SOS MEIO AMBIENTE
Depois do vaivém que culminou com a manutenção da Renca, reserva mineral de cobre na Amazônia, Temer, na busca de agenda positiva, aterrissou sábado no Pantanal, na hora de almoço. Foi recebido por Roberto Klabin, dono do Refúgio Ecológico Fazenda Caiman e presidente do SOS Pantanal – de início, a visita do presidente não estava prevista no encontro, que debateu a primeira Carta Caiman. Editada ano passado, ela propunha várias estratégias de conservação.
Convencido pelo deputado Zeca Sarney – exonerado até quinta-feira do Ministé- rio do Meio Ambiente – , Temer chegou com comitiva e assessores algo truculentos. Ali anunciou a medida provisória esperada por ambientalistas e ruralistas presentes: o Ibama vai poder usar recursos de multas aplicadas pelo instituto, pelo ICMBio e pela ANA para projetos prioritários do governo, cobradas com desconto de 60%. O desconto, porém, pode cair para 35% se o projeto ambiental for outro. Lá estavam representantes das estatais –e a Petrobrás já concordou em transformar multa de R$1,2 bilhão em investimento ambiental. A Sanepar repete a iniciativa com outros R$ 400 milhões. Essa primeira fase abraça débitos de R$ 4,2 bilhões.
Questão levantada: isso significa perdão de parte das dívidas? Mais ou menos. Hoje elas já são negociadas com descontos – e, mesmo assim, só 5% das multas são pagas. O restante é judicializado. O que significa jogar muito lá para a frente a quitação de qualquer valor.
Durante o churrasco oferecido pela SOS Pantanal, Temer sentou-se à mesa de dez lugares com ambientalistas, fazendeiros, Zeca Sarney... e mais ouviu do que falou. Os assuntos, pela ordem, foram: meio ambiente, meio ambiente e meio ambiente. Nenhuma só palavra sobre a votação na quarta- feira. “Temos que conversar com os estrangeiros para que eles paguem também a conservação ambiental brasileira”, disse Temer, secundado por Sarney. No ver de ambos, os benefícios da preservação são para o mundo todo. “Isso há de valer algo”, apontou o presidente, que, mesmo com a obstrução parcial de uma veia do coração, não rejeitou uma única vez o rodízio de carnes. E a caipirinha de maracujá. O “deputado-em-exercício” Zeca Sarney explicou ali que o governo montou um fundo para receber o pagamento das multas e também o das compensações ambientais não realizadas. Para tanto, conta será aberta em banco público. “Tem que ser”, completou Temer, que se surpreendeu ao saber que o passivo total das infrações soma... R$ 90 bilhões.
Primeiro projeto a ser beneficiado? O da recuperação do Rio São Francisco.
Temer não saiu sem antes elogiar Klabin. “Tenho muito respeito por quem, da iniciativa privada, exerce função pública sem ser funcionário público”. Klabin milita na área ambiental há mais de 30 anos e foi o fundador da SOS Mata Atlântica.