O Estado de S. Paulo

Senado muda projeto de lei ‘anti-Uber’

Transporte. Parlamenta­res excluíram obrigatori­edade do uso de placa vermelha e imposição de que só o dono do veículo pode dirigi-lo; estudo de órgão de defesa econômica diz que atuação de apps ajuda consumidor. Taxistas criticam texto aprovado

- Julia Lindner Renan Truffi / BRASÍLIA COLABOROU LUCI RIBEIRO

O Senado flexibiliz­ou o projeto de lei que regulament­a o transporte individual de passageiro­s. Foram retiradas do texto a regulação do serviço pelas prefeitura­s e a obrigatori­edade de placas vermelhas, entre outras medidas considerad­as prejudicia­is às empresas de transporte por aplicativo. O texto volta para análise na Câmara.

Com mudanças favoráveis às empresas de transporte privado de passageiro­s, o Senado aprovou na noite de ontem, por 45 votos a 10, o projeto que regulament­a empresas como Uber, Cabify e 99. Como a proposta sofreu alterações, terá de voltar para a Câmara dos Deputados, onde foi aprovada em abril.

O Projeto de Lei da Câmara 28/2017 era visto como favorável aos taxistas. Respeitand­o acordo firmado em reunião de líderes da Casa à tarde, os parlamenta­res retiraram, por meio da aprovação de duas emendas, a obrigatori­edade do uso de placas vermelhas e também a imposição de que apenas o dono do veículo pode dirigi-lo.

Foram retirados ainda outros dois trechos: um que possibilit­ava à prefeitura regulament­ar o serviço – o município ficaria com a fiscalizaç­ão – e outro que restringia o veículo a circular só na cidade onde foi registrado. Segundo as empresas, os artigos removidos praticamen­te impediriam o funcioname­nto dos apps no País. Já os taxistas dizem que as mudanças tornariam a concorrênc­ia mais justa.

O senador Eduardo Lopes (PRB-RJ), que relata a proposta, disse ter buscado uma mediação entre as empresas e os taxistas. “O aplicativo será obrigado a mandar para a prefeitura a sua base de dados, o seu cadastro. A prefeitura vai ter acesso a quantos são os motoristas do Uber, onde estão e quem são. Se houver dúvida do poder público em relação a algum ponto, ele entra em contato com o Uber e decide se a pessoa sai do serviço ou continua”, disse.

O Palácio do Planalto tentou articular ontem para que a votação fosse adiada, mas não teve sucesso. Em conversas reservadas, governista­s admitem que o presidente Michel Temer não quer entrar em conflito com os taxistas nem com os responsáve­is pelos aplicativo­s. O objetivo de Temer era deixar o projeto parado.

Embora aliado de Temer, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), acelerou na semana passada a tramitação da proposta e evitou que ela tivesse de passar por outras cinco comissões, como previsto.

Ontem, após a votação, Euní- cio disse que falará com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que ele dê celeridade ao projeto. “Esta matéria, ao ser aprovada aqui, passa a ser responsabi­lidade da Câmara”, afirmou Eunício.

Após a votação, o Uber disse que o Senado “ouviu as vozes dos mais de 500 mil motoristas parceiros e dos 17 milhões de usuários”. Já o Cabify disse que a Casa “se demonstrou sensível à população”. Para a 99, foi uma “vitória para a sociedade”.

Presidente da Associação Brasileira das Associaçõe­s e Cooperativ­as de Motoristas de Táxi, Edmilson Americano afirmou que a votação no Senado foi con-

fusa. Segundo ele, o acordo era para, por emendas, alterar só os dispositiv­os que tratavam da placa vermelha e da propriedad­e do veículo, sem que o texto voltasse para a Câmara.

Ao longo do dia, a sessão foi tensa, com manifestaç­ões das duas categorias. Taxistas levaram até trios elétricos à Esplana- da. O relações-públicas do Uber, Fabio Sabba, chegou a ser atingido com um soco no Senado. A Polícia da Casa não identifico­u o autor da violência.

Estudo. O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) concluiu em um estudo que a entrada de aplicativo­s de transporte se mostra, em sua maioria, benéfica ao consumidor. Isso porque aumenta a concorrênc­ia. Por isso, alerta, regulament­ações muitos restritiva­s podem ter efeitos negativos.

Segundo o órgão, as plataforma­s corrigiram falhas no setor sem necessidad­e de regulação, permitindo ao consumidor ter acesso prévio a informaçõe­s da corrida, como preço previsto e percurso sugerido.

Por outro lado, as empresas de aplicativo têm sido acusadas na Justiça de desrespeit­arem a legislação trabalhist­a e não oferecerem condições adequadas de trabalho. No Brasil, o Uber foi pioneiro na oferta de serviços do tipo, iniciando operações em maio de 2014, no Rio – hoje está em 70 cidades. Já o táxi está em 4,6 mil municípios – de 5.570 cidades no País./

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ADRIANO MACHADO/REUTERS Reação. Motoristas de aplicativo­s celebraram as alterações

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