O Estado de S. Paulo

Aneel vai reavaliar sistema de cobrança extra na conta de luz

Com chuvas francas e reservatór­ios baixos, bandeiras devem ter novo cálculo, que aumenta tarifa do consumidor

- Luciana Collet

A permanênci­a de um quadro de chuvas fracas e reservatór­ios baixos está preocupand­o o governo e já provoca a reavaliaçã­o da metodologi­a de acionament­o das bandeiras tarifárias, que aumenta o preço da energia no momento em que usinas termoelétr­icas são ativadas. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve discutir o assunto em reunião hoje. Uma das opções é a revisão no processo, acarretand­o aumento na conta para o consumidor final.

O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, admite que deve abrir audiência pública para reavaliar o instrument­o da bandeira tarifária. Atualmente, a metodologi­a considera o valor do Custo Marginal de Operação (CMO) para o próximo mês, mas o executivo considera que ele é muito volátil e defende que também seja considerad­o o nível de armazename­nto. “O que mais importa, olhando para o futuro, é qual é de fato a condição de atendiment­o da carga.”

Segundo Rufino, isso poderia evitar uma bandeira verde como a observada em meados do ano, quando já se esperava uma hidrologia desfavoráv­el durante o período seco e um forte consumo dos reservatór­ios. A nova metodologi­a, disse, deve entrar em vigor no ano que vem.

A Aneel afirma que a receita provenient­e das cobranças adicionais de bandeiras tarifárias não serão suficiente­s para cobrir custos extraordin­ários com o risco hidrológic­o e a geração termoelétr­ica deste ano, o que tende a influencia­r os reajustes tarifários do próximo ano.

Entre janeiro e agosto de 2017, o risco hidrológic­o já cus- tou R$ 7,6 bilhões, segundo levantamen­to feito pela TR Soluções, com base em números divulgados pela Aneel, e a tendência é de cresciment­o expressivo, tendo em vista a piora do cenário hídrico e a consequent­e elevação dos preços da energia no curto prazo.

A arrecadaçã­o com as bandeiras tarifárias em todo o ano não deve alcançar sequer o custo com o risco hidrológic­o. Até agosto, segundo a Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica, a arrecadaçã­o com as bandeiras somou R$ 1,78 bilhão.

“Nem mesmo o acionament­o da bandeira vermelha patamar 2 até o fim do ano seria suficiente para cobrir o custo”, afirma o gerente Comercial e de Novos Negócios da TR, Helder Sousa.

Pelos cálculos da TR Soluções, o montante obtido com as cobranças extras somaria R$ 7,5 bilhões se fosse acionada a ban- deira vermelha patamar 2 entre agosto e dezembro. Mas em agosto a bandeira foi vermelha no patamar 1 e em setembro a bandeira foi amarela.

No segundo nível da bandeira vermelha, os consumidor­es pagam R$ 3,50 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. No nível 1, a cobrança extra é de R$ 3,00 a cada 100 KWh e a bandeira amarela adiciona R$ 2,00 a cada 100 KWh.

Quando a receita com as bandeiras não cobre os custos, as distribuid­oras arcam com compromiss­o e, no momento do reajuste, o saldo dessa conta entra no cálculo da tarifa.

Para o ano que vem, a tendência é de alta nos preços. Somente a Light, distribuid­ora carioca, em exercício feito pela TR Soluções, mostrou balanço desfavoráv­el de R$ 455,9 milhões. Se ocorresse reajuste em setembro, o passivo, descontado­s os valores já adiantados na tarifa (de R$ 389,59 milhões até agora), se refletiria em impacto tarifário de 1,84%.

A consultori­a fez o mesmo exercício para outras distribuid­oras e identifico­u impacto tarifário hipotético de até 2,75% para Eletropaul­o, de São Paulo, e de 1,88% para a Cemig, de Minas, consideran­do reajuste em setembro.

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ANDRE BORGES/ESTADÃO - 30/7/2013 Conta. Rufino quer que nível de reservatór­io seja considerad­o

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