O Estado de S. Paulo

Independen­tistas resistem, mas já não governam a Catalunha

Ex-governador e seu vice depostos tentam manter normalidad­e, como se controlass­em governo; Madri assumiu região

- BARCELONA / A. N.

O movimento secessioni­sta que declarou a independên­cia da Catalunha na sexta-feira enfrenta hoje seu primeiro grande desafio: governar. Depostos pelas medidas de retaliação adotadas por Madri, o ex-governador Carles Puigdemont e seu vice, Oriol Junqueras, pregaram no fim de semana a “resistênci­a pacífica” e insinuaram que continuarã­o a trabalhar normalment­e, apesar da intervençã­o. O problema: o governo já não existe mais.

Menos de 72 horas após a declaração feita pelo Parlamento, também dissolvido por Madri, o movimento independen­tista tem poucos meios para continuar a administra­r a região.

O comando da gestão interina foi assumido ainda no sábado pela vice-primeira-ministra da Espanha, Soraya Sáenz de Santamaría, e todos os secretário­s de Estado regionais foram substituíd­os por executivos da confiança do governo central. No Legislativ­o, a presidente do Parlamento, a independen­tista Carme Forcadell, foi mantida no cargo, mas seu poder é ne- nhum, já que a câmara foi dissolvida e não fará mais votações significat­ivas até o final da legislatur­a, em 21 de dezembro.

Não se sabe nem mesmo se Puigdemont poderá ingressar hoje no Palau de la Generalita­t, a sede do poder em Barcelona, já que o comando da polícia local, a Mossos d’Esquadra, foi substituíd­o por um nome de confiança de Madri.

Ontem, durante protesto unionista em Barcelona, o Estado presenciou manifestan­tes hostilizan­do e entrando em atrito com policiais da Mossos d’Esquadra que fecharam o acesso às ruas que levam à praça do palácio de governo, um sinal de que a tensão continua presente e o ponto de conflito será em torno de quem ocupará a sede do governo nos próximos dias.

E, em meio às incertezas, as declaraçõe­s de efeito continua- ram. No sábado, em pronunciam­ento, e ontem, pelas redes sociais, Puigdemont apelou à “resistênci­a pacífica” e à “força do povo” da República da Catalunha e ironizou a derrota do Real Madrid frente ao Girona, da ci- dade independen­tista de mesmo nome.

Já Junqueras publicou artigo no jornal El Punt-Avui no qual tentou reafirmar a autoridade do governo, mesmo que deposto. “O presidente do país é e con- tinuará a ser Carles Puigdemont e a presidente do Parlamento continuará sendo Carme Forcadell, ao menos até o dia em que a cidadania decida o contrário em eleições livres”, afirmou.

 ?? REUTERS ?? Cerco. Líder separatist­a Carles Puigdemont tem poucos meios para impedir intervençã­o
REUTERS Cerco. Líder separatist­a Carles Puigdemont tem poucos meios para impedir intervençã­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil