O Estado de S. Paulo

DIRETO DA FONTE

Primeira-dama paulista conta, em livro, como encara a vida após a perda do filho mais novo

-

Lu Alckmin

Em entrevista, primeira-dama de São Paulo fala sobre seu livro e a dor de perder o filho.

Era véspera de Páscoa e dona Lu Alckmin estava em Campos do Jordão esperando o restante da família chegar para o feriado. Enquanto lia um livro – seu maior hobby é ler – recebeu um telefonema que mudou sua vida para sempre. Do outro lado da linha, seu marido, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, pedia que ela voltasse para a cidade. “Ele não quis falar, mas na hora eu soube que era algo com o Thomaz.”

O caçula de seus três filhos – ela também é mãe da blogueira de moda Sophia Alckmin e do executivo de banco Geraldo Alckmin Neto – tinha acabado de morrer em um acidente de helicópter­o. Piloto, Thomaz não estava no comando da aeronave no momento da queda, em São Paulo, no dia 2 de abril de 2015, aos 31 anos. “Mesmo sem saber, mas já sabendo, rezei a estrada inteira. Foi o momento em que me conectei com Deus e com o Thomaz”, disse a primeira-dama de SP à repórter Sofia Patsch, com um pacote de lenços nas mãos, sentada em um sofá de uma das salas do Palácio dos Bandeirant­es. Apesar de chorar, dona Lu faz questão de dizer que é uma pessoa feliz. “Eu choro, mas um minuto depois já estou sorrindo.”

Dois anos e meio depois do trágico acontecime­nto e após percorrer os 201 km da Rota da Luz – caminho de peregrinaç­ão feito a pé por romeiros de Mogi das Cruzes até Aparecida – dona Lu lançou – pela editora Planeta – o livro Amor Que Transforma, no último sábado, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

“O meu objetivo com esse livro é somente um: fazer o bem”. Além de espalhar uma mensagem de amor, ela pretende realizar o maior sonho de seu filho, que ela chama carinhosam­ente de ‘meu melhor amigo’. “Ele me disse que queria fazer coisas extraordin­árias e a Rota da Luz foi só o início.”

Outra lição que dona Lu tirou disso tudo foi a importânci­a de se viver o presente. Questionad­a se tem vontade de ser a primeira-dama do Brasil, ela responde: “Seria uma honra. Quero levar todos esses projetos que faço no Estado de SP para o Bra- sil inteiro. Mas também, se não for, não vou ser infeliz. Não estou preocupada com isso, estou preocupada em viver o agora.” Aqui vão os melhores momentos da conversa emocionada e exclusiva.

A ideia de escrever o livro surgiu quando a senhora estava fazendo a caminhada da Rota da Luz. Como foi esse processo?

O Thomaz acompanhou a criação dessa rota desde o início. Costumava me dizer: “Mãe, quando a senhora fizer essa caminhada, vou junto de moto ou a cavalo”. Quando eu estava completand­o o projeto do percurso, ele partiu. Finalmente, no momento em que consegui fazer a caminhada, não houve um só momento em que eu não sentisse a presença dele. Ele voltou e entendi que minha missão é levar a sua luz para o resto do mundo. Decidi escrever o livro para espalhar uma mensagem que transforme a dor e a angústia em amor.

Qual foi a primeira reação quando soube da morte do Thomaz? Quando entrei no carro para voltar para São Paulo, mesmo sem ninguém ter dito nada claramente, pressenti e pedi a Deus que me desse sabedoria e força para entender a partida do meu filho. Lembro que era noite, já estava escuro, eu olhava pro céu, via uma estrel a e f a l a va. É o Thomaz, tinha certeza que aquela estrela era o Thomaz. Essa conexão com Deus me fez ser forte e lembrei muito da minha mãe.

No livro, uma das coisas que a senhora conta é que sofreu muito quando sua mãe morreu. A relação era parecida com a que tinha com o Thomaz, né?

No momento em que soube da morte do Thomaz pensei: quando a mamãe partiu, eu tinha o consolo dos meus três filhos. Chorei um ano, tinha febre toda noite. Me perguntei então: vou ficar chorando outra vez e perder a oportunida­de de viver ao lado daqueles que estão comigo? Foi aí que compreendi os desígnios de Deus. Thomaz cumpriu sua missão na Terra. Foi Deus que me mostrou esse caminho. E todos nós estamos aqui de passagem, né? Era a hora de ele partir. E, graças a Deus, eu tinha estado um dia antes com ele – e ele estava muito feliz.

Sim, no livro a senhora cita esse encontro como uma despedida.

É. Nós sempre tivemos muita afinidade. Ele não deixava um dia de me ligar, de vir me ver.

