Casos de sífilis crescem 27,9% no País
Ministério da Saúde lançou plano para conter doença com foco em grávidas; só 37% iniciam tratamento no primeiro trimestre da gestação
O Ministério da Saúde anunciou ontem um plano de ação para tentar reduzir o avanço da sífilis no Brasil. No ano passado, a doença, sexualmente transmissível alcançou níveis epidêmicos e continua a crescer. Entre 2015 e o ano passado, o número de registros entre adultos aumentou 27,9%, passando de 68.526 para 87.593 casos.
Entre gestantes, o crescimento foi de 14,7%. A forma congênita, quando a infecção é transmitida da gestante para o bebê ainda no útero, também aumen- tou, mas de forma menos expressiva: 4,7%. Nas duas últimas décadas, já causou a morte de mais de 2.100 bebês.
A estratégia anunciada ontem reforça ações lançadas no ano passado, quando um pacto para reduzir os casos entre gestantes, seus bebês e parceiros – e também entre a população adulta em geral – foi lançado pelo governo. A medida visava a aumentar a testagem e o início precoce do tratamento.
Atualmente, cerca de 37% das gestantes iniciam o tratamento da doença no primeiro trimestre da gravidez. O porcentual ainda é considerado baixo, uma vez que a taxa de mortalidade de bebês que adquiriram a doença da mãe, ainda no útero, é quase 13 vezes maior do que a meta traçada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No País, a cada mil crianças nascidas, 6,8 morrem pela doença. A meta de eliminação da sífilis é de que essa relação não ultrapasse 0,5 por 1 mil nascidos vivos.
“A sífilis é uma doença negligenciada tanto pelo profissional de saúde quanto pela população”, diz a diretora do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken.
Segundo ela, essa situação precisa mudar rapidamente. “A sífilis mata bebês, provoca abor- tos e, no caso de adultos, pode provocar lesões no cérebro e problemas nos ossos.”
Para tentar conter esse avanço, o governo promete comprar 3 milhões de doses de medicamentos para gestantes e para a população adulta, quantidade suficiente para atender um ano da demanda. O ministério deve fazer ainda uma campanha permanente de prevenção. A prioridade será dada para 100 cidades que apresentam o maior número de casos da doença. A estratégia passa ainda pelo treinamento de profissionais de saúde.
Ministro da Saúde, Ricardo Barros resistiu em falar em epidemia, como fez no ano passa- do. Segundo ele, agora a “situação está controlada”.
Avanço. Entre 2010 e 2016, casos de sífilis congênita praticamente triplicaram no País. Há sete anos, 6.946 infecções foram contabilizadas e a projeção para este ano é de 17.818 casos. “Por enquanto, não falamos em queda de casos, mas redução no ritmo do avanço”, afirma Adele, do Ministério da Saúde.
De acordo com ela, vários fatores explicam o avanço da doença, como a redução do uso de preservativos e a falta de um medicamento para combater a doença durante a gestação, que é aplicado de forma injetável.