido na Itália

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