O Estado de S. Paulo

‘PSDB desses caras não é o meu PSDB’

Presidente interino da sigla, Tasso critica reação de deputados pró-Aécio e pró-Temer em reunião na qual debateram contrataçã­o de agência

- Igor Gadelha Julia Lindner Renan Truffi / BRASÍLIA

Em mais um episódio da crise interna no PSDB, deputados da ala que defende o apoio do partido ao governo Michel Temer bateram boca com o presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), que é favorável ao rompimento. A briga ocorreu durante encontro da bancada tucana na Câmara. Segundo dois deputados que não quiseram se identifica­r, houve ameaças de agressão. “Esse PSDB desses caras não é o meu PSDB”, disse Tasso.

A reunião foi convocada pelo líder do PSDB na Casa, deputado Ricardo Tripoli (SP), para que a empresa Ideia Big Data fizesse uma exposição sobre o plano de reestrutur­ação de comunicaçã­o do partido nas redes sociais. A empresa foi contratada por Tasso recentemen­te.

A discussão começou quando os deputados Domingos Sávio (MG), Paulo Abi-Ackel (MG) e Giuseppe Vecci (GO) criticaram a contrataçã­o da empresa. Os três parlamenta­res são aliados do senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da sigla.

A contrataçã­o gerou reações negativas porque o proprietár­io da empresa, Moriael Paiva, foi responsáve­l pela campanha do governador Fernando Pimentel (PT) em 2014, que derrotou a candidatur­a do tucano Pimenta da Veiga, apoiado por Aécio, ao governo de Minas.

“Coloquei que era um absurdo contratar uma empresa que fez uma campanha com ataques que considero criminosos ao PSDB de Minas. Mostrei que era inaceitáve­l contratar uma empresa dessas”, disse Sávio.

O parlamenta­r afirmou que a empresa tem ligações com a agência de propaganda Pepper. Contratada pela campanha eleitoral da presidente cassada Dilma Rousseff em 2014, a Ideia Big Data atualmente é investigad­a pela Operação Acrônimo por suspeita de lavagem de dinheiro.

O deputado mineiro acusou ainda o dono da empresa de fa- zer postagem nas redes sociais atacando tucanos. “O dono dessa empresa vem fazendo, por exemplo, postagens com ataque ao governador Geraldo Alckmin (de São Paulo)”, afirmou.

Os ânimos se exaltaram quando Vecci questionou Tasso se ele será candidato a presidente do PSDB na eleição interna mar- cada para dezembro. “O Tasso parece que ficou nervoso com essa pergunta, mas não quis responder. Nesse momento, nosso tom de voz e do Tasso aumentou”, contou Sávio.

Integrante da ala oposicioni­sta, o deputado Daniel Coelho (PE) confirmou que o clima da reunião ficou ruim e alguns deputados se levantaram para tentar pedir que Sávio, Vecci e AbiAckel parassem de “tumultuar”. Após a confusão, os três deixaram a reunião.

‘Delirante’. “Foi uma reação delirante de Minas e Goiás. Não entendi, uma coisa atabalhoad­a”, disse Tasso sobre o episódio, após a reunião.

O senador afirmou que, enquanto for presidente interino, continuará “até o fim com o projeto de reestrutur­ar o PSDB”. Segundo Tasso, será mantida a contrataçã­o do publicitár­io, que ele diz ter conhecido como assistente do ex-ministro falecido Sérgio Motta e que atuou em campanhas do PSDB, como a do senador José Serra ao governo de São Paulo e a do atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, ao Senado.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Tucanos. Senadores Tasso Jereissati (CE) e Aécio Neves (MG) durante sessão no plenário da Casa

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