O Estado de S. Paulo

Temer deixa hospital e diz que vai trabalhar de casa.

Planalto envia medida provisória com ajuste fiscal; aliados de Maia, que já atacou instrument­o, e até líderes pedem discussão em projeto de lei

- Daiene Cardoso Igor Gadelha / BRASÍLIA

Mesmo após demonstraç­ões públicas de contraried­ade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o número de medidas provisória­s enviadas pelo presidente Michel Temer, o governo decidiu encaminhar ontem, via MP, um pacote de ajustes para a área fiscal. No início do mês, Maia chegou a anunciar que não votaria mais este instrument­o no plenário da Casa. Neste ano, a Câmara apreciou 25 medidas provisória­s e outras 19 aguardam na fila.

Aliados do presidente da Câmara criticaram ontem a postura do governo. “A estratégia que me parecia melhor para o momento seria buscar a sintonia, numa saída construída em conjunto com a Câmara, e não a imposição de uma Medida Provisória”, afirmou o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB).

Em busca de mais protagonis­mo político para viabilizar seus projetos eleitorais de 2018, Maia tem dado sinais de descolamen­to do governo. Logo após a votação da segunda denúncia contra Temer, na semana passada, Maia afirmou que pretendia priorizar uma pauta própria, com projetos nas áreas econômicas, saúde e segurança.

Aliados de Maia afirmam que ele esperava que, após o desgaste público pela suspensão da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, o Planalto fizesse um gesto que sinalizass­e a construção de saídas conjuntas com a Casa.

A medida provisória é um instrument­o com força de lei que deve ser usado pelo presidente da República em casos de urgência e relevância. A Constituiç­ão brasileira prevê que se não for votada em até 45 dias após sua publicação, a MP tranca a pauta da Casa legislativ­a.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast na semana passada, Maia criticou a edição excessiva de MPs. “O instrument­o da Medida Provisória é um instrument­o autoritári­o. As MPs vêm dadit adur abrasileir­a: dão o direito ao presidente dedar eficácia de leia algo que o povo representa­dona Câmara não participou ”, disse. Procurado ontem par afalar sobre anova MP, Maia, que está em missão oficial a Israel, não se manifestou.

Repercussã­o. O envio de MPs é criticado até mesmo por integrante­s da base governista na Câmara. “Não é o instrument­o mais adequado para a operação legislativ­a. O mais adequado é projeto de lei”, afirmou o deputado Carlos Marun (MS), vicelíder do PMDB na Casa. Para ele, a MP é um recurso que só deve ser usado para decisões ur- gentes. “É preciso ter um diálogo entre o governo e a presidênci­a da Câmara para se chegar a um meio-termo”, disse.

O líder da bancada do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), também criticou a paralisaçã­o da pauta da Casa com a edição de MPs. “É um verdadeiro absurdo. Mesmo que quisessem votar a reforma da Previdênci­a, o governo teria dificuldad­es porque tem essas MPs, a menos que deixassem cair”, disse.

Líder do PSB, o deputado Júlio Delgado (MG), disse que a edição de MP é a demonstraç­ão de que o governo tem medo que o Congresso rejeite o projeto de lei. “É a demonstraç­ão da fragilidad­e total da base porque não tem número (de votos) para aprovar nada. É fraqueza.”

Urgência. O líder do governo na Casa, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), por sua vez, de- fendeu o gesto do governo. “A explicação técnica para envio por MP em vez de projeto de lei é que o pacote fiscal precisa ter efeito imediato, porque ( as medidas) já vão constar do Orçamento.”

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) defende uma negociação entre governo e Congresso sobre o envio de MPs. Ele ressaltou que, no caso do pacote fiscal, era necessário o uso do instrument­o porque as medidas precisam ter validade imediata. “Tem MP que a tramitação dura mais tempo do que projeto de lei com urgência. Agora, a Câmara tem de entrar em acordo com o governo”, justificou.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

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