A senhora o descreve no livro como seu ‘melhor amigo’.

Amo todos os meus filhos por igual. Mas o Thomaz era muito ligado a mim, acompanhav­a todos os meus projetos sociais. Ele sempre foi muito especial. E eu lembro que no dia do acidente eu estava lá, ao lado do caixão, fiquei o tempo todo ao lado dele. Eu pensei assim: Thomaz, você vai continuar a viver por meio do meu trabalho social. E a hora em que o caixão saiu eu ainda virei para as meninas e falei: “Me deem um mês, daqui um mês eu volto a trabalhar, e quero trabalhar três vezes mais do que trabalho hoje”.

E foi assim que a senhora fez... Sim, voltei com força total. Sinto a presença dele muito forte quando estou fazendo qual- quer trabalho social. Quando alguém vem me falar ‘ai, dona Lu, agora estou podendo pagar as contas da minha casa’, digo baixinho: Thomaz é você que está fazendo isso através de mim. Quando partimos, não levamos nada material. A única coisa que levamos é o bem que fazemos por aqui.

A senhora é muito religiosa? Sou. E fiquei mais, por incrível que pareça. Vou à missa todo o domingo. Antes, não ia. Sou católica, mas também leio livros sobre o budismo. Respeito todas as religiões.

Hoje a senhora comanda as Padarias Artesanais e as Escolas de Moda, Beleza e Construção Civil, frutos de seu trabalho como presidente do Fundo Social de Solidaried­ade. Como começou a fazer trabalho voluntário? Comecei em 2001, com as Padarias Artesanais. Dona Lila Covas ainda era a presidente do Fundo Social de Solidaried­ade. Lembro que foi nessa época que comecei a fazer uma das coisas de que mais gosto, que é estar na periferia de São Paulo, ouvindo as pessoas. É nessa hora que faço a avaliação dos projetos, a hora em que adoro ouvir as pessoas, o modo como elas veem as coisas. Aprendi com Cleuza Ramos, uma grande líder comunitári­a que mora no Itaim Paulista e minha amiga, que as pessoas não querem esmola, elas querem qualificaç­ão e trabalho. E é isso que tento dar a elas com os cursos que desenvolvo com minha equipe.

A senhora é a sétima filha de uma família de doze irmãos, perdeu seu pai aos onze anos, foi criada por sua mãe em um sítio perto de Pindamonha­ngaba e não fez faculdade. Mesmo assim, seu maior hobby é ler. Como foi a sua infância?

Lembro que comecei a estudar, mas não era em uma escola, eram grupos escolares e a sala de aula ficava dentro de uma fábrica de farinha. Eu chegava toda arrumadinh­a, de saia pregada, e voltava branca, porque a farinha entrava na sala e sujava todo mundo. Tive uma infância maravilhos­a, em contato com a natureza. O Thomaz também adorava a natureza, os animais, nessas coisas ele me puxou.

No livro, a senhora conta como a sua família é unida... Somos, mas toda família tem que ser, não é mesmo? Família é a base de tudo.

Como a senhora reage a todas as notícias que saem na mídia sobre a disputa de seu marido com o prefeito João Doria pela vaga de candidato à presidênci­a pelo PSDB? Quando o Geraldo entra por aquela porta, ele não toca mais no assunto política. E eu, como também não sou de política, respeito. Se ele fala alguma coisa eu até dou a minha opinião, mas o fato é que ele nunca fala nada. Nunca. Ele é uma pessoa muito tranquila, graças a Deus. Não adianta a gente ficar preocupada com o que vai acontecer, sabe? O que aprendi é que a gente tem que viver o momento presente. Nós não sabemos nem se vamos estar vivos amanhã, quanto mais no ano que vem.

‘QUERO SER A LU, SEMPRE. EU SOU, NÃO ESTOU. ESTAR É PASSAGEIRO’

Seria uma honra. Quero levar todos esses projetos que faço no Estado de SP para o Brasil inteiro, mas também, se não for, não vou ser infeliz. Não estou preocupada com isso, estou preocupada é com viver o agora.

Ser primeira-dama é uma posição que representa sempre muita pressão. De que forma lida com isso?

Quero ser sempre a Lu. Eu “sou”, eu não “estou”. Estar é passageiro. Tem pessoas que assumem uma posição e se acham mais importante­s dos que as outras, acham que são melhores, e daí, o que acontece? No dia em que, por qualquer motivo, deixam essa posição, entram em depressão. Mas a senhora tem vontade de ser a primeira-dama do Brasil?

 ?? DENISE ANDRADE/ESTADÃO ??
DENISE ANDRADE/ESTADÃO
 ?? DENISE ANDRADE/ESTADÃO ??
DENISE ANDRADE/ESTADÃO
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil