O Estado de S. Paulo

A ECONOMIA DAS PALAVRAS NA 2ª DENÚNCIA

Deputados fizeram discursos mais curtos do que na votação de abertura do impeachmen­t

- Rodrigo Menegat Rubens Anater ESPECIAIS PARA O ESTADO

Os deputados economizar­am mais palavras na sessão que barrou a continuida­de da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, na semana passada, do que nas ocasiões em que votaram o parecer da primeira e o pedido de impeachmen­t de Dilma Rousseff.

Segundo levantamen­to feito pelo Estado com base nas transcriçõ­es do Departamen­to de Taquigrafi­a da Câmara, foram, em média, 162 caracteres contra 190 caracteres da primeira denúncia e, durante a sessão do impeachmen­t, o número atingiu 314. Além disso, a média dos discursos da base aliada de Temer foi 2,5 vezes mais curta do que a da oposição.

As palavras mais usadas pelos governista­s, de acordo com as transcriçõ­es, foram “emprego”, “estabilida­de” e “cresciment­o”. Já a oposição citou mais os termos “povo”, “quadri- lha” e “corrupção”.

O formato conciso surge enquanto os índices de reprovação de Temer batem recordes. Segundo dados de setembro do Ibope, em pesquisa contratada pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), apenas 3% da população considera o governo Temer bom ou ótimo.

“Os deputados se viram na si- tuação constrange­dora de absolver um presidente muito impopular entre seus eleitores. Tarefa difícil, da qual queriam se desvencilh­ar da maneira mais rápida e discreta possível”, disse o cientista político Maurício Santoro, professor da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

A votação pela abertura do processo de impeachmen­t de Dilma, em contraste, foi realizada em um domingo, quando a maior parte do eleitorado acompanhav­a a sessão pela televisão. “Aqueles minutos de justificat­iva do voto eram uma rara tribuna nacional para muitos deputados, sobretudo os do chamado ‘baixo clero’. Uma oportunida­de única para que eles se mostrassem para todo o Brasil”, afirmou Santoro.

Controle. As votações das denúncias contra Temer também foram marcadas pelo rigor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na hora de controlar o microfone. Diferente- mente do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que presidiu a votação do impeachmen­t em 2016, Maia cortou o som durante alguns discursos.

Para o cientista político Francisco Paulo Jamil Marques, professor da Universida­de Federal do Paraná (UFPR), a atitude do parlamenta­r não é por acaso. “A condução de uma sessão que envolve denúncia contra o chefe do Executivo é sempre algo bem planejado. Logo, cercado de estratégia­s”, afirmou Marques. Cunha era da oposição e um dos articulado­res do impeachmen­t, enquanto Maia é considerad­o aliado de Temer.

“Os deputados se viram na situação constrange­dora de absolver um presidente muito impopular entre seus eleitores.” Maurício Santoro

CIENTISTA POLÍTICO E

PROFESSOR DA UERJ

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–25/10/2017 Tempo. Maia controlou microfone e cortou som na sessão

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