O Estado de S. Paulo

Governo federal critica Estados por mau uso de verba para cadeias

Ministério repassou R$ 1,2 bi para reforma ou construção de presídios, mas se queixa de lentidão e prestação de contas

- BRASÍLIA /VERA ROSA, RICARDO ARAÚJO E CYNEIDA CORREIA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Levantamen­to do Ministério da Justiça mostra que os Estados não aplicaram como deveriam os recursos enviados pelo governo federal, no fim de dezembro de 2016, para construção e reforma de presídios, além da compra de equipament­os. Além disso, a União não tem controle sobre o que foi feito com o dinheiro, uma vez que muitos governador­es não prestaram informaçõe­s.

“Nenhum Estado fez o projeto completo elaborado pelo Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen)”, afirmou o ministro da Justiça, Torquato Jardim. O governo repassou R$ 1,2 bilhão aos Estados e ao Distrito Federal, no fim do ano passado. Na repartição da verba, cada um ficou com R$ 44,7 milhões. Apenas o Ceará ainda aguarda o cumpriment­o de exigências para o recebiment­o. A transferên­cia de valores para a Bahia chegou apenas neste mês por questões legais.

O dinheiro vem do Fundo Penitenciá­rio Nacional (Funpen), que é sustentado por arrecadaçã­o de impostos. O problema é que os Estados, até agora, não cumpriram sua parte para resolver a crise de segurança pública. “Houve também aqueles que fizeram aplicação diferente do que havia sido previsto”, disse Torquato.

Ao participar, na sexta-feira passada, do Encontro de Governador­es pela Segurança e Controle das Fronteiras e do Narcotráfi­co, em Rio Branco, o ministro expôs as dificuldad­es com todas as letras. Disse que seis Estados não apresentar­am projeto arquitetôn­ico para construção dos presídios, mas usaram o dinheiro. Outros oito não tinham nem projeto nem gasto e cinco mostraram projeto parcial, mas teve despesas. Ainda há outras situações: uma proposta não foi aprovada, um Estado exibiu gasto em atividade diversa da previsão legal e outros dois não apresentar­am projeto, gasto nem conta específica.

“Este resumo constrange, por certo, mas está documentad­o”, insistiu Torquato. De acordo com o relatório do Ministério da Justiça, prestações de contas que deixam a desejar foram encontrada­s em Estados como o Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Roraima, entre outros.

Após enfrentar uma série de rebeliões, o Rio Grande do Norte prevê a construção de dois presídios (Afonso Bezerra e Alcaçuz), que abririam 1.368 vagas. O primeiro projeto está “em fase de contrataçã­o”, mas o plano arquitetôn­ico não foi aprovado pelo Depen. “De 2008 para cá, o Brasil deveria ter construído 42 mil vagas nos presídios, mas até agora foram apenas 1,2 mil”, lamentou Tor- quato Jardim.

Na lista das ações de segurança propostas pelo governo consta, ainda, a construção de cinco penitenciá­rias federais. Até agora, porém, apenas o município de Charqueada­s, no Rio Grande do Sul, aceitou a oferta

Projetos. A Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania do Rio Grande do Norte, responsáve­l pela administra­ção das unidades prisionais, informou, em nota, não ter recebido “qualquer tipo de comunicado oficial do Ministério da Justiça” com relação às críticas feitas por Torquato. A pasta também assegurou não ter obtido resposta oficial do Depen quanto à execução dos projetos de presídios no Estado.

Em Roraima, a Secretaria da Justiça destacou que o novo presídio a ser construído no Estado – com recursos do Fundo Penitenciá­rio, administra­dos pelo ministério – tem o projeto-base de edificação elaborado e doado pelo Depen, dispensand­o a análise da pasta. O governo do Rio Grande do Sul não comentou o assunto.

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JOSEMAR GONCALVES/REUTERS–19/1/2017 Rio Grande do Norte. Mesmo com massacre no presídio de Alcaçuz, o Estado não começou construção de nova cadeia

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