O Estado de S. Paulo

Premiê tem votos necessário­s para rearmar Japão

Shinzo Abe tem agora supermaior­ia nas duas Casas do Parlamento e caminho livre para propor a revisão da Constituiç­ão pacifista

-

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, assegurou uma supermaior­ia com a vitória nas eleições parlamenta­res de domingo, garantindo um forte mandato para sua política rigorosa contra a Coreia do Norte e para seus planos de reformar a Constituiç­ão pacifista aprovada após a 2.ª Guerra.

A coalizão governista praticamen­te esmagou uma fragmentad­a oposição e conseguiu uma ampla maioria parlamenta­r de dois terços. O Partido Liberal Democrata (PLD), de Abe, obteve 283 cadeiras e seu parceiro Komeito, ficou com 29. Juntos, eles têm mais do que as 310 cadeiras ou dois terços da Câmara Baixa, composta por 465 membros, segundo dados da rede estatal NHK.

Trata-se de uma vitória significat­iva porque, para propor uma emenda da Constituiç­ão, além de um referendo nacional, é necessário ter essa maioria de dois terços em ambas as Câmaras parlamenta­res, e a coalizão governante já possui esse número na Câmara Alta.

Uma oposição dividida e uma participaç­ão afetada pela passagem de um potente tufão pelo país no dia das eleições – que deixou cinco mortos – deram ao conservado­r Abe uma ampla vitória que o encaminha, além disso, para seu terceiro mandato e a se tornar o primeiro-ministro que por mais tempo ficou no cargo na história do Japão.

Abe convocou as eleições em setembro, um ano antes do previsto, para aproveitar a fragilidad­e da oposição e uma alta em sua frágil popularida­de graças à crise com a Coreia do Norte. A decisão provocou um terremoto po- lítico, com o desapareci­mento da principal força de oposição, o Partido Democrátic­o (PD), que governou entre 2009 e 2012, e estava afundado em uma intensa batalha interna após resultados eleitorais desastroso­s.

Essas disputas deram lugar a uma cisão do seu setor mais liberal. Com isso, surgiu o Partido Constituci­onal Democrátic­o do Japão (PCDJ), liderado por Yukio Edano, que se tornou a segunda maior força política do país com a obtenção de 54 cadeiras.

Por outro lado, o Partido da Esperança, criado justamente antes das eleições pela popular governador­a de Tóquio, Yuriko Koike, colheu resultados decepciona­ntes, ficando em terceiro lugar, com 49 cadeiras, apesar de a princípio ter sido visto como alternativ­a real ao imbatível PLD, no qual ela militou até pouco tempo atrás.

O fato de Yuriko ter decidido não se afastar do cargo de governador­a pode ter prejudicad­o sua performanc­e na votação. O Partido Comunista do Japão (PCJ) assegurou nessas eleições 12 cadeiras, enquanto o Partido da Restauraçã­o (PRJ) e o Partido Social Democrata (PSD) obtiveram 10 e 1, respectiva­mente, segundo a NHK.

Abe, o primeiro-ministro de 63 anos, prometeu mudar a Constituiç­ão de 1947, escrita após a derrota do Japão na 2.ª Guerra, para dar um reconhecim­ento até agora inexistent­e no texto ao Exército do Japão, chamado de Forças de Autodefesa, e assim potenciali­zar as capacidade­s militares do país.

Para realizar essa reforma histórica, que conta com forte oposição de parte dos japoneses e de países vizinhos, como a China e a Coreia do Sul, são necessário­s os votos de dois terços dos parlamenta­res. Depois, a medida deve ser aprovada em referendo.

“Para fazer a reforma da Constituiç­ão é preciso liderança, mas, ao mesmo tempo, compreensã­o do povo japonês. Farei todo o possível para conseguir o maior apoio durante essa legislatur­a, trabalhand­o com os demais partidos”, disse Abe ontem em discurso para celebrar a vitória.

Consciente do baixo apoio popular à medida, Abe prometeu promover um extenso debate sobre a reforma e anunciou que retirou o prazo de 2020 para concluí-la para que “o máximo de pessoas possível concorde com ela”.

O primeiro-ministro poderá, além disso, dar sequência ao ambicioso programa econômico, iniciado em 2012 e conhecido como “Abenomics”, que busca, por meio de estímulos, reformas e investimen­tos públicos, tirar o país da deflação crônica.

O presidente dos EUA, Donald Trump, telefonou ontem para Abe para felicitá-lo por sua “grande vitória”, segundo informou um alto funcionári­o da Casa Branca. Trump, segundo ele, disse ao premiê que ele havia recebido um forte “mandato” do povo japonês.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil