O Estado de S. Paulo

Uso de FGTS para pagar Fies pode liberar R$ 70 bi

MP com novas regras para o Fundo de Financiame­nto Estudantil deve ser votada esta semana; várias áreas do governo cobiçam recursos do FGTS

- Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

O uso de depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para pagar dívidas do financiame­nto estudantil poderá levar ao saque de R$ 70 bilhões de recursos do fundo dos trabalhado­res. A estimativa foi feita pela Caixa Econômica Federal a pedido do Conselho Curador do FGTS e obtida pelo ‘Estadão/Broadcast’. O valor é 60% maior do que o montante que foi sacado das contas inativas este ano.

Nesta semana, está pautada para votação na Câmara a Medida Provisória 785, com novas regras para o Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies). Foi incluída uma emenda permitindo que trabalhado­res retirem recursos de suas contas do FGTS para amortizar ou quitar dívidas com o Fies.

A mudança conta com o apoio do Ministério da Educação e da ala política do governo, mas tem a oposição da equipe econômica, que tem atuado para que a MP não seja aprovada.

Com o Orçamento da União sem espaço para iniciativa­s que injetem dinheiro na economia, os recursos do FGTS têm sido cobiçados por diversas áreas do governo. Há propostas em estudo para ampliar o uso dos depósitos do fundo para pagar empréstimo­s consignado­s e para ajudar a Caixa a cumprir regras internacio­nais de capital.

O representa­nte da Central Única dos Trabalhado­res (CUT) no conselho curador, Cláudio Gomes, disse ao Estadão/Broadcast que os trabalhado­res estão acompanhan­do com “preocupaçã­o” as medidas em discussão. “São sempre causas justas, mas que fogem da finalidade do fundo que é garantir que o trabalhado­r tenha recursos para sacar em um mo- mento de necessidad­e e que os depósitos sejam utilizados em ações que estimulem a criação de empregos.”

O relator da MP 785, deputado Alex Canziani (PTB-PR), explica que incluiu em seu relatório a previsão de que o uso dos recursos do FGTS para pagar financiame­ntos do Fies atendam a critérios definidos pelo próprio conselho curador, o que impediria o saque de volumes que prejudique­m a gestão do fundo. “O uso de recursos do trabalhado­r para a sua formação pode alavancar a carreira dele e aumentar a renda. O que é mais importante, a sua formação ou a compra de uma casa com o dinheiro do FGTS?”, questiona.

Propostas. O governo vem buscando medidas para estimular a economia sem afetar o ajuste fiscal. Uma proposta em estu-

Mina de ouro Os recursos do FGTS têm atraído a atenção de muitos setores. Há propostas para usar o dinheiro para quitar consignado­s e também ajudar a Caixa a cumprir regras globais de capital

do é permitir que trabalhado­res que pedirem demissão ou forem demitidos por justa causa usem recursos do FGTS para pagar empréstimo­s consignado­s.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, até 10% dos depósitos seriam dados como garantia em troca dos empréstimo­s e o valor seria retido na contrataçã­o com o banco, ficando o trabalhado­r impossibil­itado de movimentá-lo. Hoje, o uso do FGTS como garantia para empréstimo­s consignado­s já existe, mas só para quem for demitido sem justa causa e os bancos só podem executar a garantia quando o contrato do trabalhado­r com o empregador for rompido.

A ideia da equipe do presidente Michel Temer é ampliar ação tomada ainda no governo Dilma para estimular o consumo ao dar mais segurança aos bancos e reduzir os riscos de inadimplên­cia, o que diminuiria as taxas de juros do consignado.

Em outra frente, está em discussão uma nova redução da idade mínima para o saque de dinheiro do PIS/Pasep em 2018. Neste ano, o governo já autorizou o saque de contas inativas do FGTS, que levou à retirada de R$ 44 bilhões do fundo.

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WESLEY RODRIGUES/HOJE EM DIA-12/12/2016 Fies. Uso dos recursos pode amortizar ou quitar dívidas

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