O Estado de S. Paulo

Governo Temer deve desistir de reformular Infraero

Retirada de Congonhas do programa de privatizaç­ão e freio no desmonte da estatal atendem a pressões do PR, que domina a área de transporte­s

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Mesmo após perder a receita dos 9 aeroportos já concedidos e de outros 13 que estão na fila de transferên­cia à iniciativa privada, o governo de Michel Temer deve deixar de lado os planos para reestrutur­ar a Infraero e garantir sua sustentabi­lidade. Isso porque a desistênci­a de leiloar o Aeroporto de Congonhas, principal fonte de receitas da estatal, vai permitir que a empresa chegue ao fim de 2018 sem depender de dinheiro do Tesouro Nacional para pagar despesas de custeio.

“As medidas já tomadas e as que estão planejadas permitem dar fôlego financeiro para a Infraero até que o próximo governo resolva o que fazer”, disse ao Estado o secretário de Aviação Civil do Ministério dos Trans- portes, Dario Reis.

Para reequilibr­ar a Infraero, estavam em análise diversas alternativ­as, que iam de um total desmonte da empresa até seu fortalecim­ento com a injeção de recursos privados, passando pela abertura do capital. No entanto, o governo não chegou a um consenso sobre qual rumo tomar. De tudo o que foi discutido, a única mudança com chances de avançar é a criação de uma subsidiári­a responsáve­l pe- la navegação aérea.

O freio no desmonte da Infraero atende a pressões políticas do PR, partido que domina a área de Transporte­s desde 2003, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi por pressão do partido que Temer concordou em retirar Congonhas do programa de privatizaç­ão. Pela mesma razão, o Ministério dos Transporte­s autorizou a reabertura do Aeroporto da Pampulha para voos de longa distância.

As pressões do PR são admitidas por fontes do governo e por aliados do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que na prática comanda o partido. Os pleitos de Congonhas e Pampulha existiam há bastante tempo, mas as conversas se intensific­aram às vésperas da votação, pela Câmara, da segunda denúncia contra Temer. O partido tem uma ban- cada de 38 deputados. Mesmo com as concessões, 10 deles votaram contra o presidente.

O PR disse, em nota, que integra a base do governo e que não negociou votos. O líder do partido na Câmara, José Rocha (BA), disse que as decisões sobre Congonhas e Pampulha são políticas de governo.

Questionad­a, a Infraero disse que “o adiantado do trabalho de finalizaçã­o dos estudos indicam que os planos (de reestrutur­ação) serão executados dentro do planejado. A estatal informou, ainda, que Congonhas representa 15% do total do faturament­o da Infraero e “segue co- mo fonte indispensá­vel para a solvência do sistema.”

Saneamento. A principal medida de saneamento financeiro planejada para a Infraero é a venda das participaç­ões de 49% que ela tem nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos, Brasília, Confins e Galeão. Além de receber os recursos referentes à venda de sua participaç­ão acionária, a estatal deixará de ter gastos que hoje é obrigada a fazer na condição de sócia das concession­árias desses aeroportos. São investimen­tos previstos nos contratos e taxas de outorga devidas ao próprio governo federal.

Ainda não se sabe quanto essas participaç­ões deverão render. Estão em curso estudos que determinar­ão seu valor. Mas, segundo Reis, secretário de Aviação Civil, serão recursos suficiente­s para garantir o funcioname­nto da estatal por uns dois anos sem precisar recorrer ao Tesouro. Assim, o futuro governo terá tempo para decidir o que fazer com a Infraero.

Este ano, a Infraero deverá fechar com um resultado operaciona­l positivo em torno de R$ 400 milhões. As receitas são estimadas em R$ 3,2 bilhões e as despesas, em R$ 2,8 bilhões. Se forem considerad­os os investimen­tos, porém, a conta sai do campo positivo para um prejuízo entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões.

As receitas deste ano foram engordadas pela demora na transferên­cia dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópo­lis e Porto Alegre, leiloados em março, para seus concession­ários. Os grupos que arrematara­m esses aeroportos só receberão totalmente os terminais em dezembro. Assim, durante praticamen­te todo este ano, a Infraero ficou com a receita gerada por eles. É algo como R$ 250 milhões.

“Realmente, é preciso pensar a situação da Infraero num contexto bem amplo”, disse a advogada Letícia Queiroz, do escritório Queiroz Maluf, especialis­ta em concessões. “Não sou de visão estatizant­e, mas não dá para acabar com ela sem ter certeza que haverá quem opere os aeroportos deficitári­os.”

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J.F.DIORIO/ESTADÃO-7/10/2017 Balanço. Infraero deve fechar ano com saldo de R$ 400 mi

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