O Estado de S. Paulo

A voz do esporte na TV brasileira vai mudar de tom

Galvão Bueno, o maior narrador do País, ‘muito provavelme­nte’ deve se despedir após a Copa da Rússia no ano que vem

- Narrador esportivo Wilson Baldini Jr.

A TV brasileira vai sofrer uma mudança significat­iva na área esportiva. Após 37 anos como narrador da TV Globo, Galvão Bueno se prepara para assumir um novo cargo nas transmissõ­es esportivas, após a Copa da Rússia. Em entrevista exclusiva ao Estado, durante o Galvão Bueno Invitation­al Embrase de Golfe, no São Fernando Golf Club, em Cotia, o “vendedor de emoções”, como ele próprio se intitula, revelou que “muito provavelme­nte” o Mundial do ano que vem será o seu último. “Poderei ir para o Catar como comentaris­ta, âncora... só não vou parar”, disse, muito simpático e animado, aos 67 anos. Sua intenção é seguir “naquilo que sabe fazer” até os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

Galvão também falou de golfe, uma de suas novas “paixões” ao lado do vinho, criticou os casos de corrupção en- volvendo os políticos do esporte, pediu auditoria em todas as confederaç­ões e federações, além de elogiar Tite, a seleção brasileira, Neymar e o Campeonato Brasileiro. No final, revelou uma frustração por jamais ter narrado um título mundial de um de seus filhos. “Mas parece que o Cacá pode disputar ainda um Mundial de Turismo”, afirmou, sempre com o sorriso no rosto. “Sempre penso positivame­nte. E acredito sempre no Brasil.”

Você acha que o golfe pode se tornar popular?

O golfe cresce, os campos de golfe vão surgindo e o número de golfistas aumenta. Precisa- mos de um Guga (Kuerten). Temos de terminar com o preconceit­o de que é esporte de rico.

E a crise no COB?

É grande balaio. É lamentável, mas o Ministério do Esporte nos últimos anos foi moeda de troca, foi moeda de pagamento político. Por que o Ministério do Esporte precisa pertencer ao mesmo partido sempre? Eu não me lembro qual foi o último ministro que teve alguma ligação com o esporte.

O que poderia ser feito?

Nós tivemos problemas com a confederaç­ão de futebol, temos um ex-presidente preso nos Estados Unidos, nós temos um presidente e um expresiden­te que não podem sair do Brasil, nós tivemos um presidente da confederaç­ão aquática preso, tivemos o presidente do Comitê Olímpico preso, temos outros que foram obrigados a se demitir, até para não serem presos, então será que não era o momento de o Ministério do Esporte determinar uma auditoria em todas as confederaç­ões nacionais e passar uma vassoura gigantesca.

A seleção de futebol conseguiu se afastar desse momento ruim? Vejo a seleção em um momento bom. Temos uma bela geração, um trabalho bem feito e liderado pelo Tite, que é um grande técnico e grande gestor de talentos. As pessoas se encantam com ele, o jogador corre por ele, se entrega por ele, o vestiário está feliz, percebe-se a diferença na concentraç­ão no comportame­nto dos jogadores.

E o Neymar?

Tem tudo para ser o homem da Copa.

Você queria a Argentina fora da Copa da Rússia?

Não, os melhores precisam estar na Copa do Mundo. Quando a gente fala de Copa quem entra como favorito é Brasil, Alemanha, Itália e Argentina. Portanto, Messi tem de estar na Copa.

E o Campeonato Brasileiro? Mais do que tecnicamen­te, me agrada pelo equilíbrio. Tem time que está na mesma distância da vaga na Libertador­es e para o rebaixamen­to.

Você falou que iria parar depois da Copa da África..

Isso foi um mal entendido. Eu não sei fazer outra coisa. Eu amo o que faço. Enquanto me aturarem... eu imaginava que a Copa na África do Sul seria minha última Copa fora do Brasil. Completei a décima na África, com o compromiss­o da Copa do Brasil em 2014. Naquele momento não me via na Rússia. Muito provavelme­nte a Rússia seja a derradeira, a 12.ª Copa.

Você começou a carreira como comentaris­ta?

Sim. Posso ir como comentaris­ta ou âncora. Projetar algo para o Catar. Se a saúde estiver bem... na Copa do Catar vou estar com 72 anos.

Ficou faltando narrar um filho campeão do mundo?

Isso eu sinto muita vontade da fazer. Consegui ter um filho campeão sul-americano, brasileiro ( o piloto Cacá Bueno, atualmente na Stock Car). Ficou uma frustração de não ter um campeão do mundo, mas parece que o Cacá tem uma proposta para ser piloto oficial em uma equipe no Mundial de Turismo. Falta o melhor ainda para a minha carreira. Quando fiz a transmissã­o do tetra, não pensava no penta. Agora pensamos no hexa e naquilo que possa acontecer. O melhor está sempre por vir. Tem de pensar positivame­nte.

E você pensa positivame­nte para o Brasil?

Acho que o melhor para o País ainda está por vir. Nós temos de acreditar na reconstruç­ão do Brasil. Não somos um país formado por pessoas erradas. Tivemos pessoa serradas atuando em momentos pontuais e importante­s. Acredito no Brasil, sempre acreditei.

Galvão Bueno NARRADOR ‘Vejo a seleção em um momento bom. Temos uma bela geração, um trabalho bem feito e liderado pelo Tite, que é um grande técnico e grande gestor de talentos. As pessoas se encantam com ele’

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DEIVIDI CORREA/AGNEWS O maior. Galvão tem 43 anos de profissão, 37 de Globo

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