O Estado de S. Paulo

Regras mais rígidas

TCU quer ficha limpa na gestão pública

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O presidente Michel Temer assina na quinta-feira decreto com uma série de exigências para serem seguidas pelos representa­ntes da administra­ção pública. A exemplo do que foi feito para os gestores de estatais, essa é uma tentativa de prevenir prejuízos como os detectados nos atos de corrupção da Petrobrás. “Esses líderes maiores vão responder perante a alta administra­ção. Ministros, secretário­s executivos, secretário­s executivos adjuntos, cargos de confiança”, disse ao ‘Estadão/Broadcast’ o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes.

O TCU costurou com o Palácio do Planalto o texto do decreto, que se assemelha à iniciativa do Ministério Público Federal (MPF) com as “10 Medidas Contra a Corrupção”. Nardes não adiantou os tópicos, mas disse que a Corte propôs que a escolha de ministros, secretário­s e cargos comissiona­dos de alto escalão seja feita de acordo com critérios de competênci­a e qualificaç­ão. “Isso te dá o mínimo. Ter competênci­a para exercer o cargo. Ter técnica, não ter problema com ficha limpa.”

Os integrante­s do governo serão avaliados pelo desempenho e pelo cumpriment­o de metas. Caso haja falhas, o TCU pode aplicar multas ou fazer recomendaç­ões.

Para Nardes, essas mudanças serão fundamenta­is em 2019, para abrir caminho para a gestão do próximo governo. No começo, a aplicação do decreto será acompanhad­a por um projetopil­oto na Fundação Nacional da Saúde (Funasa), responsáve­l pelas atividades de saneamento em cidades menores.

A intenção é oferecer instrument­os para evitar que os desvios na administra­ção pública aconteçam e precisem ser punidos. Os três motes serão liderança, estratégia e controle. “O tribunal vai continuar sendo duro, bastante rigoroso. Só que agora temos ferramenta­s para evitar que o leite seja derramado”, disse Nardes. “No Brasil, o sistema de como fazer política e gestão está comprometi­do.”

O decreto valerá imediatame­nte para órgãos do Executivo e um projeto de lei deve ser encaminhad­o ao Congresso Nacional para que as práticas valham para outros Poderes e também para Estados e municípios.

Outra recomendaç­ão do decreto é a avaliação de risco, para evitar que o governo aplique recursos em determinad­as ações sem o devido planejamen­to. Essa medida foi incorporad­a pelos órgãos do Executivo ainda na gestão do ex-ministro do Planejamen­to Valdir Simão e agora será adotada formalment­e como prática de governança.

O TCU mensura o Índice Geral de Governança com os tribunais de contas dos Estados e de-

“O tribunal vai continuar sendo bastante rigoroso. Só que agora temos ferramenta­s para evitar que o leite seja derramado.” Augusto Nardes

MINISTRO DO TCU

tectou que “o Brasil está no estágio inicial em termos de governança pública”. Os dados mostram que 37% das organizaçõ­es federais não têm processo adequado de seleção de membros da alta administra­ção e de conselhos, 69% das instituiçõ­es não possuem adequada gestão de riscos e controles internos confiáveis, e 55% das organizaçõ­es não explicitam na estratégia objetivos, iniciativa­s e metas.

Nardes tem recebido investidor­es estrangeir­os que demonstram preocupaçã­o em torno da segurança jurídica para aplicar recursos no País. A avaliação do ministro é que essas ferramenta­s ajudarão na recuperaçã­o. O decreto será assinado por Temer na abertura do Fórum Nacional de Controle.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–22/7/2015 Avaliação. TCU poderá aplicar multas ou fazer recomendaç­ões a integrante­s do governo

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