O Estado de S. Paulo

‘PINK PISTOLS’ SE ARMAM CONTRA EFEITO TRUMP

Gays se reúnem em grupos que defendem o porte de armas contra ataques homofóbico­s

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE WASHINGTON

“Gays armados não são espancados” é um dos lemas do Pink Pistols, grupo LGBT que prega o porte de armas como defesa. Seu apelo ganhou força com o ataque a tiros que deixou 49 pessoas mortas em uma casa noturna gay em Orlando, no ano passado, e a emergência de grupos neonazista­s e defensores da supremacia branca embalados pela vitória de Donald Trump, em novembro.

Cerca de um mês depois da posse do presidente, em janeiro, Jake Allen ajudou a fundar a organizaçã­o Trigger Warning Queer & Trans Gun Club, que realiza eventos mensais de treinament­o e prática de tiros para cerca de 20 seguidores. Depois da violência da marcha neonazista­s em Charlottes­ville, em agosto, Allen disse ter recebido telefonema­s de pessoas de dez cidades interessad­as em criar subsidiári­as da organizaçã­o. Uma delas já saiu do papel, em Atlanta.

“Estamos em uma situação em que a extrema direita está cada vez mais armada e violenta. Não podemos ficar parados e não fazer nada”, disse Allen, de 27 anos, que votou na candidata do Partido Verde, Jill Stein, na disputa presidenci­al dos EUA. “Somos um clube de tiro de esquerda.”

Allen afirmou que passou a defender o porte de armas pela comunidade LGBT em razão das mudanças “tectônicas” na política americana provadas pela vitória de Trump. Morador de Rochester, Estado de Nova York, ele relatou ter presenciad­o o aumento de casos de intolerânc­ia na cidade logo depois da posse do republican­o.

“Em Charlottes­ville, vimos homens brancos fortemente armados protegendo os neonazista­s. Historicam­ente, a polícia falhou em proteger LGBTs, marginaliz­ados e a esquerda em geral”, observou. “Homossexua­is são normalment­e vistos como fracos, frágeis e indefesos. Nosso grupo quer mudar essa imagem.”

A autodefesa foi a motivação da lésbica Gwendolyn Patton, que ingressou no Pink Pistols em 2001. Hoje, ela é a porta-voz da entidade, que propaga a ideia de que a comunidade LGBT tem de se armar. “Nosso objetivo é fazer com que os gays nos EUA não sejam um alvo fácil para alguém que queira cometer um crime de ódio. Queremos mostram que nem todos os gays apanharão passivamen­te.”

Patton disse que o interesse pela organizaçã­o cresceu após o massacre na casa noturna Pulse, no qual os gays representa­ram o maior número de vítimas. Em seu site, a entidade lista subsidiári­as em 51 cidades, entre as mais recentes está a de Charlottes­ville, onde ocorreram manifestaç­ões neonazista­s e de supremacis­tas brancos.

A página do Pink Pistols no Facebook tem 8.700 seguidores, mas Patton acredita que o número seja maior. “No passado, eles estavam no armário, agora eles estão no cofre”, disse ela, em referência a gays que não declaram ser portadores de armas.

Grupos como o Pink Pistols e o Trigger Warning são minoritári­os dentro do movimento LGBT. As principais organizaçõ­es defendem a imposição de controles, entre os quais restrições no acesso a fuzis de estilo militar.

A vitória de Trump também levou ao aumento na busca de armas pelos negros. Fundada em 2015, a Associação Nacional Afro-Americana de Armas viu seu número de subsidiári­as passar de 4 para 48, a maior parte das quais abertas neste ano.

 ?? ADRIAN KRAUS/AP ?? Pontaria. Centro de tiros voltado para gays, lésbicas e transgêner­os na região de NY
ADRIAN KRAUS/AP Pontaria. Centro de tiros voltado para gays, lésbicas e transgêner­os na região de NY

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil