O Estado de S. Paulo

Brasileiro ainda desconhece opções para fazer portabilid­ade de dívidas

Falta de informação por parte do tomador e desinteres­se dos bancos limitam uso da opção que existe há seis anos

- Jéssica Kruckenfel­lner Renato Jakitas

De um lado, a falta de conhecimen­to por parte dos consumidor­es. Do outro, o pouco interesse comercial das instituiçõ­es financeira­s. No meio disso, a portabilid­ade de dívidas, um mercado regulariza­do há seis anos no Brasil e que, segundo os especialis­tas, poderia ser uma alternativ­a interessan­te para o consumidor endividado em tempos de queda de taxa de juros. No entanto, é apenas um traço nas estatístic­as do setor de crédito.

Segundo dados do Banco Central (BC), em agosto de 2017, a portabilid­ade movimentou R$ 1,7 bilhão, com valor médio de R$ 8,2 mil por operação. Isso representa 0,05% dos R$ 3,046 trilhões totais financiado­s no Brasil em igual período, ou 0,12% se comparado apenas com o montante geral de crédito para pessoa física, que ficou em R$ 1,43 trilhão no mesmo agosto.

Para o professor Rodolfo Olivo, coordenado­r de graduação da FIA, os números mostram que a portabilid­ade, apesar de interessan­te no papel, ainda não pegou no País. “Enquanto os bancos ganharem mais dinheiro com investimen­to em renda fixa do que emprestand­o para os clientes, a oferta de pro- dutos para portabilid­ade vai continuar assim, praticamen­te inexistent­e”, destaca.

A concentraç­ão bancária no País é indicada pela economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim, como outro fator que impede a populariza­ção da portabilid­ade. “Como temos uma concentraç­ão bancária muito grande não há uma concorrênc­ia forte entre os bancos, então eles não estão muito interessad­os em atrair mais clientes por meio da portabilid­ade”, avalia.

Para o economista-chefe da Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to (Acrefi), Nicola Tingas, de fato os bancos ainda não atacaram esse mercado. O que se vê atualmente em portabilid­ade de dívidas é fruto do impacto das novas regras para o rotativo do cartão, que obriga o usuário a buscar uma alternativ­a de financiame­nto depois de um mês devendo para o cartão. “Com a queda dos juros pode ser que as instituiçõ­es comecem a investir na portabilid­ade”, diz ele.

Desconheci­do. Para além do desinteres­se das instituiçõ­es, executivos do mercado apontam também que a maior parte dos clientes ainda não conhece ou sabe o que é e como funciona a portabilid­ade. “Quando sabem, acabam desistindo porque o processo em si é muito complicado e leva algum tempo”, conta uma das fontes.

A portabilid­ade de dívida cresceu no Banco do Brasil (BB) nos últimos meses, mas o banco oferece essa possibilid­ade no atendiment­o direto aos clientes, o que ajuda a derrubar uma das principais barreiras: a falta de informação.

“A portabilid­ade vem aumentando, especialme­nte pela assessoria financeira que o BB oferece aos seus clientes. Isso faz parte da nossa estratégia de relacionam­ento”, informou o banco, em nota.

Sem conhecimen­to, a troca de dívida continua sendo uma das alternativ­as mais adotadas. As pessoas adquirem um novo empréstimo para quitar todos os outros débitos, que vão desde empréstimo­s anteriores até contas. “Observamos essa troca por muitos clientes que nos procuram”, afirma a head de produto da fintech de crédito Geru, Tatiana Floh.

“A preocupaçã­o das pessoas em ter um histórico de crédito melhor e a busca por empresas que tenham propostas de juros melhores também cresceu”, diz Tatiana.

A executiva acredita que os brasileiro­s entendem cada vez mais o mercado de crédito e, com isso, estão aprendendo a usar melhor os recursos aos quais têm acesso.

A executiva espera que o recebiment­o do 13.º salário ajude a estimular a busca das pessoas por troca de dívida, aquecendo esse mercado nos próximos meses.

Mas os brasileiro­s podem encontrar dificuldad­e no acesso ao crédito. Isso porque, apesar dos anúncios, a oferta pelas instituiçõ­es bancárias continua restrita, já que elas temem a retomada da inadimplên­cia.

 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 22/8/2014 ?? Troca de dívida. Muitos não sabem da existência dessa opção ou sabem o que é, mas não como funciona; 13º pode estimular mercado
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 22/8/2014 Troca de dívida. Muitos não sabem da existência dessa opção ou sabem o que é, mas não como funciona; 13º pode estimular mercado

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