O Estado de S. Paulo

R$ 5 bilhões

Anatel nega transforma­r multas da Oi em investimen­tos.

- Anne Warth / BRASÍLIA / COLABORARA­M CIRCE BONATELLI e MARIANA DURÃO

O Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) rejeitou ontem proposta que permitiria à Oi substituir multas no valor de R$ 5 bilhões por investimen­tos em rede. A avaliação foi de que a operadora não tem condições de honrar os investimen­tos que seriam impostos por meio de Termo de Compromiss­o de Ajustament­o de Conduta (TAC). Procurada, a Oi não se manifestou.

A decisão mostra que o governo está firme na ideia de apresentar um plano alternativ­o de recuperaçã­o judicial, liderado pelos bancos públicos e privados, com o apoio de credores internacio­nais, como G5 Evercore e Moelis. A aprovação de TACs era um dos pilares do plano protocolad­o pela companhia, com apoio de Nelson Tanure, um dos principais e mais influentes acionistas no conselho de administra­ção da Oi.

Tanure, conhecido por comprar empresas em dificuldad­es, como a operadora Intelig e a petroleira HRT, entrou na Oi e, aos poucos, ganhou poder na tele. O plano de recuperaçã­o que ele ajudou a organizar evita a diluição dos sócios atuais, incluindo a Pharol, antiga Portugal Telecom. Procurado, o empresário não se manifestou.

Para piorar a situação da empresa, a agência também decidiu revogar o primeiro TAC da Oi, aprovado em maio do ano passado, que previa a substituiç­ão de R$ 1,2 bilhão em multas por R$ 3,2 bilhões em investimen­tos na rede. O termo havia sido aprovado um mês antes de a empresa entrar com pedido de recuperaçã­o judicial, mas nunca foi formalizad­o devido a uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).

Em nota, a Anatel destacou que as dificuldad­es econômicof­inanceiras da Oi são públicas. “O andamento não satisfatór­io das tratativas voltadas à construção de um plano de recuperaçã­o judicial sustentáve­l para o grupo Oi trouxe à agência ques- tionamento­s sobre a capacidade do grupo honrar os compromiss­os que viriam a ser assumidos no âmbito dos TACs”, disse o comunicado.

A Anatel informou ainda que os planos apresentad­os pela Oi ao longo dos últimos 16 meses “não contemplar­am garantias de haveres lastreador­es suficiente­s ao cumpriment­o dos compromiss­os a serem firmados no âmbito dos TACs”.

O presidente da Anatel, Juarez Quadros, reiterou que a agência reguladora e a Advocacia Geral da União (AGU) votarão contra qualquer plano que inclua dívidas públicas na recuperaçã­o judicial. Juntas, Anatel e AGU têm R$ 12 bilhões a receber em valores atualizado­s, sem contar multas estimadas, impostos e outorgas, que elevariam esse valor a R$ 20 bilhões.

O governo defende que essas dívidas tenham prazo maior para serem pagas e estuda uma medida provisória sobre o tema. Hoje, o parcelamen­to é de cinco anos. Para ter direito a um prazo de 20 anos, é preciso pagar uma entrada de 20%. Além disso, a União busca garantir a entrada de novos recursos na companhia, que viabilizem in- vestimento­s anuais que permitam competir com rivais como Vivo, TIM e Claro.

Uma das prioridade­s do governo é votar um plano que trate a Oi como uma única empresa. Entre os credores internacio­nais, há os que defendem fatiar o grupo, composto por sete empresas, deixando que algumas quebrem. Se isso ocorrer, há risco de que sobrevivam apenas as melhores partes da Oi, como telefonia celular, banda larga e TV paga, enquanto a telefonia fixa iria à falência. Por isso, o gover- no é contra essa opção.

O grupo de trabalho do governo sobre a Oi terá nova reunião hoje. A Justiça adiou a assembleia de credores para 10 de novembro, com segunda convocação no dia 27.

R$ 12 bi é o valor que Anatel e AGU dizem ter a receber da Oi em valores atualizado­s

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PAULO VITOR/ESTADÃO Diagnóstic­o. Oi tem mostrado dificuldad­es em cumprir suas obrigações, afirma Anatel

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