Humberto Werneck
Dançarino Igor Medina foi amarrado em Caxias do Sul, ao se preparar para uma performance liberada pela prefeitura
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No sábado, 28, em Caxias do Sul, Igor Cavalcante Medina, bailarino da Companhia Municipal de Dança da cidade, teve a sua performance confundida com um surto psicótico e foi conduzido até a ala psiquiátrica de um pronto-atendimento 24h, conhecido como Postão.
O artista participava do evento 8.º Caxias em Movimento, organizado pela prefeitura da cidade. Apresentava a performance Fim, ao ar livre, na Praça João Pessoa, quando foi abordado por três guardas municipais e dois socorristas do Samu.
Apesar de ser uma performance autorizada por escrito pela prefeitura, o artista foi levado à força e amarrado em uma maca, na qual foi sedado no percurso até o Postão. A abordagem ocorreu por volta das 11h30 e o bailarino só foi liberado às 19h, quando a médica psiquiatra emitiu um laudo afirmando que Igor estava lúcido e consciente.
A Companhia, que estreou em 1998, nunca viveu uma situação semelhante. A performance abordava questões de violência e exclusão social, associadas ao extermínio de pobres e negros.
Igor vestia o figurino da performance (fios de arame em volta do corpo e um short curto) e declamava um poema na praça no momento da abordagem. Estava sozinho. O bailarino, em choque, decidiu se afastar brevemente de Caxias do Sul, mas ontem voltou aos ensaios na sede da Companhia.
A prefeitura da cidade gaúcha se posicionou nesta segunda-feira, 30, em nota oficial: “A prefeitura de Caxias do Sul informa que está apurando as informações sobre a abordagem ao bailarino da Cia. Municipal de Dança, realizada pela Guarda Municipal. A partir desta segunda-feira, 30, a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social começará a ouvir os relatos dos envolvidos para esclarecer a situação e dar os encaminhamentos necessários. Logo os fatos sejam esclarecidos, a prefeitura voltará a se manifestar oficialmente sobre o caso”.