A Avianca enfrenta turbulências
Companhia aérea colombiana sofre com uma greve de pilotos, que já afetou voo de 375 mil passageiros, e uma disputa entre seus proprietários © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ
Hernán Rincón tem planos ambiciosos para a Avianca. O executivo comanda a companhia aérea colombiana depois de ter deixado a direção da unidade de negócios corporativos da Microsoft na América Latina. Agora quer transformar a segunda companhia aérea mais antiga do mundo numa “empresa digital que opere aviões” – usando tecnologia para melhorar a experiência dos passageiros e tornar as operações mais eficientes – e rivalize com a chilena Latam, líder regional do setor. Também espera fechar em breve uma parceria estratégica com a United Airlines, quarta maior aérea americana em número de passageiros.
O problema é que o avanço em direção a esses objetivos entrou em compasso de espera. Uma greve de pilotos, que reivindicam melhores salários e estão parados há mais de um mês, já afetou os voos de 375 mil passageiros.
Para complicar ainda mais a vida de Rincón, está em curso uma disputa judicial entre dois acionistas da Avianca: o empresário boliviano Germán Efromovich e o magnata salvadorenho Roberto Kriete, que havia tempos divergiam sobre como conduzir a companhia.
As coisas azedaram de vez em janeiro, quando Efromovich anunciou a parceria com a United. Kriete entrou com uma ação na Justiça de Nova York contra as duas aéreas, Efromovich, seu irmão José, e a Synergy (empresa por meio da qual os bolivianos controlam a Avianca). O salvadorenho diz que o negócio viola deveres fiduciários e um acordo de acionistas, tendo como verdadeiro objetivo socorrer outros negócios de Efromovich.
Brasil. Segundo a ação judicial, Efromovich teria tomado recursos de um fundo de hedge para auxiliar empresas suas que foram afetadas pela recessão no Brasil. O empréstimo seria garantido por ações da Avianca (o boliviano detém 78% das ações com direito a voto).
Kriete diz que isso motivou uma série de excessos: a companhia teria encomendado 100 aviões à Airbus, o dobro de suas necessidades, para livrar Efromovich de outras obrigações com a fabricante de aviões; duas aéreas menores do empresário boliviano teriam passado a usar a marca da Avianca sem autorização; e o Conselho de Administração da Avianca teria aprovado um empréstimo à Synergy, que em três ocasiões já deu o calote em seus credores.
A Avianca, por sua vez, entrou com uma ação contra Kriete, acusando-o de divulgar segredos da empresa e tentar estragar o negócio com a United, o que levaria à venda da aérea ou obrigaria a Synergy a se desfazer de sua participação. (O acordo de acionistas permite que Kriete venda sua participação com ágio, mas o salvadorenho se recusa a fazer isso, alegando que as ações da Avianca encontram-se depreciadas.)
Rincón não enxerga “mérito algum” nas alegações de Kriete contra a Avianca. Uma auditoria que se estendeu por vários meses confirmou a United como parceira ideal da aérea colombiana: as rotas das duas empresas no continente americano são complementares e ambas pertencem à Star Alliance. Mas o negócio só poderá ser concluído se a disputa entre os acionistas chegar ao fim. Rincón conta com uma decisão favorável da Justiça no mês que vem. Com um acordo entre os dois empresá- rios brigões ele sabe que não pode contar.