O Estado de S. Paulo

‘Superpoder­es’ do MP reforça defesa de projeto na Câmara

Parlamenta­res avaliam que resolução editada por Janot evidencia a necessidad­e de se impor limites a investigaç­ões

- Thiago Faria Isadora Peron / BRASÍLIA

A resolução do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que concede uma espécie de “superpoder” a promotores e procurador­es deve dar força ao projeto que trata da lei de abuso de autoridade­s e mudanças no Código de Processo Penal, avaliam parlamenta­res da base e da oposição no Congresso. As duas propostas estão em discussão na Câmara.

Conforme mostrou ontem o Estado, antes de deixar o co- mando do CNMP, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot editou uma resolução que libera integrante­s do Ministério Público a realizar vistorias, inspeções e diligência­s, e a requisitar informaçõe­s e documentos de autoridade­s públicas e privadas sem autorizaçã­o judicial. As normas são contestada­s por entidades que representa­m magistrado­s, advogados e policiais federais.

“É o típico caso de abuso de autoridade. É a mesma coisa que juízes estão fazendo. É a tal da hermenêuti­ca criativa. Eles fazem um concurso público e acham que podem redigir a lei. Quem faz a lei é o Poder Legislativ­o”, afirmou o senador Roberto Requião (PMDBPR). “Isso provavelme­nte vai ajudar a passar na Câmara o projeto de abuso de poder.”

O projeto, relatado por Requião no Senado, passa a prever mais de 30 ações que podem ser considerad­as abuso de autoridade, com penas que variam de seis meses a quatro anos de prisão. Embora seja do PMDB, partido do governo, Requião faz oposição a Michel Temer.

A proposta é alvo de críticas por parte de integrante­s do Ministério Público e do Judiciário, que veem nas medidas uma tentativa de coibir o trabalho da Operação Lava Jato.

Na quinta-feira passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criou uma co- missão especial para discutir o projeto. “É paradoxal, a essa altura, a Câmara querer agilizar o projeto de abuso de autoridade e deixar parada por sete meses a PEC que acaba com o foro privilegia­do. O que está sendo arquitetad­o, quase como premonição, é aquela história de grande acordo nacional contra a Lava Jato e todas as investigaç­ão”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Embora não tivesse analisado a resolução, o senador disse não acreditar em “excesso” na medida.

“É o típico caso de abuso de autoridade. É a mesma coisa que juízes estão fazendo. É a tal da hermenêuti­ca criativa. Eles fazem um concurso público e acham que podem redigir a lei.” Roberto Requião SENADOR (PMDB-PR)

Processo Penal. Presidente da comissão que discute a reforma do Código de Processo Penal na Câmara, o deputado Danilo Forte (sem partido-CE) afirmou que a postura do Ministério Público também “vai ajudar no convencime­nto dos parlamenta­res” e facilitar a aprovação da proposta. “Não se pode usar a Lava Jato como qualquer tipo de guarda-chuva para um comportame­nto abusivo. Isso demonstra a urgência da reforma do novo CPP. É preciso definir o papel da polícia, do Ministério Público e do juízo na investigaç­ão”, disse. Uma das alterações defendidas por Forte é a regulament­ação das delações premiadas.

 ?? MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL-19/04/2017 ?? Crítica. Para Requião, resolução é ‘abuso de autoridade’
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL-19/04/2017 Crítica. Para Requião, resolução é ‘abuso de autoridade’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil