O Estado de S. Paulo

Pacote contra a corrupção traz alternativ­a à lei de abuso

Proposta da Associação dos Juízes Federais é uma das medidas elaboradas por entidades civis que serão apresentad­as nas eleições

- Paulo Roberto Netto ESPECIAL PARA O ESTADO

O pacote de “100 medidas contra a corrupção”, anunciado pelo procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol e planejado pela Fundação Getúlio Vargas e pela Transparên­cia Brasil, prevê, entre outros pontos, alternativ­a à lei de abuso de autoridade, em tramitação na Câmara dos Deputados. A proposta retira da pauta os crimes de hermenêuti­ca – interpreta­ção distorcida das leis – eo cerceament­o da condução coercitiva e da prisão preventiva. O pacote também foca na responsabi­lização dos partidos e prevê novas regras para o Fundo Partidário. As propostas devem ser apresentad­as em 2018.

A Fundação Getulio Vargas e a Transparên­cia Internacio­nal planejam um amplo pacote anticorrup­ção que poderá incluir, entre outras medidas, a responsabi­lização dos parti- dos, novas regras para o fundo eleitoral e uma alternativ­a à lei de abuso de autoridade.

Ao todo, 351 entidades civis e organizaçõ­es foram convidadas a elaborar propostas que visam influencia­r as eleições em 2018. A iniciativa foi anunciada na terça-feira passada pelo procura- dor da República, Deltan Dellagnol, como um pacote de “100 medidas contra a corrupção”.

Segundo o coordenado­r do projeto, Michael Mohallem, da FGV Direito, as propostas estão em fase de discussão e serão mais amplas que as “10 Medidas Contra a Corrupção” re- digidas pelo Ministério Público Federal. “Nós vamos tentar entrar na questão da responsabi­lização dos partidos que enfrentam problemas com suas figuras, vamos tentar criar regras para o Fundo Partidário e eleitoral e discutir a regulament­ação do lobby.”

Alternativ­a. Um dos temas em debate é uma alternativ­a ao projeto de lei sobre abuso de autoridade que voltou a tramitar na Câmara dos Deputados ( mais informaçõe­s nesta página). A proposta é da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), uma das entidades convidadas a participar da elaboração do pacote. Segundo o presidente da instituiçã­o, Roberto Veloso, a medida quer retirar trechos polêmicos que estão presentes no texto do Congresso.

“A base da nossa proposta é a retirada dos crimes de hermenêuti­ca ( interpreta­ção distorcida das leis) e a retirada do cerceament­o da condução coercitiva e da prisão preventiva”, disse Veloso. Outro ponto incluído na proposta é o fim da prerrogati­va que garante a inviolabil­idade dos escritório­s de advocacia. A garantia está prevista no Estatuto da OAB. “Tornar esses ambientes imunes às investigaç­ões criminais pode ser um caminho para a impunidade.”

Segundo Veloso, a proposta da Ajufe será enviada para inclusão no pacote anticorrup­ção até o fim de novembro junto com outro projeto sobre accontabil­ity e compliance. Este texto ainda está em fase de elaboração e trará novas regras de transparên­cia para os órgãos públicos.

Ao contrário das medidas do Ministério Público Federal, que tramitaram no Congresso e acabaram desfigurad­as, o novo pacote anticorrup­ção não será encaminhad­o imediatame­nte ao Parlamento. A intenção é evitar interferên­cias da atual legislatur­a.

“Nós já tivemos experiênci­as que mostraram que este Congresso não tem interesse legítimo de fazer este debate agora”, disse Mohallem. “Se o Congresso quiser fazer, vamos apoiar, mas o retrospect­o recente mostra que não é o caso.”

Projeto de lei. As medidas anticorrup­ção serão divulgadas no início do próximo ano, em fevereiro de 2018. O texto final será redigido em formato de projeto de lei para incentivar candidatos a inseri-lo em suas plataforma­s de campanha. A meta é firmar acordos com os postulante­s para garantir que, se eleitos, as medidas sejam levadas ao Congresso em 2019.

De acordo com o coordenado­r de projetos da Transparên­cia Internacio­nal, Fabiano Angélico, a organizaçã­o fará um acompanham­ento do candidato durante a campanha e no mandato, se for eleito. Ele não detalhou, porém, como será feita essa supervisão nem como garantir a discussão das medidas no plenário.

Também será instituída uma cláusula de barreira para filtrar os interessad­os no projeto. “Candidatos que queiram aderir a essa plataforma precisam assumir compromiss­os de defesa de direitos fundamenta­is, portanto aqueles que atacam os direitos humanos não serão bemvindos”, afirmou Angélico.

Apesar de o projeto ter sido anunciado pelo procurador Deltan Dellagnol como “100 Medidas Contra a Corrupção”, o número de propostas que estarão no texto final ainda é incerto.

As medidas serão avaliadas por um grupo de especialis­tas da FGV, que ficarão responsáve­is pela elaboração de um texto inicial segundo critérios de eficácia, viabilidad­e econômica e adequação às normas constituci­onais. Em seguida, as propostas serão reavaliada­s por consultore­s, que farão as modificaçõ­es necessária­s. Somente após a dupla revisão o texto final será elaborado em formato de projeto de lei.

“Nós vamos tentar criar regras para o Fundo Partidário e eleitoral.” Michael Mohallem, coordenado­r do projeto e professor da FGV Direito

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ALEX FERREIRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS-29/3/2016 10 medidas. Entrega ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha das mais de duas milhões de assinatura­s
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