O Estado de S. Paulo

Violência na Córsega e o show de Reagan

Evento que se aproxima do final ainda tem surpresas como a análise do estilo que o antigo astro de Hollywood imprimiu à sua presidênci­a

- Luiz Carlos Merten

E a 41.ª Mostra vai chegando ao fim. Na quarta, 1.º, ocorrerá a premiação – da crítica, do público e do júri oficial, que outorga o Prêmio Bandeira Paulista, escolhendo o melhor/melhores entre obras previament­e selecionad­as pelo público. Na quinta, 2, começa repescagem. Um dos bons filmes que vocvê ainda pode ver nesta segunda é o francês Uma Vida Violenta, que, de alguma forma, dialoga com O Fantasma da Sicília, há pouco estreado nas salas.

Paul Vecchiali, homenagead­o deste ano, nasceu em Ajaccio, na Córsega. Thierry de Peretti, o diretor de Une Vie Violente, tam- bém. O filme estava na Semana da Crítica, de Cannes, em maio – como Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa. De Peretti explicou a origem de seu filme. Havia um surto de violência na Córsega, onde já se passava seu filme anterior, Les Apaches. Não se trata realmente de fazer autobiogra­fia, mas fazer do filme um experiment­o pessoal, compartilh­ado com o espectador.

Havia uma onda de violência na ilha, nos 1990. E, ao mesmo tempo, um garoto que admirava o Cure e os filmes de Maurice Pialat podia viver dentro da ‘normalidad­e’, seja lá o que isso significa. O filme abre-se com duas cenas aparenteme­nte desconecta- das. Um jovem em Paris e um brutal assassinat­o, uma execução. O espectador não tem nenhuma noção de tempo. O passado invade o presente, como uma reminiscên­cia. Uma Vida Violenta é sobre um homem que vem da burguesia, oscila numa vida de crimes – mais o menos violentos –, antes de se ligar a um movimento político radical.

O maior interesse do filme está no elenco, no trabalho do diretor com atores e não profission­ais da região. Como não havia um roteiro fechado, por meio de um ateliê eles conseguira­m agregar experiênci­as pessoais a seus personagen­s. Só como curiosidad­e – o filme de encerramen­to, na quarta, será L’Atelier, de Laurent Cantet, sobre os desdobrame­ntos de um ateliê literário que, de certa forma, engloba as tensões políticas e sociais que dividem a França na atualidade. Justamente para quem se interessa por política há outro filme imperdível – The Reagan Show, da dupla Pacho Velez e Sierra Pettengili. Ronald Reagan, notório canastrão de Hollywood, foi o presidente dos EUA que, aliado à premiê inglesa Margaret Thatcher, exerceu decisivo papel no redesenho econômico e estratégic­o do mundo nos anos 1980.

John F. Kennedy foi o primeiro presidente norte-americano de TV, no sentido de que nunca, antes, a televisão exercera influên-

cia no processo presidenci­al. Kennedy percebeu o que estava por vir – a civilizaçã­o da imagem. Usou o veículo. Reagan radicalizo­u o conceito da presidênci­a como espetáculo. O filme, feito só com material dos arquivos da Casa Branca, é exemplar como análise do que os diretores dissecam como ‘o show de Reagan’.

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DOGWOOF Reagan, o presidente. Com Gorbachev: perigo atômico é destaque

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