O limão e a limonada
O antigo Estádio de Wembley, palco da Copa do Mundo de 1966, foi o estádio nacional inglês por 80 anos (1923-2003), demolido para dar lugar ao atual, maior e mais moderno. O Parque dos Príncipes, em Paris, construído em 1897, foi demolido e reconstruído em 1972. Diversos templos do futebol ao redor do mundo foram igualmente reconstruídos ao se tornarem velhos e obsoletos. Por que o projeto do Novo Pacaembu não faz o mesmo? Por que mantém o estádio inaugurado em 1940 e não mexe na Praça Charles Miller? Por que é tão importante manter o conjunto arquitetônico do estádio e do muro do cemitério do Araçá, ambos incluídos na lei que determinou o tombamento da área? Hoje o es-
tádio é usado mais assiduamente pelo Santos FC e eventualmente pelo Palmeiras e pelo São Paulo, quando seus estádios estão ocupados com shows. Sou torcedor do Santos, morador na região e frequentador do semiabandonado clube do Pacaembu, mas defendo melhor utilização desse local. Que tal se usássemos a área total, de cerca de 100 mil metros quadrados, de forma mais nobre? E 24 horas por dia! Hoje temos um clube degradado, um estádio velho e um imenso cimentado chamado de praça, cuja única utilidade é ser tampa do primeiro piscinão de São Paulo. Que tal um projeto que inclua esporte, cultura, lazer, entretenimento e recreação? O clube com mais salas de esportes, quadras, piscinas cobertas – e aberto ao público, como é hoje. Um espaço com museus (o Museu do Futebol é um deles), teatros, biblioteca, galerias e salas de exposições, de reunião e conferência, hotel, restaurantes, locais de convivência, centro de saúde. E um espaço fechado e coberto para as feiras que se realizam semanalmente. Muito mais confortável e higiênico. Quem disse que feira tem de ser em barraquinha? Tudo isso coberto por imenso jardim com espaço para programas culturais, dentro de elementos verdes e paisagísticos. Ah, e o campo de futebol? Totalmente dispensável. O Palmeiras e o São Paulo podem adequar a agenda dos seus jogos e o Santos pode mandar usar o Ibirapuera, se aumentar um pouco a capacidade, ou fazer um acordo e reformar o Canindé. O que mais se aproxima dessa ideia é o Centro Georges Pompidou, na França, ou o Centro Internacional de Cultura e Artes Changsha Meixihu, na China, projetado pelo escritório Zaha Hadid Architects e em final de construção. Ainda dá tempo de transformar esse limão velho numa deliciosa limonada.
RUBENS A. C. CÄSTRO castro.rubens@gmail.com São Paulo