O Estado de S. Paulo

Godard de Hazanavici­us é cômico e patético

Diretor conta que a história de amor do livro de Anne Wiazemsky foi que o motivou; ela morreu no dia 5

- Luiz Carlos Merten

Convidado do Festival do Rio, o diretor Michel Hazanavici­us veio apresentar seu longa sobre Jean Luc Godard, O Formidável. Hazanavici­us sempre foi um diretor comercial. Criou o 007 francês. Com O Artista, estabelece­u-se em outro patamar – sucesso de crítica, prêmio em Cannes, Oscar de direção. Por que Godard? “Não foi nenhum acerto de contas. Li o livro de Anne Wiazemsky e achei que seria muito interessan­te contar aquela história.”

Anne, atriz de Robert Bresson – A Grande Testemunha, de 1966 –, foi mulher (e estrela) de Godard. Tornou-se escritora. Morreu no começo do mês, dia 5. Era godardiana de carteirinh­a, mas não o poupa em O Formidável. Em pleno Maio de 68, e após realizar A Chinesa, Jean-Luc tenta se integrar ao movimento dos estudantes que agita a França. Mas, nas assembleia­s da Sorbonne, Godard, o revolucion­ário do cinema, é chamado de ‘pequeno burguês’. Correndo da polícia, perde os óculos – uma metáfora nada sutil da sua falta de visão. Para completar, revela inesperado ciúme – está mais preocupa- do com a possibilid­ade de estar sendo traído pela mulher que com os confrontos na rua.

Hazanavici­us admite que ficou tocado com o ‘patetismo’ do personagem. Godard, para ele, é meio clown. “Anne ( Wiazemsky) não queria vender os direitos, mas aceitou quando lhe disse que queria fazer uma comédia. E ela gostou.” Positif adorou, até Cahiers du Cinéma ( a revista rival) fez uma crítica elogiosa. O público é que não quis saber. “Encontrei algumas pessoas que me disseram pensar que se tratava de um filme de Godard, não sobre ele.” Hazanavici­us não foge aos problemas de sua fase pós-comercial. The Search foi um desastre de público. O Formidável não está sendo nenhuma maravilha – as receitas talvez melhorem no exterior.

“São coisas que não posso controlar. Conto histórias que me interessam. Com O Artista foi assim. O público é que criou o fenômeno.” E Louis Garrel? O mais nouvelle vague dos atores franceses entrou de corpo aberto no projeto? “Ele conhecia Godard por meio do pai, Philippe. Tinha dúvidas, temia virar uma caricatura, mas aceitou fazer a voz e usar a peruca.” A cena de nu frontal? “A frase que Louis diz é de Godard, não ia perder a piada.” E Godard? Viu o filme? “Não sei nem me interessa.”

 ?? IMOVISION ?? Maio de 68. Godard perdido no movimento estudantil
IMOVISION Maio de 68. Godard perdido no movimento estudantil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil