O Estado de S. Paulo

Fábrica de chip de Eike gasta R$ 1 bi e quase não produz

Tecnologia. Idealizada para ser uma campeã nacional, empresa, que tem o BNDES como acionista e deveria ter sido inaugurada em 2014, é pré-operaciona­l e depende de aporte de R$ 200 milhões para trabalhar a pleno vapor; banco busca sócio para o negócio

- Mônica Scaramuzzo

Criada para ser a “campeã nacional de tecnologia”, a fábrica de chips Unitec, fruto de uma parceria do BNDES com Eike Batista, consumiu R$ 1 bilhão em investimen­tos, mas ainda está pré-operaciona­l. Depende do aporte de R$ 200 milhões para funcionar em grande escala. A empresa estaria negociando a entrada de novo sócio que, especula-se, seria chinês.

O Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) está fazendo uma força-tarefa para tirar definitiva­mente do papel a Unitec, fábrica de semicondut­ores (chips) que já recebeu investimen­to de quase R$ 1 bilhão, mas ainda é pré-operaciona­l. Idealizada em 2012 para ser uma “campeã nacional de tecnologia”, a companhia tinha como um dos acionistas o empresário Eike Batista.

Batizada originalme­nte como Six Semicondut­ores, a empresa foi erguida em Ribeirão das Neves (região metropolit­ana de Belo Horizonte), mas ainda precisa de aporte de R$ 200 milhões para funcionar em grande escala. Como uma das financiado­ras, a Finep, empresa pública de incentivo à ciência, não estaria disposta a injetar mais capital na companhia, os sócios estão à procura de alternativ­as, afirmam fontes próximas ao negócio. A Finep teria de investir mais cerca de R$ 70 milhões.

“O projeto passou por alguns percalços, mas acreditamo­s que a Unitec é uma empresa estratégic­a para o País”, afirmou ao Estado Eliane Lustosa, diretora de mercado de capitais do BNDES. Os acionistas estão discutindo agora a reestrutur­ação de capital da companhia. “Deveremos anunciar até o início de dezembro a entrada de um sócio estratégic­o”, disse a executiva.

A expectativ­a inicial era de que a fábrica fosse inaugurada em 2014, mas os prazos foram sendo prorrogado­s. No fim de 2016, a empresa deu início à produção de encapsulam­ento de circuitos integrados e do design desses chips, mas ainda está longe de produzir os próprios chips.

Projeto inicial. À época que foi projetada, a Six Semicondut­ores tinha como sócios o BNDES, com 33%; Eike Batista, com outros 33%; o Banco de Desenvolvi­mento de Minas Gerais (BDMG), com 6,5%; a construtor­a Matec (6,1%), a empresa de tecnologia WS Intecs (2,6%); e a IBM, com 18,8%. Quando o grupo de Eike Batista entrou em crise, o empresário vendeu a parte dele para o grupo Corporació­n América, controlado­r da Inframéric­a, dona dos aeroportos de Brasília e Natal e a empresa mudou de nome.

A companhia, que está com 90% das obras concluídas, recebeu injeção de capital de todos os acionistas e de bancos financiado­res de quase R$ 950 milhões, dos quais R$ 583,4 milhões em aporte direto e R$ 364,1 milhões em financiame­ntos. Só o BNDESPar injetou R$ 245 milhões. A Finep se compromete­u a colocar R$ 207 milhões, mas o repasse feito até agora foi de R$ 135,3 milhões.

Procurada, a Finep informou ao Estado que “liberou até o momento cerca de R$ 135 milhões para a fábrica, que também possui outros financiado­res. Ainda não há previsão para a conclusão dos repasses, que acontecem de acordo com regras legais”. BDMG e Corporació­n America afirmam que estão confiantes na reestrutur­ação.

Gigante dos chips esbarra em vários obstáculos

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WASHINGTON ALVES/ESTADÃO

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