O Estado de S. Paulo

Humberto Werneck

Dançarino Igor Medina foi amarrado em Caxias do Sul, ao se preparar para uma performanc­e liberada pela prefeitura

- Fernanda Perniciott­i ESPECIAL PARA O ESTADO

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No sábado, 28, em Caxias do Sul, Igor Cavalcante Medina, bailarino da Companhia Municipal de Dança da cidade, teve a sua performanc­e confundida com um surto psicótico e foi conduzido até a ala psiquiátri­ca de um pronto-atendiment­o 24h, conhecido como Postão.

O artista participav­a do evento 8.º Caxias em Movimento, organizado pela prefeitura da cidade. Apresentav­a a performanc­e Fim, ao ar livre, na Praça João Pessoa, quando foi abordado por três guardas municipais e dois socorrista­s do Samu.

Apesar de ser uma performanc­e autorizada por escrito pela prefeitura, o artista foi levado à força e amarrado em uma maca, na qual foi sedado no percurso até o Postão. A abordagem ocorreu por volta das 11h30 e o bailarino só foi liberado às 19h, quando a médica psiquiatra emitiu um laudo afirmando que Igor estava lúcido e consciente.

A Companhia, que estreou em 1998, nunca viveu uma situação semelhante. A performanc­e abordava questões de violência e exclusão social, associadas ao extermínio de pobres e negros.

Igor vestia o figurino da performanc­e (fios de arame em volta do corpo e um short curto) e declamava um poema na praça no momento da abordagem. Estava sozinho. O bailarino, em choque, decidiu se afastar brevemente de Caxias do Sul, mas ontem voltou aos ensaios na sede da Companhia.

A prefeitura da cidade gaúcha se posicionou nesta segunda-feira, 30, em nota oficial: “A prefeitura de Caxias do Sul informa que está apurando as informaçõe­s sobre a abordagem ao bailarino da Cia. Municipal de Dança, realizada pela Guarda Municipal. A partir desta segunda-feira, 30, a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social começará a ouvir os relatos dos envolvidos para esclarecer a situação e dar os encaminham­entos necessário­s. Logo os fatos sejam esclarecid­os, a prefeitura voltará a se manifestar oficialmen­te sobre o caso”.

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