O Estado de S. Paulo

Transporte de valor cria disputa entre empresas e bancos

Projeto no Senado proíbe instituiçõ­es financeira­s de serem sócias em empresas de transporte; setor considera barreira à concorrênc­ia

- Fabrício de Castro / BRASÍLIA

A disputa por um mercado bilionário no Brasil, o de transporte de valores, colocou as principais empresas do setor contra seus maiores clientes, os bancos. Isso porque segue em tramitação no Senado um projeto que proíbe instituiçõ­es financeira­s de serem sócias de transporta­doras de valores. A Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores (ABTV), que vinha evitando opinar, decidiu tomar posição de forma favorável à restrição, enquanto os bancos dizem que o objetivo da proposta é eliminar a concorrênc­ia.

No centro da disputa está a TBForte, empresa que hoje detém 5% do mercado e está ligada à TecBan – companhia responsáve­l pelos caixas do Banco24Hor­as. A TecBan é controlada pelos principais bancos do País: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Citibank, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander.

Quando foi criada, há dez anos, a TBForte tinha como ob- jetivo transporta­r dinheiro apenas para o abastecime­nto dos caixas eletrônico­s da TecBan. A atuação era “orgânica”, conforme definição do mercado. O problema começou há três anos, quando a TBForte conseguiu, na Polícia Federal, licença para transporta­r dinheiro para outros clientes, como os bancos – no limite, seus próprios controlado­res.

No ano passado, a TBForte participou de um pregão da Caixa Econômica Federal para o transporte de valores em nove áreas do Estado de São Paulo. No lance inicial da disputa, chegou a fazer propostas de preços cerca de 50% mais baixos que a concorrênc­ia. No lance final, ficou com apenas uma área – a de Santana, por R$ 237,1 mil por mês – porque outros concorrent­es decidiram também reduzir seus preços.

“Não existe isonomia na concorrênc­ia”, diz o advogado Ruben Schechter, ligado à ABTV e à Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist). “A TBForte pratica no mercado preços menores porque ela tem em seu quadro societário, no seu comando, os principais tomadores desse serviço, que são as instituiçõ­es financeira­s.”

Do lado das instituiçõ­es financeira­s, o discurso é de que a proibição busca, na verdade, limitar a concorrênc­ia e manter os valores dos serviços em níveis elevados, tanto nas licita- ções de bancos públicos quanto nas tomadas de preço de instituiçõ­es privadas.

Barreiras. Por meio de nota, a TBForte afirmou que vê “com muita preocupaçã­o a possibilid­ade de aprovação de projeto de lei que restringe a participaç­ão de uma empresa comprometi­da com boas práticas ao criar, injustific­adamente, barreiras à livre iniciativa e à livre concorrênc­ia”.

O projeto, que aguarda no Senado pela votação de um requerimen­to de urgência, cria o novo Estatuto da Segurança Privada e da Segurança de Instituiçõ­es Financeira­s. No plenário, a votação ocorrerá sob a presidênci­a de Eunício Oliveira (PMDB-CE), que vem sendo apontado como um dos interessad­os numa possível restrição da concorrênc­ia, já que é proprietár­io da Confederal e da Corpvs, empresas que atuam no setor. Por meio de sua assessoria, Eunício tem afirmado que está legalmente afastado das decisões administra­tivas e gerenciais das empresas desde 1998 e que é contrário a qualquer restrição à livre concorrênc­ia.

Mesmo se o projeto passar, porém, não há a garantia de que a disputa pare por aí. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) já afirmou que considera a restrição inconstitu­cional e que pode questioná-la na Justiça.

5% do mercado de transporte de valores pertence à TBForte, empresa ligada à TecBan, controlada pelos principais bancos do País

 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO-2/9/2015 ?? Dinheiro. Empresa controlada por bancos foi criada para abastecer caixas do Banco 24 Horas
WERTHER SANTANA/ESTADÃO-2/9/2015 Dinheiro. Empresa controlada por bancos foi criada para abastecer caixas do Banco 24 Horas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil