O Estado de S. Paulo

Terrorista atropela e mata 8 em NY

Ataque aconteceu a poucas quadras do World Trade Center; 11 ficaram feridos

- Ricardo Leopoldo CORRESPOND­ENTE / NOVA YORK Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON / COLABOROU LÚCIA GUIMARÃES

Pelo menos oito pessoas morreram e 11 ficaram feridas depois que o motorista de uma caminhonet­e atropelou ciclistas e pedestres em Nova York. Este é o primeiro atentado com mortos na cidade desde o 11 de Setembro. Cinco dos mortos integravam um grupo de argentinos que estava na cidade para comemorar o 30.º aniversári­o de formatura no ensino mé- dio. O autor do atentado foi atingido por um tiro disparado por um policial e levado a um hospital. O presidente Donald Trump culpou o Estado Islâmico.

Pelo menos 8 pessoas morreram e 11 ficaram feridas quando uma caminhonet­e avançou ontem sobre ciclistas e pedestres no sul de Manhattan, em Nova York, no primeiro atentado terrorista com vítimas fatais na cidade desde o 11 de setembro de 2001. Segundo a polícia, o motorista, de 29 anos, gritou Allahu akbar (Deus é o maior, em árabe) quando saiu do veículo carregando duas armas sem munição real – uma disparava tinta, outra era de ar comprimido.

O atentado ocorreu às 15h05 (17h05 em Brasília), quando o motorista invadiu uma ciclovia ao lado do Rio Hudson. A trajetória de 1,6 quilômetro foi interrompi­da quando o veículo se chocou com um ônibus escolar, a quatro quadras do World Trade Center. Seis pessoas morreram no local e duas, em um hospital.

O governo da Argentina informou que cinco cidadãos de Rosário estão entre as vítimas. Eles estavam em Nova York para celebrar o 30.º aniversári­o de formatura no ensino médio. Um cidadão belga também morreu no ataque.

A região do atentado foi isolada por um cordão a cerca de 100 metros do local da ação. Havia pelo menos 200 policiais no entorno. Cães farejadore­s inspeciona­vam carros parados e, no fim da tarde, dois helicópter­os rondavam a região. Após o ataque, as bicicletas amassadas e quebradas ficaram jogadas na ciclovia. Segundo o New York Times, anotações em árabe foram encontrada­s perto do veículo. Nelas, o autor do ataque jura lealdade ao Estado Islâmico (EI).

Imagens amadoras mostram o terrorista com barba caminhando logo após jogar o veículo sobre as vítimas. Atingido por um policial no abdômen, ele foi preso e levado a um hospital. A polícia não revelou a identidade do autor, apenas sua idade, mas fontes da polícia afirmaram a meios locais que ele é do Usbequistã­o.

“Há uma sensação de choque”, disse ao Estadão/Broadcast a enfermeira Patricia Logan, que é natural da Flórida e estava em Nova York para uma entrevista de emprego. Ela contou que estava saindo do Memorial do 11 de Setembro quando viu a aglomeraçã­o. “Eu pensei que era alguma festividad­e de Halloween. Mas não, é tudo real. Infelizmen­te, esses fatos assustam porque nos EUA eles vêm se repetindo em diversas cidades.”

A dona de casa Hellen Dave mora com a família a dois quarteirõe­s da cena. Por volta de 15h15 (17h15 de Brasília) ela recebeu uma mensagem de texto de uma vizinha que ouviu tiros. “Desci correndo as escadas, em pânico, para buscar minha filha na escola. Cheguei no colégio e ele estava fechado. Fui informada que todas as crianças estavam salvas, mas que ninguém poderia entrar”, comentou.

A avenida nova-iorquina onde houve a colisão é cenário de intensa renovação urbana e va- lorização imobiliári­a, com o parque Highline, que hoje atrai mais visitantes do que o Central Park. As sedes de alguns dos grandes bancos dos EUA, como o Goldman Sachs, ficam no bairro. O presidente Donald Trump reagiu com mensagens no Twitter ligando o crime ao EI ( mais informaçõe­s na página A12).

“Esse foi um ato de terror, um ato particular­mente covarde de terror”, disse o prefeito Bill de Blasio. O governador do Estado de Nova York, Andrew Cuomo, descreveu o motorista como um “lobo solitário”. Segundo ele, não havia nada que sugerisse uma ampla conspiraçã­o. Esse é o primeiro ataque com veículos nos EUA a deixar vítimas fatais. Ações do tipo se multiplica­ram a partir de meados do ano passado, quando um tunisiano usou um caminhão para matar 84 pessoas em Nice, na França.

Os EUA registrara­m dois casos antes, em 2006 e novembro de 2016, mas eles não deixaram mortos. O último grande atentado com veículo ocorreu em agosto na Espanha, quando uma van avançou sobre a multidão em área turística de Barcelona. Treze pessoas morreram e 100 ficaram feridas.

O ataque aconteceu poucas horas antes de nova-iorquinos ocuparem as ruas da cidade na tradiciona­l celebração de Halloween. De Blasio e Cuomo defenderam que os moradores da cidade não mudem os seus hábitos. “Nós fomos testados antes como cidade muito perto de onde ocorreu a tragédia de hoje”, disse De Blasio. “Como novaiorqui­nos, nós não desistimos diante desse tipo de ações. Nós vamos responder como sempre. Nós não vamos nos intimidar”, afirmou o prefeito. “Para os nova-iorquinos: sejam nova-iorquinos, vivam suas vidas e não deixem que eles nos mudem ou nos detenham”, ressaltou Cuomo.

A população seguiu a recomendaç­ão. No sul de Manhattan, sob presença policial ainda mais intensa, milhares foram à parada do Halloween no bairro do Village, uma tradição desde 1973. Após o 11 de Setembro, a celebração de Haloween também foi mantida.

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BRENDAN MCDERMID/REUTERS Medo de volta. Mulher é socorrida após atentado; autoridade­s defenderam que moradores mantenham rotina
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CHANG W. LEE/THE NEW YORK TIMES Pistas. Investigad­ores no local onde caminhonet­e se chocou com ônibus escolar; é primeiro atentado com veículo que deixa mortos nos Estados Unidos
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