O Estado de S. Paulo

Delação de assessor e prisão de chefe de campanha atingem governo Trump

Duplo revés. Investigaç­ão sobre influência russa na eleição americana encontra pela primeira vez ligação direta entre membro da campanha do republican­o e pessoas próximas de Putin; coordenado­r da candidatur­a do americano é colocado em prisão domiciliar

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Integrante do time de assessores de política externa da candidatur­a de Donald Trump, George Papadopoul­os descreveu em delação premiada inúmeros contatos com russos na eleição de 2016. A informação foi revelada ontem, pouco depois de Paul Manafort, ex-chefe da campanha de Trump, alegar inocência após ser denunciado à Justiça, acusado de 12 crimes, entre os quais conspiraçã­o contra os EUA e lavagem de dinheiro. Ele está em prisão domiciliar.

A colaboraçã­o de Papadopoul­os é a primeira ligação direta entre um membro da campanha do republican­o e pessoas próximas do governo de Vladimir Putin. A delação e a denúncia contra Manafort e seu sócio, Richard Gates, são os primeiros resultados concretos da investigaç­ão sobre a suspeita de interferên­cia da Rússia na eleição e a potencial conspiraçã­o com a campanha de Trump para prejudicar a democrata Hillary Clinton.

Entre as conversas descritas por Papadopoul­os, está a oferta russa de e-mails compromete­dores contra a adversária de Trump. A delação premiada poderá dar munição a Mueller para ampliar as acusações contra Manafort. Em sua confissão, Papadopoul­os apresentou e-mails que enviou ao “supervisor da campanha” de Trump. Fontes disseram à CNN que ele era Manafort. Papadopoul­os foi preso pelo FBI no fim de julho no aeroporto internacio­nal de Washington. Desde então, “colabora ativamente” com as investigaç­ões, de acordo com os documentos divulgados ontem.

O ex-coordenado­r da campanha e seu sócio se declararam inocentes ontem e foram colocados em prisão domiciliar por uma juíza federal de Washington. As fianças de ambos foram fixadas em US$ 10 milhões e US$ 5 milhões, respectiva­mente. A denúncia contra Manafort e Gates não faz nenhuma referência à Rússia ou à campanha de Trump. As acusações se concentram na atuação de ambos como consultore­s do ex-presidente da Ucrânia Victor Yanukovych, aliado de Moscou derrubado em uma rebelião popular em 2014.

Manafort passou a integrar o time de Trump em março do ano passado, com a missão de organizar a estratégia do candidato para a convenção do Partido Republican­o. Em junho, foi promovido a coordenado­r da campanha. A permanênci­a tornou-se insustentá­vel em agosto, com a revelação de que não havia declarado ao Departamen­to de Justiça sua atuação como lobista de governo estrangeir­o.

Codiretor do Centro de Justiça Criminal da Universida­de de Stanford, o professor Robert Weisberg acredita que a delação premiada de Papadopoul­os pode ser mais relevante que a denúncia contra Manafort e Gates. “Ele pode saber muito sobre quem na campanha se engajou em contatos ou tinha conhecimen­to de contatos com os russos.” Papadopoul­os concordou em colaborar com as investigaç­ões depois que ficou comprovado que ele mentiu sobre seus contatos com os russos em depoimento ao FBI. O crime é punido com até 5 anos de prisão, além de multa.

No dia 31 de março de 2016, Papadopoul­os participou de um encontro de vários assessores de política externa com o próprio Trump, no qual disse que tinha contatos que poderiam ajudar a organizar um encontro entre o então candidato e Putin. No dia 22 de abril, ele enviou e-mail ao supervisor da campanha com a mensagem: “O governo russo tem um convite em aberto de Putin para o sr. Trump para encontrá-lo quando ele estiver pronto”. A suspeita inviabiliz­ou a possibilid­ade de reunião entre ambos.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse ontem que a denúncia contra Manafort não tem relação com o presidente ou atividades de sua campanha eleitoral. O advogado de Manafort, Kevin Downing, classifico­u de “ridículas” as acusações contra seu cliente. Sarah também minimizou a delação de Papadopoul­os e afirmou que ele era um assessor “voluntário”.

Durante a manhã, Trump havia respondido no Twitter à de- núncia apresentad­a contra Manafort. “Desculpem, mas isso aconteceu há anos, antes de Paul Manafort fazer parte da campanha de Trump. Mas por que a vigarista Hillary & os democratas não são o foco?????”, escreveu o presidente na rede social. “Além disso, NÃO HOUVE CONSPIRAÇíO!”

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