O Estado de S. Paulo

Desafio de ser centro

- José Álvaro Moisés PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

OBrasil vive uma grave crise de liderança política e, a seu modo, o PSDB tem parte nisso. A pouco menos de um ano das eleições, o partido esbanja as consequênc­ias negativas de suas divisões internas e tarda em assumir o papel que a crise de seus competidor­es lhe oferece de bandeja. Nem PT nem PMDB têm condições éticas e políticas para se reapresent­ar como alternativ­a para tirar o País da crise, o que torna invejáveis as chances do PSDB. Mas ele precisa estar unido e preparado para aproveitá-las. Estará?

É difícil responder com base no cenário atual do partido. O problema não é que João Doria frustre os que o elegeram para prefeito e queira atropelar a candidatur­a do governador Geraldo Alckmin à Presidênci­a. O problema é que, tanto nessa questão, como na que se refere à participaç­ão do partido no governo do PMDB, a impressão que se tem é de que faltam critérios e regras claras capazes de apontar o rumo político que o partido propõe ao País.

O vácuo deixado por outros partidos tem de ser preenchido por propostas concretas para resolver os problemas do País e para livrar-nos do flagelo da corrupção; mas até agora os indícios nesse sentido são escassos. Um partido que ambiciona voltar a liderar o País precisa demonstrar aos seus apoiadores que pode enfrentar unido e democratic­amente as suas diferenças internas. E, até recentemen­te, as prévias defendidas por Alckmin pareciam apontar para isso, desde que antecedida­s por amplo debate público em torno dos projetos dos candidatos. Mas um partido realmente democrátic­o talvez devesse ir mais longe e, por exemplo, se inspirar nas primárias americanas que mobilizam multidões.

No cenário que evolui para incluir a ameaça de duas candidatur­as populistas, o PSDB tem o desafio de se constituir na alternativ­a viável de centro, crítica das aventuras irresponsá­veis dos governos ditos de esquerda do PT e, ao mesmo tempo, de costas para a opção autoritári­a que olha com bons olhos a ditadura. Mas, para fazer isso, o partido precisa se unir e focar energia e ação, não em lutas intestinas que nada significam para seus eleitores, mas no que quer realmente propor ao Brasil.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil