O Estado de S. Paulo

Partidos na Câmara ignoram condenação de deputado preso

Sentenciad­o há cinco meses pelo STF, Celso Jacob, do PMDB, tem autorizaçã­o para trabalhar durante o dia

- Igor Gadelha/ BRASÍLIA

A Mesa Diretora da Câmara e partidos com representa­ção na Casa ignoram há cinco meses a condenação, já transitada em julgado, do deputado Celso Jacob (PMDB-RJ) pelo Supremo Tribunal Federal. Ele foi sentenciad­o pelos crimes de falsificaç­ão de documento e dispensa de licitação.

Embora a Constituiç­ão preveja que o peemedebis­ta deve perder o mandato por ter sido condenado, a direção da Casa e os partidos, inclusive os da oposição, não apresentar­am até agora no Conselho de Ética pedido de cassação do parlamenta­r.

O artigo 55 da Constituiç­ão estabelece que perde o mandato o deputado ou senador que “sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado”. A perda, porém, não é automática após a condenação. Para que o processo de cassação seja aberto, a Mesa Diretora da Casa Legislativ­a ou algum partido com representa­nte no Congresso deve apresentar o pedido. A palavra final é do plenário, por maioria absoluta da Casa – 257 deputados, no caso.

O Supremo rejeitou todos os recursos de Jacob e concluiu o julgamento no dia 23 de maio. Ele foi condenado a 7 anos e 2 meses de prisão por falsificar documentos e dispensar licitação para construção de uma creche em 2002, quando era prefeito da cidade de Três Rios (RJ). O deputado cumpre pena em regime semiaberto no complexo penitenciá­rio da Papuda e tem autorizaçã­o para trabalhar durante o dia.

Jacob foi preso em 6 de junho. A Vara de Execuções Penais do DF, porém, o autorizou a comparecer à Câmara em dias úteis, devendo retornar ao presídio para dormir.

Líder do PSOL na Câmara, o deputado Glauber Braga (RJ) disse que, para evitar arquivamen­tos, a sigla tem feito avaliações “caso a caso” antes de ingressar com processos no Conselho de Ética. “Existe um processo de blindagem. Se não tiver um acompanham­ento público, dificilmen­te se consegue um resultado que é a cassação.” Braga, porém, se recusou a comentar o caso de Jacob. “Tem uns dez casos que gostaria de entrar, mas não vou fazer análise pontual de caso x ou y.” ‘Inocente’. Ao Estadão/Broadcast, Celso Jacob disse que não houve pedido contra ele porque seus colegas sabem que ele é inocente. “Todo mundo sabe como foi meu caso. Por isso ninguém entra”, declarou. “Fiz uma creche, enquanto tem 1.804 creches inacabadas no Brasil. Sabia que ninguém foi preso por isso? Essa minha luta por terminar uma creche é que me trouxe esse problema.”

O deputado sustenta que não cabe representa­ção contra ele no conselho, pois a Justiça o autorizou a trabalhar e porque os crimes pelo qual foi condenado não foram cometidos no atual mandato.

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Elmar Nascimento (DEM-RJ), afirmou que a situação de Celso Jacob demonstra que a Constituiç­ão precisa ser “aperfeiçoa­da” para tornar automática a perda de mandato em caso de condenação.

“Fiz uma creche, enquanto tem 1.804 creches inacabadas no Brasil. Sabia que ninguém foi preso por isso?” Celso Jacob DEPUTADO DO PMDB-RJ

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-21/7/2017 ?? Defesa. Jacob: sentença não foi por crimes no atual mandato
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-21/7/2017 Defesa. Jacob: sentença não foi por crimes no atual mandato

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil