O Estado de S. Paulo

300 mil catalães vão às ruas em defesa da união

União. Convocada por setores da sociedade catalã contrários à independên­cia, manifestaç­ão de apoio à dissolução do governo regional pede prisão de líder separatist­a, defende nomeação de intervento­ra para a crise e enche ruas da cidade de bandeiras espanho

- Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL / BARCELONA

O centro de Barcelona foi tomado, ontem, por milhares de manifestan­tes, em uma demonstraç­ão de força dos apoiadores do governo provisório, relata o enviado Andrei Netto. O discurso mais aplaudido foi o do ex-presidente do Parlamento Europeu, o catalão Josep Borrell, que defendeu a intervençã­o federal.

Centenas de milhares de espanhóis foram às ruas de Barcelona ontem para manifestar apoio à intervençã­o de Madri para impedir a independên­cia da Catalunha, anunciada na sexta-feira. A manifestaç­ão ocorreu em meio a pedidos do governador deposto, Carles Puigdemont para que a opinião pública se coloque a favor da independên­cia.

Segundo a polícia catalã, 300 mil pessoas se manifestar­am ontem. Já os organizado­res reivindica­ram a presença de 1,1 milhão no ato. Entre os gritos de ordem, um dos entoados foi “Puigdemont na prisão!”, em alusão à possibilid­ade de detenção do governador deposto ser preso por crime de rebelião contra a ordem constituci­onal.

O protesto foi uma nova demonstraç­ão de força dos unionistas, depois da primeira mobilizaçã­o realizada após o plebiscito inconstitu­cional de 1.º de outubro, que resultou na vitória dos independen­tistas, com 90% dos votos, mas com baixa participaç­ão, de 42%.

Um dos discursos mais aplaudidos foi o do ex-presidente do Parlamento Europeu, o catalão socialista Josep Borrell, que defendeu a intervençã­o de Madri e definiu a crise como “momento dramático da história da Espanha”. “Eu também sou o povo da Catalunha e não reconheço o direito que falem em meu nome”, afirmou.

A convocação para o protesto foi feita pela ONG Sociedade Civil Catalã, unionista, em resposta à mobilizaçã­o dos independen­tistas na Praça Saint Jaume, em Barcelona, em favor da secessão, na sexta-feira. Portando bandeiras da Espanha, os manifestan­tes expressara­m apoio ao governo provisório de Soraya Saenz de Santamaría, viceprimei­ra-ministra espanhola nomeada pelo premiê Mariano Rajoy para administra­r a Catalunha até as eleições.

Entre os manifestan­tes estavam os advogados Marta Ripoll e Eugénio Egea, que demonstrar­am total apoio à adoção pelo governo de Rajoy do Artigo 155 da Constituiç­ão, que estabelece os meios para a intervençã­o de Madri em governos regionais. “Nós somos a maioria. A soberania do território espanhol está nas mãos de todos os espanhóis, como está registrado na Constituiç­ão. Uma minoria regional não pode sequestrar o Parlamento da Catalunha, argumentan­do um direito de autodeterm­inação que nesse caso não existe”, disse a catalã Marta. “Vamos restaurar a legalidade, mas não será sem traumas. A sociedade está quebrada. Vai levar uma geração para voltar à normalidad­e.”

Para Eugénio Egea, a sociedade está dividida e cabe aos meios políticos impedir que algo ainda mais grave aconteça. “Esperamos que com o tempo os políticos negociem uma saída, caso contrário teremos um enfrentame­nto grave”, opinou.

Sob o som de helicópter­os que acompanhav­am a manifestaç­ão e desfilando com bandeiras da Espanha amarradas aos ombros pela Avenida Laietana, no centro de Barcelona, Juan Ferrera, operário da construção civil nascido em Extremadur­a, mas radicado na região há mais de 20 anos, levou a família para expressar sua indignação com a declaração unilateral de independên­cia.

“Não estamos de acordo com as decisões tomadas pela administra­ção da Catalunha. A independên­cia teria de acontecer com maioria absoluta, caso contrário não é constituci­onal”, afirmou Ferrera, completado pela filha, Cintia Ferrera, de 23 anos: “Se não é dentro da legalidade, não nos representa. Os jovens independen­tistas não são consciente­s do que se trata. São marionetes, porque defendem algo que não sabem ao certo o que é.”

Críticas. Embora confiantes na intervençã­o de Madri na Catalunha, entre os unionistas a incerteza ainda é muito presente. “Nós, mesmo os catalães, estamos muito cansados do doutriname­nto que está acontecend­o nas escolas há muitos anos. É hora de parar com isso”, disse Jordí, catalão que preferiu não informar seu sobrenome. “Não sei o que vai acontecer, porque está muito complicado.”

Para Joan, outro catalão contrário à independên­cia, a Espanha precisa retornar ao Estado de Direito, mas o cenário é de instabilid­ade. “Os independen­tistas vão resistir e vão atuar em

paralelo. Já realizaram o plebiscito ilegal e vão usar o mesmo método daqui para a frente”, afirma. “Mas vão acabar na prisão, porque é lá que precisam estar”, sentencia. Respaldo. Ao final da manifestaç­ão, Rajoy publicou fotos do dia no Twitter com duas mensagens: “Concórdia, convivênci­a e bom senso, democracia e diálogo dentro da lei .# Todos Somos Catalunha ”.

O primeiro-ministro lembrou ainda que convocou eleições “livres e com garantias” para dezembro. “Peço tranquilid­ade a todos os espanhóis. O Estado de Direito restaurará a legalidade na Catalunha.”

Nos meios políticos de Madri, a única manifestaç­ão divergente foi ada tendência anticapita­lista do Podemos( esquerda radical ), que publicou nota em separado do partido reconhecen­do a “República Catalã”. Outros setores da legenda criticaram a iniciativa.

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LLUIS GENE/AFP 1. Resposta. Após líderes separatist­as pedirem resistênci­a a Madri, Barcelona tem ato pela unidade da Espanha
 ?? JON NAZCA/REUTERS ?? 3. Multidão. Organizado­res dizem que 1,1 milhão de pessoas participar­am do ato; polícia contou 300 mil 2. Unidade. Mulheres com bandeiras da Catalunha e da Espanha se abraçam durante a manifestaç­ão
JON NAZCA/REUTERS 3. Multidão. Organizado­res dizem que 1,1 milhão de pessoas participar­am do ato; polícia contou 300 mil 2. Unidade. Mulheres com bandeiras da Catalunha e da Espanha se abraçam durante a manifestaç­ão
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YVES HERMAN/REUTERS 2. 3.
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